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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

2.3.11

Lá vamos, sem cantar nem rir, mas encanando a perna à rã...



Confesso não querer que o meu país entre em bancarrota, nem controlada. Mesmo que isso implique o reconhecimento desta transição de Sócrates como Primeiro Ministro. E que lhe corra bem a conversata com Merkel. A solução parece simples: não entrarmos em imediata crise política de "out of control", mas ainda usarmos o actual quadro parlamentar para mais uma tentativa de mobilização nacional através de novo governo PS, ou de nova maioria absoluta, de aritmética política e adequada geometria social.


Acordos partidocráticos de gabinete apenas contribuem para continuar a hipocrisia. Nem sequer chegam a um acordo quanto aos desacordos. E gastámos energias eleitorais em vão. Nas europeias, autárquicas e presidenciais. A legitimidade governamental não estava fresca, como na Grécia. E todos temem dar o passo dos irlandeses. Sem qualquer sobressalto cívico adequado à real dimensão da crise.


As chamadas elites continuam a encanar a perna à rã. E as massas não protestam nem se revoltam. Todos acreditam que, enquanto o pau vai e vem, folgam as costas. E os situacionistas até já comentam a revolução marcada para 12 de Março, um pouco à imagem e semelhança de José Eduardo dos Santos, mas sem força sequer para mobilizarem uma contramanifestação. Estamos enjoadamente adiados. Como sempre.


O modelo europeu foi, de forma sublime, definido por Jacques Delors: "dois terços de classe média" (aqui diz-se remediadinhos) e "um terço de excluídos sociais" (agora, identificam-se com os de menos 35 anos). O salazarismo baseou-se exactamente na mesma forma de controlo social. Explodiu socialmente nos anos sessenta, mas ainda aguentou década e meia, graças à guerra e à emigração.


Só houve implosão do antigo regime com as vacas magras da crise petrolífera. Mas os controleiros do costume voltaram e lá continuam a instrumentalizar a partidocracia do bloco central e a navegar na eurolândia. São os únicos com embaixada permanente na geofinança.


O drama está agora na infuncionalidade europeia. Quando a potência hegemónica tem poder na geofinança e na geoeconomia, mas continua com pés de barro em termos de potência militar. A volatilidade dos vizinhos do Sul mostra que a Europa precisa tanto da moeda única como dos britânicos, da NATO e do guarda-chuva habitual do amigo americano.


O vizinho russo ainda não dá para saltar ao eixo e o jogo é complexo: tanto passa pelos barcos que os turcos autorizaram a navegar para a Palestina, como pelos emigrantes otomanos na Alemanha e a adesão de Ankara a União Europeia. E Portugal já nem finge ameaçar, explicando como Otelo poderia ter sido o Kadafi cá do Ocidente. Por isso, prefiro acompanhar a reacção que vai ter o Estado de Israel.