a Sobre o tempo que passa: Contra o federalismo neojacobino de uma assembleia única

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

19.5.09

Contra o federalismo neojacobino de uma assembleia única


Porque me acordo quase sempre nas vésperas antigas, entre as quatro e as seis da manhã, raramente consigo apanhar as televisivas ou internéticas emissões que aquecem por volta da meia noite. Não, não estou a referir-me às abstracções de Gianni Bertini, aparecidas em 2004, mas  talvez à tertúlia de ontem, com um ilustre candidato a deputado europeu que, muito à cabeça de lista, se disse federalista à maneira de Mário Soares, qualificando os dois como os únicos que assumem tal posição, mas justificando tal atitude pela defesa de uma constituição europeia, a emitir por uma assembleia europeia constituinte. O senhor candidato, que também ontem se assumiu como cristão progressista, por causa do apoio que dá a um sucedâneo de casamento para os homossexuais, não sabendo também se chegou a assinar a ficha de militante do CDS, por causa do apoio que prestou a Lobo Xavier, está no seu direito de entender a Europa dessa forma neojacobina de baptismo catolaico, mas talvez deva admitir que o mundo das ideias é bem maior do que o espaço do respectivo conhecimento paroquial. Chamo-lhe neojacobino não doloso, porque ele não se eximiu na adjectivação fácil de estalinista, para com um meu antigo professor.



Por outras palavras, pode haver um tertium genus europeísta, um pouco mais girondino do que os frequentadores do clube de Saint-Jacques: os que, não dormindo, como o frère, são federalistas e nacionalistas, repudiando o velho soberanismo e o mais antigo estatismo. E estes podem gostar mais de uma Europa como "nação de nações" e de "democracia de democracias", não admitindo assembleias únicas de unidimensionalizado figurino, como nos é imposto por esta oligarquia partidocrática transnacional e quase apátrida, para recordar verbosidades certas de De Gaulle, quando procurava o "oui par le non", em defesa da Europa Decadente. Apenas espero que os incautos, em nome do ódio a Vital Moreira e a José Sócrates, não passem um cheque em branco ao mesmo tipo programático de certo PS, não seguidor das teses de autodeterminação nacional, sempre perfilhadas por Manuel Alegre. Quando a música celestial da espuma dos dias nos faz elevar ao mais do mesmo, entre o PS e o PSD, prefiro continuar a ler Boris Vian. Espuma por espuma, prefiro a das ondas e, de tantas rasteiras de palavra solta, ainda nos vai sair a vitória do Vital. A Europa nunca se fará de um golpe, pai-fundador o disse, ou com a técnica da assembleia dos comprados por Bismarck...