a Sobre o tempo que passa: Venha o Sinédrio e o nacionalismo liberal! Abaixo o Estado Novo e os feitores dos ricos!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

3.2.09

Venha o Sinédrio e o nacionalismo liberal! Abaixo o Estado Novo e os feitores dos ricos!


Hoje, o nosso Primeiro-Ministro pode começar um dia com mais tranquilidade. Escândalo, veio do grego scandalon e queria dizer a pedra em que se tropeça quando se está a marchar. Não há, por enquanto, mais grandes parangonas com novos factos de mau-gosto e de mau-senso, a não ser a repetição de histórias que já vieram num jornal regional. Nem sequer a reunião do PR com o PGR o devem preocupar, porque, com toda a certeza, o PM já contou tudo o que sabe ao PR e este apenas vai confirmar as circunstâncias processuais de um todo, onde ele é, e deve ser, supremo especialista. Porque todos ganharíamos em acabar com as brincadeiras de ex-pides e ex-espiões que tanto custam ao erário público, denunciando a incompetência que reina nesses antros, que herdaram, da PVDE e dos contactos com a CIA, o KGB e os franceses, o péssimo hábito bufante das redes em autogestão, oferecendo préstimos a patrões neofeudais.  Mas que todos se cuidem porque os sacos das bufarias continuam cheios e deles bem nos podemos aperceber se formos a alguns blogues que servem de escarrador em "comments" para as memórias futuras, nomeadamente as  que hão-de transformar-se em parangonas do curto prazo. Por outras palavras, a pior forma de lutarmos institucionalmente contra a corrupção é aquela que nos tem enredado na vileza da má-língua e, sobretudo, em meandros onde ela é instrumentalizada pelo micro autoritarismo subestatal, em que o crime dos factos consumados tem compensado, em aumento e distribuição do poder assim conquistado pelas castas do sindicato do elogio mútuo.

O belo estado mental desta nossa querida pátria, especialmente da nossa queridísima direita, que nem sequer sabe que foi o Gama e Castro que traduziu "O Federalista", é directamente proporcional ao da nossa estimadíssima esquerda, onde a presente luta pelo poder nos pequenos corpos da administração indirecta do Estado atingiu as raias do surrealismo da indignidade. Veja-se como ideologicamente estão a traduzir em calão a presente crise da geofinança que destruiu a geoeconomia. Veja-se como o pensamento único dominante logo aproveitou a questão para dizer que o modelo liberal, a que chamam neoliberal, faliu, invocando um pretenso estatismo, a que chamam socialismo, e que tanto recobre o regime do despotismo da só-cracia de Chávez como atinge partidos, como o nosso PS, que, geneticamente, nasceram da liberdade  vivida e da experimentação do pluralismo, atirando para cima de Adam Smith as culpas pelas presentes circunstâncias de crise do globalismo. Até julgam que os descendentes de Thomas Jefferson não continuam a pensar que o melhor governo é o que governa menos.

Coitados! Não repararam que, mais uma vez, entraram em contraciclo, apesar dos avisos de Luís Amado contra os perigos do neoproteccionismo que nos lixariam. Basta notar como os socialistas britânicos de Gordon Brown recuperaram o liberalismo ético do moralismo escocês de Adam Smith e Adam Ferguson. Ou como os partidos liberais europeus estão a recuperar eleitoralmente, nomeadamente na República Federal da Alemanha. Por cá, é tudo da social-democracia do intervencionismo estadual, do PS ao PSD, passando pelo próprio CDS, todos subscrevendo a versão salazarenta do keynesianismo dos anos trinta, num estilo de neofontismo que não repara como, através dele, depois da euforia da especulação, nos endividámos cerca de um século, deixando um lastro de corruptos devoristas, como os donos do Palácio Foz ou do Palácio Burnay, esses expoentes da casta bancoburocrática, sempre à procura de políticos que se prestem a "feitores dos ricos".

Ora, a melhor forma de lutarmos contra a luta de invejas que marca, e sempre marcou o nosso decadentismo, nunca foi o ódio aos ricos, mas antes a luta contra a pobreza, não pela semeadura de dinheiro dos contribuintes em areias de problemas, através da subsidiocracia, mas antes pela criação de mecanismos de um melhor Estado, através de mais autonomia para a sociedade, para que não pratiquemos a mera absolvição do darmos peixe congelado aos necessitados, mas antes outro método, o de os educarmos para a pesca, como já ensinava Maimónides e é actualmente praticado pelo microcrédito.  Ora, quando ilustres representantes intelectuais do passado e futuro da direita a que chegámos preferem, face à crise, o regresso à costela torquemada do pina manique, invocando exactamente os termos da setembrizada, mais me apetecem os homens do Conselho Conservador e do Sinédrio, incluindo os que são capazes de elogiar as qualidades intelectuais do José Acúrsio das Neves. Infelizmente, já não há um Manuel Fernandes Tomás, capaz de dinamizar um núcleo regenerador que expulse Beresford e os "ministros do reino por vontade estranha", através do adequado nacionalismo liberal. Por mim, continuo fiel a esta concepção do mundo e da vida, subscrita por Fernando Pessoa em plena Grande Depressão. É este o "New Deal" que precisamos, para não cairmos nas teias de um "Estado Novo", especialmente quando este ameaça usurpar a democracia e o Estado de Direito, com histórias de princesas para deleite dos arquivos dos descendentes dos devoristas, entre as capitaleiras linhas de Cascais e da Foz, que sempre detestaram os novos ricos vindos da província.

PS: A imagem é picada de um "online" britânico, como homenagem aos corta-fitas, com um abraço especial para quem foi desancado pelo Pacheco Pereira. Aconselho-o a notar quem é o ministro que acompanha a família real dos Hanôver. Para mais registos, veja-se o que escrevi na sexta-feira à noite e que hoje é publicado pela dupla Ana Clara/Isabel Guerreiro: os poderes enlouquecem e os que ficam à solta, enlouquecem absolutamente.