a Sobre o tempo que passa: Todas as revoluções são pós-revolucionárias... e o 25 de Abril chama-se hoje Cavaco e Sócrates, com quatro candidatos a Provedor

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

24.4.09

Todas as revoluções são pós-revolucionárias... e o 25 de Abril chama-se hoje Cavaco e Sócrates, com quatro candidatos a Provedor


Ontem, Guilherme da Fonseca, Jorge Miranda, Maria da Glória Garcia, Mário Brochado Coelho... Não há fome que não dê em fartura. Felizmente, não tenho de escolher. Aliás, perante este leque, seria bem melhor pedir ajuda a D. José Policarpo, porque um bom Provedor seria aquele que, apesar de indicado por um partido meu adversário, poderia receber a minha confiança, dado que talvez ninguém tivesse dúvidas em sufragar uma Odete Santos, uma Maria José Morgado ou um José Miguel Júdice. Bastam as sondagens de hoje, as tais que confirmam a existência de uma maioria absoluta de portugueses que não se revê nesta partidocracia. No entanto, continuam a dominar os especialistas em casca de árvore, sem que alguém seja capaz de compreender que a causa da crise tem a ver com coisas mais gerais, como o Estado, a Democracia e a Nação, dado que nos faltam adequados macropolíticos que sejam mais do que constitucionalistas, estasiologistas ou etnólogos.

Por outras palavras, quanto mais ao povo falta, mais as instituições se exaltam com palavras que perderam o sentido dos gestos. Como dizia Ortega y Gasset, todas as revoluções são pós-revolucionárias. Medem-se menos pelas intenções dos primitivos revolucionários e mais pelas acções concretas dos homens concretos que fazem a história, sem saberem que história vão fazendo. Ninguém percebe que o 25 de Abril, nos seus efeitos, não se chama Otelo nem Zeca Afonso, mas José Sócrates e Aníbal Cavaco Silva, tal como, antes de chamou Santana, Barroso, Guterres e Soares, mesmo que os chefes do governo continuem a fazer os discursos do Sabugo. Mas, de boas intenções, está o inferno do nosso quotidiano cheio...

Cada revolución se propone la vana quimera de realizar una utopía más o menos completa. El intento, inexorablemente, fracasa. El fracaso suscita el fenómeno gemelo y antitético de toda revolución: la contrarrevolución. Sería interesante mostrar cómo ésta no es menos utopista que su hermana antagónica, aun cuando es menos sugestiva, generosa e inteligente. El entusiasmo por la razón pura no se siente vencido y vuelve a la lid. Otra revolución estalla con otra utopía inscrita en sus pendones, modificación de la primera. Nuevo fracaso, nueva reacción; y así, sucesivamente, hasta que la conciencia social empieza a sospechar que el mal éxito no es debido a la intriga de los enemigos, sino a la contradicción misma del propósito. Las ideas políticas pierden brillo y fuerza atractiva. Se empieza a advertir todo lo que en ellas hay de fácil y pueril esquematismo. El programa utópico revela su interno formalismo, su pobreza, su sequedad, en comparación con el raudal jugoso y espléndido de la vida. La era revolucionaria concluye sencillamente, sin frases, sin gestos, reabsorbida por una sensibilidad nueva. A la política de ideas sucede una política de cosas y de hombres. Se acaba por descubrir que no es la vida para la idea, sino la idea, la institución, la norma para la vida... 


Confesso que também eu atingi o grau zero de confiança nestes frades que continuam a pensar que o são, apenas porque ostentam o hábito. Veja-se  a menos partidocrática das instituições, a senhora dona Administração da Justiça, transformada em mero cálculo de probabilidades sobre encontrarmos uma agulha no palheiro, isto é, um juiz ou um magistrado que saibam colocar a justiça acima do direito, o direito acima da lei e a lei dentro dos princípios gerais de direito, com superioridade face ao despacho e à ordem de qualquer chefezinho. Passemos para a universidade, feita campo laboratorial de reformismos e de conservacionismos de forças vivas, onde a cenoura do carreirismo e o chicote do cala-te e come, e confirmemos o processo de desinstitucionalização em curso, a que não escapam as próprias forças armadas.


Quase todos se esquecem que o 5 de Outubro de 1910 acabou com a operação de Alves dos Reis, porque, quando se atinge o vazio de mobilização comunitária, todos entram na lógica do sapateiro de Braga, segundo a qual, ou há moralidade ou comem todos. E aqui e agora, o tal bem comum de São Tomás de Aquino deixou de ser a síntese de uma ideia de Ordem com uma ideia de Justiça. Daí que sejam pouco estimulantes as discussões sobre a pensão de Otelo e de Jaime Neves, ou os meandros da tipificação do crime de enriquecimento ilícito, quando, perante a corrupção, todos os partidos deveriam ser chamados a Belém, para fazerem uma autocrítica e entrarem num começar de novo, pedindo desculpa ao povo...