A governança sem governo. Texto que publiquei no DN, no começo da semana...
Os “jamais” de Mário Lino não são causa, mas mero sintoma deste interregno. Porque o estado a que chegámos, pequeno demais para os grandes problemas do nosso tempo e grande demais para para os pequenos problemas do homem comum, tem muita banha, pouca flexibilidade muscular, ossos descalcificados e nervos esfrangalhados, dado que se multiplicou em muitos monstrozinhos, como os do “outsourcing”, da avença, da parecerística e da consultadoria, de acordo com o ritmo daqueles que gostam de nacionalizar os prejuízos e privatizar os lucros...
Os recentes adiamentos das obras pouco mestras, que serviram de literatura de justificação para um governo que confunde o crescimento do aparelho de administrativo com o bem comum, servem apenas para ocultar que a maior parte dos factores de poder já não são domésticos e que o principado que asfixia a república é, talvez, o menos eficaz de muitos variados intervencionismos que actuam neste território já sem fronteiras. Assim se confirma que há uma espécie de governança sem governo, bem como um piloto automático cujo “software” é fornecido por forças vivas que temem as decisões do povão e já concluíram que entrámos numa era de risco, não comandável pelo tradicional bloco central de interesses, como o demonstrou o silêncio da maioria absoluta do eleitorado, que não quis confundir a democracia com a sondajocracia. Já não manda quem o podia e pode desobedecer quem o merece.
<< Home