a Sobre o tempo que passa: Salazar era efectivamente socialista: "a essência do poder é procurar-manter-se"

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

20.4.09

Salazar era efectivamente socialista: "a essência do poder é procurar-manter-se"


O Partido de Sócrates rendeu-se ao conselho de Salazar sobre a vontade de poder: “ a essência da poder é procurar manter-se”. Sabendo, pelos estudos de opinião, que a maioria absoluta é uma quimera, o PS tanto quer abrir as portas ao Bloco de Esquerda, pensando no “Zé faz falta”, como alimenta as ilusões do CDS sobre uma eventual coligação pós-eleitoral, em nome da futura intervenção do FMI, enquanto alguns dos seus notáveis propõem, no terreno, uma aliança de esquerda com o PCP, mas sem faltarem as conversas com as forças vivas, sobre o regresso ao Bloco Central. Por outras palavras, vale tudo, no presente deserto de ideias. Isto é, o PS assume-se como o partido rigorosamente ao centro que tanto passa do “malhar” à esquerda e à direita, como convida os oposicionistas a serem comensais na “mesa do Orçamento”.

Salazar foi buscar republicanos viracasacas, maçons em quite, católicos, agnósticos, beatos e até o um fundador e secretário-geral do PCP (J. C. Rates) e todos nunca foram demais para o servir. Se é lícito dizer que ele foi maçon, também o poderemos qualificar como comunista, socialista, monárquico e republicano, bastava que malhasse à esquerda e à direita...
 
Como o crescimento do Bloco de Esquerda não foi feito à custa do PCP, mas daquilo que o PS reclama como seu eleitorado tradicional, a jogada de Sócrates é claríssima: pescar no eleitorado de esquerda e de direita, como o fez quando elevou Diogo Freitas do Amaral a ministro, ou agora convidou Vital Moreira para cabeça de lista ao Parlamento Europeu. Um pouco ao estilo da sublime jogada que, nos bastidores, prepara a coligação do partido com Manuel Alegre, talvez com este a reclamar uma quota significativa de deputados, bem como um lugar máximo na simbólica do Estado que o dispense de, mais uma vez, ser candidato a Belém...
 
 
Também o cavaquismo, na sua fase crepuscular, caiu na casca de banana de certo populismo, então de direita, sobre as declarações sobre os rendimentos dos titulares de casos políticos. Julgo que as figuaras que agora são arguidas ou suspeitas dessas imoralidades sociais deixou o mínimo de rasto na famosa declaração. Por outras palavras, o fraudulento é bem mais esperto do que todas as actividades dilatórias do processo legislativo. O mesmo podemos dizer sobre as actuais regras de financiamento dos partidos, dado que continua em vigor certa mentalidade herdada do absolutismo, para quem o detentor do poder está isento da própria norma que emite para os outros mortais e onde é norma tudo aquilo que ele diz...
  
Gostaria mais de saber como é que Louçã vai resistir na sua perspectiva de esquerda revolucionária. Julgo que quando ele, no mesmo dia em que viu o PS aprovar-lhe o simbólico projecto de começo da ultrapassagem do actual segredo bancário, já disse tudo, ao investir simbolicamente contra Ricardo Salgado. Não acredito que o Bloco de Esquerda passe de BE a BES... mesmo que Sócrates não se importunasse com a mudança de aliado. A máquina de “agenda setting” de São Bento é mais rápida do que a própria sombra parlamentar, quando lhe cheira a aproveitamento eleitoralista...

PS1: Saiu do prelo um esmagador livro de um doutorando sobre o esoterismo e o ti Botas. Recebi, há meses, do próprio autor, esse anúncio. Não o divulgo, obviamente. Apenas refiro o que imediatamente lhe comuniquei sobre as provas irrefutáveis. " Lerei com muito gosto e algum sentido crítico. Primeiro, porque bastam uns textos de Pessoa para resolver o dilema. Segundo, porque nada nos arquivos maçónicos é secreto, nesse período. Terceiro, porque o Vaticano não dormia. Quarto, porque só indo aos templários, ou às irmandades corporativas medievais, poderíamos ter raiz comum. Quinto, porque basta ler o parecer da Câmara Corporativa sobre a lei de 1935. E eu até sei das conversas de AOS com Albino dos Reis sobre os irmãozinhos. E do que Bissaia deixou sobre a matéria. E o que a ti Baleia, minha velha vizinha de aldeola, contou sobre o namorico de AOS com a filha do respectivo patrão (...)". Ainda não tive resposta à resposta.

PS2:  Deixo foto do ti Botas, não sei se antes, se depois, da fuga ao segredo de justiça do dossier "ballet rose", promovida por um jovem advogado que lhe havia de suceder no mesmo palácio e que, agora, se indigna com fugas ao mesmo tipo de segredo, só porque afectam os respectivos companheiros...

PS3: As intervenções de Fernanda Câncio nos debates da TVI são cada vez mais um revelador dos paradoxos de certo situacionismo. Ontem, e muito bem, ao debater o voto de congratulação parlamentar sobre a canonização de Frei Nuno de Santa Maria/D. Nuno Álvares Pereira, depois de dizer que santificações eram assunto interno da Igreja, logo acrescentou que votos destes feriam o laicismo constitucional, porque davam cobertura ao facto de uma cozinheira de Vila Franca ter ficado cega com óleo a ferver e, depois, ter-se curado por causa do beato... Como a qulificação de milagre é assunto interno da fé e da Igreja que o assume, não compreendemos como se feriu a lei da separação. Julgo que, se ainda estivesse vigente o regime da I República e se o presidente fosse o António José de Almeida, ele seria o primeiro a ir ao Vaticano associar-se ao acto, como o fez quando entregou o barrete ao núncio ou foi com os bispos à cerimónia do soldado desconhecido. E ninguém duvida que este ex-grão mestre do GOL tivesse pergaminhos de laicismo. Estes ateísmos elitistas são, de facto, os efectivos aliados do congreganismo catolaico. Espero que não venham a apresentar uma proposta, politicamente correcta, no sentido de eliminarmos as quinas e as chagas do símbolo nacional da república dos portugueses, porque elas são, inequivocamente, aexploração de um milagre tão falso, o de Ourique, que nem a Igreja Católica o reconheceu.