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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

28.9.08

As várias Cortes daqueles animais que são todos iguais, mas onde há alguns mais iguais do que outros

Neste tempo de tudo ser véspera, as novas são o decadente mais do mesmo, com Sócrates a receber Hugo Chávez e muitas outras pequenas notas de rodapé de um dia a dia que nem registos deixará no médio prazo. Politicamente, interessa-nos mais o Obama do que a Manuela Ferreira Leite e o Bush, do que o Jerónimo de Sousa, dado que talvez não mereça hermenêutica o livro de Marques Mendes ou os esporádicos artigos de Menezes de Gaia. A medida da falta de autenticidade deste poder tem a ver com as casas para pobrezinhos com a autarquia capitaleira brindou a Corte das várias Cortes daqueles animais que são todos iguais, mas onde há alguns mais iguais do que outros, nos "jobs for the boys", nos "boys for the jobs" e agora na rica casinha de renda limitadíssima para amigos e amiguinhos, incluindo artistas e jornalistas, assim se elevando a cunha à categoria de pouca vergonha. Porque não se trata de PS contra PSD, ou de CDS contra outros tantos, mas de todos contra esses alguns que continuam a mais clássica das privatizações de bens públicos, à boa maneira dos devoristas.

Julgo que é quase impossível construir um Estado de Direito neste permanecente feudalismo, onde quem pensa ter conquistado o poder o vai fragmentando em muitas quintarolas, onde a lei é uma para os amigos e outra para os adversários e os indiferentes. Vale-nos que temos uma expedita administração da justiça em nome do povo que vai imediatamente procurar crimes quando eles já estão prescritos, e continuamos sem assumir que a questão é, acima de tudo, moral e cultural, numa terra onde continua a vigorar o bem pregas frei tomás e a moral do sapateiro de braga, porque enquanto o pau vai e vem folgam as costas...