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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

14.12.09

O vazio de metafísica e a falta de bom senso, ou a democracia apoiada pelo défice democrático...


Leio a sondagem Aximage no Correio da Manhã: PS tem 32,5% e PSD 24,4%. CDS já vai nos 12% das intenções de voto. Cavaco volta a subir. Compreendo a propaganda do TGV. Entendo Almeida Santos quando reconhece a falta de bom senso de todos. Até do próprio reconhecedor do óbvio.


O sinal dado pelo bolinho de mel do jardim madeirense em São Bento, se é menos do que um queijo limiano, pode ameaçar a funcionalidade da confraria do azeite porteira. Até o PS já concluiu que a democracia pode funcionar com o apoio do que apodava como défice democrático. A velha raposa de Alberto João tornou-se lebre. Não tardará que todos tenham de engolir mais sapos vivos. Para o bem comum.


Se outro tivesse sido agredido como Berlusconi, o coro de solidariedade contra a violência seria uníssono, incluindo do nosso Bloco de Esquerda e dos habituais caça-fascistas da nossa praça. Desta feita, tudo se explica como uma espécie de vingança da mão divina através de um simples louco. Por outras palavras, a violência é sempre relativa, porque um bom revolucionário não pode ser humanista...


Os regicidas praticaram uma violência boa. O Júlio Costa, que assassinou Sidónio era louco. O massacre da Noite Sangrenta de 1921 foi a consequência deste paralelograma de forças. E o assassinato de Humberto Delgado, mero excesso de zelo de um funcionário que, graças à tolerância salazarenta, nem sequer recebeu uma maquiavélica reprimenda. Ficou protegida pelo segredo da Razão de Estado. Já não havia bom senso.


Todas as ordens normativas humanas, da moral ao direito, mantêm uma espécie de ligação primordial à pré-filosofia espontânea do senso comum, porque, por mais intelectual que seja o respectivo desenvolvimento, elas nunca conseguem quebrar as amarras que o ligam ao instinto. E ai do conhecimento, incluindo o científico, que deixe de ser um facto íntimo e próprio do espírito, para utilizarmos palavras de Antero de Quental. Aliás, o conhecimento científico, segundo o mesmo autor, constitui apenas a região média do conhecimento, entre o senso comum e o conhecimento metafísico.