Aqui, diante do Pico, por cima da Praia de Porto Pim, para, amanhã poder pensar a Europa e as autonomias em público. Longe do ritmo capitaleiro e dos joguinhos de poder, naquela sua mais recente versão da conspiração de avós e netos, ou de bisavós e bisnetos, neste país que promove a coligação de Mário Soares, Manuel de Oliveira e tantos outros ausentes-presentes, com os jotas predadores do Bloco Central, que acabam todos enredados por esses gestores sessentões que assumem a birrenta sobranceria dos micro-autoritarismos sub-estatais que, ao ritmo das epidemias borbulhentas, continuam a traduzir em calão o reformismo dos orgulhosamente sós. Aqui, em pleno canal, sem mau tempo, sinto o azul e a maresia, longe desses cogumelos bafientos que apenas devem merecer o nosso desprezo, mesmo quando as respectivas garras nos arrepelam o bolso e o dorso.
Cada ilha é um mundo,
comunitário, profundo,
e, no fim de todas as ruas,
onde a terra e o ar se confundem,
há um pedaço de mar
(um leve chumbo,
de fundo esverdeado).
Há gaivotas, barcos,
lonas e telas.
Também há mulheres de relva
e o desejo de partir,
para vir meu regressar.
Atlântico,
mar imenso,
imaginário,
do qual pensamos ser o rosto,
presos por um pilar de pedra
ao próprio centro da terra.
A lava empedernida,
exposta à ventania,
e o longo cais de terra porosa
repleto de navios,
onde vou olhando, ao longe,
o que, outrora, procurei sonhar
e que ainda não achei.
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