Que prazer, cumprir este dever de ser professor! Obrigado, Timor, estou a nascer de novo!
Hoje foram quatro horas de aulas. Que prazer cumprir este dever, na modéstia destas instalações, onde os contínuos que abrem as portas são os próprios professores, onde os contínuos que preparam as salas são os próprios alunos e professores, onde a paixão de aprender e ensinar se vive em comunidade, sem que tenhamos de receber lições abstractas de gestão motivacional, emitidas pelo tecnocrata trinta e três, da avaliação três mil e quinhentos, vindas de quem não faz da vida de professor uma missão de amá-la ou largá-la. Que prazer cumprir este dever inscrito na ciência dos actos do homem enquanto indivíduo, expatriando-me nas raízes da minha própria civilização e confirmando que todas as civilizações verdadeiramente universais são filosoficamente contemporâneas. Que prazer não ensinar nada de novo, mas repetir parcelas de aulas de mestre Platão e sugerir as leituras de mestre Aristóteles, especialmente para povos que também tiveram Platão e Aristóteles, mas aos quais apagaram a memória. Que prazer dizer nação como comunidade das coisas que se amam, dizer Estado como libertação, onde o monopólio da violência legítima ainda sonha coincidir com a justiça. Que prazer dizer que a democracia é aquele regime que permite golpes de Estado sem efusão de sangue, como ensinava Karl Popper, mesmo quando as identidades partidárias ainda estão ao rubro, à procura da necessária institucionalização dos conflitos. Que prazer, pensar que vou ensinar, quando afinal apenas me ajudei a aprender. Sabe tão sentir a escola como espaço de liberdade e correr nos intervalos para a sala colectiva dos professores, preparando os papéis, com pensamento e entusiasmo, com honra e com inteligência. Que prazer a liberdade de ensinar e de aprender!
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