a Sobre o tempo que passa: Portugal: uma espécie em vias de extinção

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

4.3.11

Portugal: uma espécie em vias de extinção



1
Os piores inimigos da política continuam a ser o indiferentismo e a corrupção. Julgarem alguns que pode haver rebelião das massas, através de manifestações, perante uma sociedade civil desertificada é não assumirem que nunca haverá sobressalto cívico se antes não se mobilizarem a opinião pública e a publicada.


2
Sempre que emergem os habituais manipuladores do descontentamento, enredados pela teia dos promotores de eventos, apenas se pode prever como os clãs do situacionismo, incluindo os pretensos oposicionistas sistémicos, vão proclamar que tudo continua como dantes, entre o 1º de Maio e a Cova de Iria, nesta democracia orgânica, onde mandam os habituais donos do poder.


3
O duche escocês continua. Em menos de um ápice, tudo passa de bestial a besta, de Merkl a Trichet, com parlamentarês q. b., entre lacões, esquizofrenias e mendonças... e há ainda quem julgue que os invasores, protectores ou colonizadores nos podem trazer o chicote daquelas "belas ordens" exógenas...


4
Já não sabemos distinguir a corda bamba do fio da navalha e por isso nos vamos de menagem a meneios, entre picaretas falantes e psicopatas sentenciadores, chamando massagem ao massacre do banho turco em pedra fria e água gélida...


5
Portugal está em apuros, reconhece ex-presidente, e com toda a razão. Basta notarmos como vamos sendo tramados por uma cultura discursiva de nostálgicos da revolução perdida, entre 1917 e 1926, e o derrotismo do disparate que apregoam os gestionários de um qualquer patrão que lhes pague...


6
A engenharia estatizante dos fazedores de organogramas e de regulamentos que nunca deveriam ter sido promovidos a generais continua a considerar que racionalizar é fazer uma "révolution d'en haut" que é pior emenda do que o soneto...


7
Quando os presidentes, os parlamentos e os governos são sustentados pelas abstenções, medidas como votos a favor, eis que estes restos de ministerialismo e deputagem do capitaleirismo mental se preparam para passar uma certidão de óbito ao que resta das plurisseculares fontes de energia do Portugal eterno: as comunas sem carta a que chamávamos freguesias...


8
Os desmandos do estadão lançaram uma falsa campanha de dinamização da respectiva 5ª divisão visando as últimas franquias da lusitana antiga liberdade. Depois de matarem a agricultura e as pescas, extinguirem escolas locais e ridicularizarem as regiões, mapizam agora uma fusão de freguesias...


9
Há uma espécie em vias de extinção: o português. Apesar do ecologismo, da museologia e da restauração do património cultural. E o agressor continua a ser o apátrida e patarata sem identidade, para quem a província é paisagem e o povo uma estatística que não cabe nas lunetas da respectiva engenharia de conceitos.


10
Quando figuras mentais de gargalhada pretendem ocupar no PSD um lugar de mentores proclamam que é o continente que está a dar ajuda externa às regiões autónomas e que a União Europeia são uns eles que nos são exteriores, apenas apetece recordar que alguns desses seres palrantes não passam de agentes bancários de patrões de classes cleptocráticas de alienígenas...


11
Nestes discursos de feitores de ricos faltam coisas tão básicas como pátria, solidariedade e cidadania, como se as escolhas políticas fossem mera procura de um empregado maior de um qualquer patrão alheio, segundo os meros modelos gestionários, conforme propaga certo caldo de cultura de ex-ministros do mais do mesmo.


12
Há falta de cultura política e de hierarquia de valores neste exagerado vazio de vergonha. Pelo menos, para quem é adepto do primado da política e detesta esta governança sem governo que acirra o vazio de justiça como estrela do norte da política e não conhece o que é comunitário, isto é, a comunhão pelas coisas que se amam.