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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

30.9.08

Neste Portugal dos pequenitos com a mania das grandezas, custa muito ser homem livre...



No dia seguinte à pequena Grande Depressão, o capitalismo global vai nacionalizando através da injecção de fundos no rabo da banca, numa terapêutica sem prévia vacina. Os utópicos que, dantes, discursavam sobre a chegada da felicidade globalizadora, mudaram o bico ao prego e proclamam agora o fim da história de uma era dita liberal. Por mim, apeas me apetece saudar a democracia norte-americana, onde os partidos não obedeceram a presidentes, governos, candidatos a presidente e directórios partidários. Obedeceram aos mandatos que receberam do povo, mesmo que tenham cometido erros. Julgo que na democracia da América ainda vigoram alguns dos princípios básicos das revoluções atlânticas, entre os quais se inclui o de poderem os cidadãos criticar o chefe de Estado, o chefe de governo, o chefe de partido, bem como todos os que ascenderam ao poder em disputa democrática. Em muitos segmentos da nossa Bielochina, quem lá chega acima, pela concorrencialidade de opções eleitorais, mesmo que seja o pequeno poleiro de uma capoeira de quintal, tem o dever de copiar as regras da democracia do todo. Infelizmente, esquecem-se que o hábito não faz o monge e que nenhuma cultura totalitária o deixa de ser só porque meteu um verniz emprestado pela vontade de poder, o tal  poder pelo poder, onde há actores que, para o exercerem, admitem o assassinato do outro.

No dia em que o semanário O Diabo publica uma entrevista que já aqui divulguei, tenho de tomar pessoalíssimas decisões de encruzilhada, das tais que podem marcar o resto dos meus dias, nos quais quero continuar a viver como penso e onde, neste tempo de homens lúcidos, quero continuar a ter a lucidez de ser ingénuo, sem pensar como, depois, irei viver. Neste Portugal dos pequenitos com a mania das grandezas, custa muito ser homem livre, à maneira dos estóicos, dos franciscanos ou do humanismo, renascentista ou iluminista, desses que vivem cada momento como se ele fosse o último. Tentarei ser fiel àquela ética de convicção que sempre foi inimiga da dita ética de responsabilidade dos neomaquiavélicos e quejandos..