Não, Ana, não partiste! Ascendeste!
Foi há um mês, numa madrugada súbita, que a morte te rompeu a promessa. Por mim, continuo sem reconhecer que o luto pode ser o esquecimento. Porque, contigo, deixei de ser apenas eu. E, dentro de mim, ficaste para sempre. Como semente do mais além que nos deu vida. Não apenas memória e raiz viva de saudade. Porque aprendi, contigo, que mais vale esta mística do silêncio criativo, e cúmplice, do que os paraísos perdidos que me venham, tentadores, da solidão altiva. Não, Ana, não partiste! Ascendeste! E ficaste para sempre no transcendente situado a que damos o nome de eternidade. Estás presente no futuro que continuaremos a ser. Que viveste como sentiste, e aprendi vida contigo. E, além da morte, me libertas. Foste esboço que procurarei cumprir, traço que continua a procura de uma linha recta que já não está limitada pela perspectiva do horizonte. Estás além e estás aqui. E voltas no vento que ainda me dá dias de luz. Na água viva das correntes profundas que procuram. Nesta sede de infinito. Serás, para sempre, vida, em quem te lembra e te procura cumprir. Continuarei fiel!
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