Sobre o tempo que passa
Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...
29.6.11
Gostaria mesmo de não ter razão neste meu desassossego com os pés no chão, mas não me conformo com os conservadores do que está. E que estarão. Prefiro seguir meu signo de pensar ser dizer não, principalmente depois de ler a confirmação do rotativismo.
Julgue-o quem não puder experimentá-lo
Quando eu era um miúdo, cheguei a ser especialista em programas de governo, nomeadamente nos presidenciais. Sei como se fazem essas coisas com assessores e adjuntos, como eu fui. Foi e é um erro, esse de programar discursos antes de fazer coisas. Porque, como dizia Camões, vale mais experimentá-lo que julgá-lo, mas que o julgue quem não pode experimentá-lo.
Das forças da inércia
Faltam ideias claras de reformismo, sendo marcante a cedência ao politicamente correcto da velha pilotagem automática, dando esperança às forças da inércia, numa confusão de estilos que revela sincretismo de fichas e certas banalidades discursivas. Será um texto devorável pelo contexto e onde o estilo dos ministeriáveis e a ditadura das circunstâncias acabará por ser predominante.
Programa
Acabei de ler o programa de governo. Um espaço de transacção entre as ideias pessoais de alguns ministros e a falta de ideias consolidadas dos dois partidos da coligação. Nalguns casos, tornam-se impenetráveis as cláusulas gerais e os conceitos indeterminados. E metade do texto poderia ser subscrito pelos anteriores governantes socráticos.
Dos liberalizadores de fachada
Bastava uma dúzia de decretos à Mouzinho da Silveira para refundar o Estado onde ele faz falta e extingui-lo no que ele é inútil. E somando reforço com abolição, a conta seria bem menos mesada. Por outras palavras, não chega liberalizar, impõe-se a libertação. Até dos chamados liberalizadores de fachada.
O estadão
O estado a que chegámos é, ao mesmo tempo, pequeno demais e grande demais. Pequeno demais para os nossos grandes problemas. Grande demais para os pequenos problemas do quotidiano, quando os poderosos, fracos perante os grandes, se vingam nos pequeninos. Apenas estou a glosar Daniel Bell e a rir-me do espectáculo e da retórica do estadão.
De Ávila e Bolama
Ninguém se lembra do António José de Ávila como esquerdista juvenil, reformista no assalto ao poder, marquês, ou duque. Ficou para sempre como autor de um decreto de 1871, por causa da proibição das conferências de uns então marginais, dado que estas "procuram sustentar doutrinas e proposições que atacam a religião e as instituições políticas do Estado"
A falsa consciência
O pior de muito anticlericalismo é a falsa consciência de antigos clericalistas. Foi mal de que padeceu certo jacobinismo e algum revolucionarismo marxistóide. E ainda por aí circula em música celestial laicista ou antilaicista. Mudam de cartilha, mas não de método. E a respectiva retórica cheira a fedor, gasta pelo mau uso e prostituída pelo abuso.
Universitarês
O universitarês é um primo do educacionês e pode ser praticado pelos que denunciam aristocretinamente o segundo, mesmo quando não disfarçam sua matriz seminarista e congreganista, de tão pouco agrado para a Igreja e as Congregações que estas, quase sempre, se livraram deles em devido tempo, recusando-lhes o "nihil obstat". Apenas têm de os gramar os incautos e serviçais.
25 de Junho:
Relendo velhas tradições dos que apenas gostam de saudar os vencedores: "trabalhar o cacete, desandar o bordão, descarregar o arrocho, são axiomas eternos e invariáveis regras de justiça. Adeptos de "correada não só que deixe vergão, mas que corra sangue, ....só o sangue do açoite cura". Quem se mete com o poder, leva, faz parte do manual dos intelectuários de serviço. Incluindo os viracasacas.
Relendo velhas tradições dos que apenas gostam de saudar os vencedores: "trabalhar o cacete, desandar o bordão, descarregar o arrocho, são axiomas eternos e invariáveis regras de justiça. Adeptos de "correada não só que deixe vergão, mas que corra sangue, ....só o sangue do açoite cura". Quem se mete com o poder, leva, faz parte do manual dos intelectuários de serviço. Incluindo os viracasacas.
