a Sobre o tempo que passa: Em vez da coruja da sabedoria e da águia triunfante, apenas as rapinas habituais da encruzilhada

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

3.5.10

Em vez da coruja da sabedoria e da águia triunfante, apenas as rapinas habituais da encruzilhada


Ontem não foi dia de enchente vermelha na Rotunda. Águia sofre e até Alegre, benfiquista de garra, vai anunciar a recandidatura antes da festa. O espectáculo da imagem, sondagem e sacanagem continua a enredar-nos. Até o autor da tríade denunciadora a ela parece ceder...

Gosto mais de Alegre como autor. Não quero que ele se transforme em actor. Até secundário. Porque a peça em representação ainda não está toda escrita. Está plena de armadilhas que apelam a cantigas de improviso e de alguns eus que estejam à altura das circunstâncias...

Espero que esta esquizofrenia politiqueira não seja sinal de um qualquer "delirium tremens", como o que costuma afectar certos crepúsculos decadentistas, marcados pela cobardia colectiva, dessa que quer lavar as mãos como Pilatos e deixar que uns "eles" nos desgovernem, só para que possam ser inequivocamente punidos quando chegar a hora do ajuste de contas eleitoral... E para que continue esta pilotagem automática de uma governança onde a maioria dos factores do poder já não são nacionais, o que deveria implicar maior vontade de sermos independentes, sobretudo na gestão das dependências.

Temos que nos submeter para sobreviver, mas devemos lutar para continuar a viver. Basta recordar os versos da "Carta ao Manuelinho de Évora", "contra os ministros do reino por vontade estranha"! Ou a resistência de Albarrofeira. Cumpre a palavra, Manel!

Os tempos de encruzilhada não têm levado ao voo das corujas da sabedoria, dominando as habituais rapinas do sincrético, cujas encenações de enredos vocabulares são directamente proporcionais a uma turbulência sem sinais de bonança ou azuis de Primavera...

Mostrando as garras aduncas da demagogia, julgam que os velhos bicos podem continuar a arrancar do lombo do contribuinte os pedaços de oportunidade que os sustentam. Até vemos um partido regional trair um partido nacional, tal como outro partido nacional continua a trair outro partido regional, para que chefezinhos e chefes sobrevivam...