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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

1.9.09

em funerais, missas de sétimo dia e acções de campanha vai quem quer


Os líderes políticos do rotativismo ainda não ascenderam ao sagrado. São meros emblemas de clãs, e desencadeiam forças propagandísticas que se julgam mágicas, pretendendo castigar todos os que não alinham com as respectivas mundivisões ou pilares, entre restos de estalinismo e de maoísmo. Um heterodoxo não tem que optar pelo mal menor do enfiar da carapuça.


Talvez só uma leitura esotérica deste exoterismo nos permita chegar aos pilares e às concepções do mundo e da vida, com que se fingem programas de ascensão às garupas do cavalinho do poder e da distribuição de postas e prebendas. Mas correm o risco de terem pisado o tal fio do "ponto de não regresso" e do "out of control". Mentalmente, já não estamos balizados pelos grandes fazedores de opinião da televisão pública, entre Marcelo ao domingo e Vitorino à segunda, as duas vozes que portam o situacionismo. Um, o grande mestre do que pretendeu ser o seminário do regime, ou outro, menos catolaico, mas docente da universidade concordatária, ambos já temem que se brinque com coisas sérias, porque sabem que o riso é terreno escorregadio.


Daí que voltem os velhos profetas dos antigos testamentos, já descrentes da boa nova. Se um é supremo e autorizado, como o patriarca Mário, muitos são os falsos profetas que vão dos endireitas aos canhotos, não faltando os convertidos da antigas ordens que se pensam senadores da nova, mas que continuam com os velhos textos na sensibilidade e já metem a pata nas pocinhas.


Infelizmente, os novos testamentos desta campanha eleitoral, além dos sermões da partidocracia, das missas dos comícios e dos palanques dos tempos de antena, tiveram que se fazer à estrada, com caminhos de pé de cabra, cheios de minas e armadilhas, principalmente se vierem mais notícias de processos, polícias, magistrados e o mais que descubras esconsos, pretos, brancos, submarinos e sobreiros.


Até há o apocalipse da metapolítica, de quem diz que não faz política da político-partidária, porque entrou nos arcanos e nos encontros imediatos de primeiro grau com os extraterrestres e superiores interesses nacionais, em nome da técnica e da tecnocracia, contra os facciosos e os politiqueiros. Onde tudo é uma questão de fé e de sacerdotes e sacerdotizas, procurando a conversão. Porque "avançar significa cair no fundo". Porque "em funerais, missas de sétimo dia e acções de campanha vai quem quer". Porque "algumas pessoas gostavam que crise tivesse passado para continuarem nas mesmas posições".