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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

22.6.08

Por cima da Praia de Porto Pim, sem mau tempo no canal


Aqui, diante do Pico, por cima da Praia de Porto Pim, para, amanhã poder pensar a Europa e as autonomias em público. Longe do ritmo capitaleiro e dos joguinhos de poder, naquela sua mais recente versão da conspiração de avós e netos, ou de bisavós e bisnetos, neste país que promove a coligação de Mário Soares, Manuel de Oliveira e tantos outros ausentes-presentes, com os jotas predadores do Bloco Central, que acabam todos enredados por esses gestores sessentões que assumem a birrenta sobranceria dos micro-autoritarismos sub-estatais que, ao ritmo das epidemias borbulhentas, continuam a traduzir em calão o reformismo dos orgulhosamente sós. Aqui, em pleno canal, sem mau tempo, sinto o azul e a maresia, longe desses cogumelos bafientos que apenas devem merecer o nosso desprezo, mesmo quando as respectivas garras nos arrepelam o bolso e o dorso.


Cada ilha é um mundo,
comunitário, profundo,
e, no fim de todas as ruas,
onde a terra e o ar se confundem,
há um pedaço de mar
(um leve chumbo,
de fundo esverdeado).
Há gaivotas, barcos,
lonas e telas.
Também há mulheres de relva
e o desejo de partir,
para vir meu regressar.
Atlântico,
mar imenso,
imaginário,
do qual pensamos ser o rosto,
presos por um pilar de pedra
ao próprio centro da terra.
A lava empedernida,
exposta à ventania,
e o longo cais de terra porosa
repleto de navios,
onde vou olhando, ao longe,
o que, outrora, procurei sonhar
e que ainda não achei.