a Sobre o tempo que passa: O Processo Estacionário em Curso. Para o Diário Económico

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

26.3.10

O Processo Estacionário em Curso. Para o Diário Económico




O presente situacionismo entrou em processo estacionário em curso, dado que, as alternativas sistémicas não são suficientes para um baralhar e dar de novo, segundo o conceito de “new deal”. Nem sequer há suficiente temperatura espiritual para o estabelecimento de um novo contrato social, enquanto pacto de união, refundador do regime, com o consequente pacto constitucional e o posterior pacto de governo, através de novo acto eleitoral.

Acresce que as forças vivas dominantes, tanto a nível partidocrático como bancoburocrático, podem ser simbolizadas por uma moeda que, depende do euro, e tem duas faces: de um lado, a cara do socratismo; do outro, o cavaquismo sem Cavaco. As coroas têm a imagem de Barroso; as rugosidades chamam-se "rating" e endividamento...

Manuela Ferreira Leite tem, hoje, o seu canto de cisne, mas sem hipótese de renascer das cinzas. Com efeito, o cavaquismo sem Cavaco pode pensar na reeleição do seu recandidato, entrar em contactos imediatos de primeiro grau com Barroso, ou fingir que se pode negociar com Lacão e Teixeira dos Santos.

Talvez nunca tenha compreendido a verdade ensinada por Emmanuel Mounier, para quem os problemas económicos e financeiros apenas se resolvem com medidas económicas e financeiras, mas não apenas com medidas económicas e financeiras. Precisam de política que volte a ter a justiça inteira como estrela do norte. A deusa estatística, na sua vertente da heresia aritmética, nunca foi capaz de ascender à geometria espiritual do "esprit de finesse"...

Daí o absurdo da presente encruzilhada, onde as abstenções, à boa maneira salazarenta, contam como votos a favor. E Sócrates, mesmo sem aparecer, pode proclamar que quem não é contra ele é a favor dele.