a Sobre o tempo que passa: Mais aventura e mais pragmatismo, para sonhadores activos

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

21.12.09

Mais aventura e mais pragmatismo, para sonhadores activos


Não salvámos o mundo em Copenhaga, Obama não foi o anjo do Quinto Império, e Deus não fez milagre, como dizia o presidente Lula. A próxima cimeira será no México, onde o aquecimento poluidor é mais sentido. Se tivermos menos mania das grandezas e soubermos distinguir clima de poluição, poderemos evitar o estrondo de tratados com sabor a concertos do novo Maio 68. Grão a grão, a república universal pode vencer!



Continuam os restos comemorativos dos dez anos de passagem da bandeira em Macau. Noto as televisivas intervenções do macaense presidente do Instituto Internacional de Macau e do goês presidente do Instituto do Oriente. Tudo palavras do habitual sincrético do chamado luso-orientalismo, ressaltando-se o "time is money".

Prefiro reler Jorge Dias e Sérgio Buarque de Hollanda. O primeiro diz que o sonhador activo, que marca o carácter nacional é o exacto contrário do tal "time is money". O segundo diz que o nosso individualismo tem a ver com a aventura, pela visão de um Paraíso, misto de riqueza mundanal e beatitude celeste. Não costumamos rimar com comemorativismo e subsidiologia.


Sérgio Buarque (na imagem), o pai do Xico que queria desaguar no Tejo e dizia que a festa era linda, bem reconheceu o essencial da nossa permanecente crise: a grande dificuldade de adaptação às virtudes do cálculo que estão na base do espírito da globalização apátrida. Nunca funcionámos com planos colectivos, mas apenas com a procura do paraíso pelos homens concretos, com aventura e pragmatismo...