a Sobre o tempo que passa: Que prazer, cumprir este dever de ser professor! Obrigado, Timor, estou a nascer de novo!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

20.10.08

Que prazer, cumprir este dever de ser professor! Obrigado, Timor, estou a nascer de novo!


Hoje foram quatro horas de aulas. Que prazer cumprir este dever, na modéstia destas instalações, onde os contínuos que abrem as portas são os próprios professores, onde os contínuos que preparam as salas são os próprios alunos e professores, onde a paixão de aprender e ensinar se vive em comunidade, sem que tenhamos de receber lições abstractas de gestão motivacional, emitidas pelo tecnocrata trinta e três, da avaliação três mil e quinhentos, vindas de quem não faz da vida de professor uma missão de amá-la ou largá-la. Que prazer cumprir este dever inscrito na ciência dos actos do homem enquanto indivíduo, expatriando-me nas raízes da minha própria civilização e confirmando que todas as civilizações verdadeiramente universais são filosoficamente contemporâneas. Que prazer não ensinar nada de novo, mas repetir parcelas de aulas de mestre Platão e sugerir as leituras de mestre Aristóteles, especialmente para povos que também tiveram Platão e Aristóteles, mas aos quais apagaram a memória. Que prazer dizer nação como comunidade das coisas que se amam, dizer Estado como libertação, onde o monopólio da violência legítima ainda sonha coincidir com a justiça. Que prazer dizer que a democracia é aquele regime que permite golpes de Estado sem efusão de sangue, como ensinava Karl Popper, mesmo quando as identidades partidárias ainda estão ao rubro, à procura da necessária institucionalização dos conflitos. Que prazer, pensar que vou ensinar, quando afinal apenas me ajudei a aprender. Sabe tão sentir a escola como espaço de liberdade e correr nos intervalos para a sala colectiva dos professores, preparando os papéis, com pensamento e entusiasmo, com honra e com inteligência. Que prazer a liberdade de ensinar e de aprender! 

PS1: Já sei dos resultados das eleições regionais dos Açores. SMS amigo logo mos comunicou, para além de me enviar esta reflexão sobre a soberania viral dos meus actuais vizinhos. Para quem "in loco" sentiu a pré-campanha, nada de estranhar. Louvo a parte da nova lei eleitoral que reforçou o pluralismo partidário. Um abraço especial para o deputado do Corvo! 

PS2: Nem reparei, como no silêncio destas noites tropicais, passei horas e horas a fazer a revisão final do texto da minha "Crónica do Pensamento Político". Remeti-as já hoje pela DHL para Lisboa e não tenho onde contabilizar os custos individualizados da transferência, equivalentes a, pelo menos, seis almoços individuais no principal hotel cá da capital. Não me queixo, nem destes magníficos quartos de dois metros e meio por três metros e vinte desta residência de campanha. Missionário tem prazer de cumprir sua missão, mesmo que ela não entre na ficha dos analistas de sistemas dos burocratas e avaliólogos reinóis.