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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

2.7.08

Afinal não há petróleo no Beato, apenas primárias do Bloco Central entre Obama de Sousa e Hilary Leite




Depois das homilias de Marcelo e Vitorino, ontem e hoje, tivemos duas sintomáticas conversas em família de Hilary Ferreira Leite e de Obama Pinto de Sousa, neste arranque das primárias do nosso Bloco Central, a que, outrora, demos o nome de União Sagrada. Ambas glosaram a presente alteração anormal das circunstâncias, com muito petróleo, muitas taxas de juro e pouca crise alimentar. Sócrates, com o estadão do Terreiro do Paço como cenário de fundo, foi todo ele muito marquês, num exercício de politiqueirice, criticando verbalmente a politiqueirice, sic rebus, sic stantibus.

Sem qualquer acaso psicanalítico, substituiu Portugal pelo país, assumiu que tem encontros imediatos com o bem comum, situando-o na respectiva consciência e repetiu o "soundbyte" do ritmo reformista de modernização do país, mas ajudando quem precisa de ajuda, usando esse novo bacalhau a pataco que é não gastarmos nadas em obras, porque elas serão feitas por privados, os quais ficam com esse insignificante das concessões. Por enquanto, ainda não anunciou a privatização das praias do domínio público marítimo, para transformarmos as areias em abonos e família e em incentivos à gravidez.



Apenas se confirma que, depois das vacas gordas de um estado de graça feito de "porreiro, pá!", lá nos vamos enredando nas vacas magras, onde o "pá" é o inspirador do novo discurso maneleiro do "país de tanga". O que Sócrates não conseguiu disfarçar foi o tom de monólogo, feito de muitas vacas sagradas, dado que a conversa parecia um ditado, levado a cabo através de uma operação de conversão de muitos "tracks" de um "mini-disk", cuja versão de fotonovela já conhecíamos nos palanques inaugurativos, feitos para propaganda de telejornal.

De qualquer maneira, para além da ausência da palavra e da ideia de Portugal, também desapareceram coisas como os cidadãos e os indivíduos, dado que se restauraram apenas as células do velho corporativismo das "famílias e das empresas" e das "empresas e das famílias", entidades que, afinal, voltam a participar estruturalmente na vida da nação. Por outras palavras, em tempo de vacas magras, apenas a abstracção das vacas sagradas, para que o contribuinte e o eleitor não reparem que são eles que pagam estes pilares da concessão da ponte do tédio, ainda sem buzinão...