Não comento a figura de pinho em que caiu o estadão
Na véspera do episódio dos corninhos ao sol dos holofotes parlamentares, tinha emitido, para o Diário de Notícias um prévio comentário sobre o estado de desinstitucionalização em curso, dito "canto do cisne", que, aqui anexo. Não comento a figura de pinho em que caiu o estadão, está ao mesmo nível do engasgamento judiciário das eleições do benfica, onde a justiça quase desceu ao nível de vieira. É tudo minúsculo. No mesmo momento em que ocorria a cena para lamentar, eu estava no Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados a comandar tertúlia sobre os novos horizontes do direito, com uma conferência sobre o meu tema favorito: acima do direito, está a justiça; acima da lei, está o direito. Isto é, sem o saber, tinha colocado, no primeiro caso, o lume da profecia antes do lume da razão e, no segundo, confrontado a racionalidade útil com a racionalidade ética. Algumas das observações do estudo da Sedes, hoje divulgado, foram amplamente referidas pelas lentes de contacto que usei sobre a matéria.
A versão portuguesa do americaníssimo “state of the nation” é mais uma das nossas “traduções em calão” de um politicamente correcto que poderá ser o canto de cisne do socratismo, quando este já proclama que a esperança é sinónimo de, muito estatisticamente, já termos batido no fundo.
Foi pena que a quantidade de energia que gastámos com este ciclo político de nova oportunidade perdida tivesse ficado, para sempre, naquela zona do desperdício da entropia, a que os analistas de sistemas chamam lixo.
Porque as proclamadas “boas intenções” do pretenso reformismo não passaram do “inferno” de uma navegação à bolina, de um verniz que recobriu a efectiva engrenagem de uma desinstitucionalização em curso, contra as autonomias de professores, magistrados, médicos, militares , igrejas e forças morais tradicionais.
Enquanto isto, regressavam os permanecentes “compadres e comadres” do “país oficial”, dependentes da “mesa do orçamento”, com muitos “anjos”, antes da “queda”, procurando “tacho” entre os capatazes e os donos do poder.
Porque a competência voltou a ser inferior ao patrimonialismo da compra do poder e da lealdade neofeudal, em nome de doutrinarismos e abstracções, permitindo que a mão longa do ministerialismo de Estado ocupasse a República.
Se antes de Sócrates, poderíamos dizer que estava em crise o Estado, mas não a Nação, corremos agora o risco de de perder a própria vontade de sermos independentes.
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