a Sobre o tempo que passa: De como persiste o castramento do impulso libertacionista da política

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

18.3.10

De como persiste o castramento do impulso libertacionista da política


Ainda ontem, num dos melhores programas económicos das nossas televisões, assisti ao habitual desfile de destacados fiscalistas, contabilistas e financeiros da nossa praça, compreendendo como a injecção do PEC contém as habituais substâncias que levam ao castramento do nosso impulso libertacionista da política.

O elogio barroseiro e do Eurogrupo a esse concentrado de desespero revela como as altas ministerialidades do nosso espaço está afectado pela droga inventariada pelo nome de TINA que, segundo o esperanto bancoburocrático, se descodifica como "there is no alternative".

A causa das causas da presente crise é a autogestão em que se devora a geofinança, esse monstro a que muitos dão o nome diabólico de neoliberalismo, e que nada tem a ver com a clássica visão liberal que nunca abdicou da supremacia da justiça e, consequentemente, da política.

Daí que abundem as reaccionárias explicações das teorias explicativas do "Zeitgeist", onde até há alguns que vão as sótãos rebuscar os manuais maniqueístas, neo-inquisitoriais, nazis ou comunistas, esses que vêem diabos, mãos ocultas, aranhas clandestinas, plenas de judeus, maçons, multinacionais, padralhada, comunas, sindicatos e jovens turcos...

Aliás, quanto mais conspiratória é a análise, menos transparente são os segmentos biográficos dos analisadores, geralmente cristãos-novos que tentam usar decapante para aquilo que foram em metodologia, mesmo que tenham variado de "ismo"...

A geofinança da presente planetarização ainda não atingiu aqueles mínimos de Estado de Direito universal, ainda há efectivos poderes fácticos à solta, isto é, absolutos, pelo que sem república universal não se conseguirão accionar os princípios de justiça....

Os homens da finança e da política deveriam adaptar-se aos sinais dos tempos e seguir o exemplo das grandes religiões universais e das forças espirituais tradicionais, admitindo que o diabo tem lugar a seguir ao Pai, ao Filho e ao Espírito. Porque se, dele se abstraem, terão a surpresa de o sentir explodir em autoritarismo, totalitarismo e guerra!