Com o blogue em forma de Facebook
Este blogue ficou em espera desde o dia 25 de Abril. Porque ainda havia Sócrates. Porque já havia campanha eleitoral. Porque o seu autor, todos os dias escrevia aqui: http://www.facebook.com/jose.adelino.maltez. Por causa da interacção. Um trimestre depois, já há parlamento, já há ministros, já há secretários de Estado e urge tomar posição. Vou voltar. Mesmo que seja apenas para repetir alguns dos postais que nasceram no facebook. Porque temo que volte a ser condicionado pelas circunstâncias.
25.4.11
Maçã prodigiosa. Por Teresa Vieira
Veio Abril feito de sonho e de mãos dadas
Num tom tão claro quando tudo é luminoso
E a alegria ali, fora de nós e viajando
Em carros triunfais de deuses e de prados.
E vi céus nas expressões dos homens e lágrimas como pérolas de lua
E era assim que Abril se passeava abrindo em leque
O ar mais pequeno de cada rua.
Depois vi comunhões, véus, cálices e auroras
E vi o mar a cintilar toda a diferença
E beijos de uma forte e suave espuma
Frescos em mocidade
Nas margens vertiginosas de cada duna.
E virgem, mas sabendo toda a vida
Olhou-se o povo num espelho sobrenatural
Viu destinos e verdades e venturas
E Abril em frémito
Tão perdidamente
Água fonte
Água crença
Água oceano.
Mistério novo
Tábua de lei
Pronto- socorro.
Teresa Vieira
Sec. XXI, dia 25
19.4.11
Somos uma república de bonzos. Entrevista minha, hoje. A João Vasco Almeida.
DIABO
Adelino Maltez: "Estamos entre socratinhos e cavaquinhos"
por João Vasco Almeida a 19-04-2011
Adelino Maltez, professor universitário, é arrasador: ou há uma revolução liberar, uma refundação, ou não vamos sair da cepa torta. "O povo adora estar entre medos", diz. Mas apresenta uma solução...
O Diabo - Há massa crítica no País para sairmos do sítio onde nos puseram?
Adelino Maltez - Há gente, há território e há história, claro que há. Nós não somos um Estado exíguo. Mesmo em termos europeus, colocamos-nos na situação de médio Estado. O que há é que, em termos organizativos, quer políticos, quer da própria sociedade civil, nós vivemos numa ditadura de incompetência. Ficamos sempre muito entretidos porque há um bloco central de bonzos, como se dizia na I República, que não são nem carne nem peixe e depois, acompanhando o Bloco Central dos bonzos, há os bobos da corte, há os endireitas e há os canhotos. Por isso é que Portugal é o País mais conservador do sistema partidário de toda a Europa. Nós estamos praticamente incólumes, à excepção daquela extrema Esquerda que deixou de ser mobilizada pelo Mário Soares para dentro do PS e que constituiu o Bloco de Esquerda. Isto é um sistema mais estático, mais reaccionário e mais situacionista de todos os nossos companheiros da Europa. Portanto, naturalmente conduz a uma ditadura sistémica. Uma espécie de partidos, sistema, que vivem num sistema de autoclausura reprodutiva.
O Diabo - Perante isso, a massa crítica de que lhe falava resultou em decisões neste sistema?
R: Essa massa crítica parece-me paleio de uma das coisas que nestes últimos anos mais contribuiu para a desgraça nacional que são os escultores das estratégias. São uma espécie de espiões desempregados lendo livros de há 50 anos. De vez em quando há uma minoria de portugueses com generais...
O Diabo - Isso toca em quem?
Adelino Maltez - Isso toca aos chamados estrategistas. Generais desempregados e aos senhores que andam pelas universidades a dizer que inventaram a ciência da estratégia. Eles é que inventaram uma terminologia tão mortífera que destruiu completamente as nossas Forças Armadas e transformou os nossos espiões em novas PIDE's em auto-gestão de espiões. Os factores humanos e a própria terra que temos está completamente paralisada por meia dúzia de preconceitos ideológicos. Porque é que Portugal é o único país da Europa onde ninguém pode ser Liberal?
O Diabo - Porquê?
Adelino Maltez - Eu não sei porquê. É a terceira força no Parlamento Europeu e em Portugal há uma coisa que une Cavaco Silva, Paulo Portas, Passos Coelho, José Sócrates, Louçã e Jerónimo de Sousa: nenhum deles é liberal. E há outra coisa que também é verdade. Se formos aos países que estão no topo dos países com maior desenvolvimento humano do mundo, são todos produtos da civilização Liberal. Se formos a todo o sistema Europeu, mesmo este da União Europeia, Portugal e Espanha são os únicos socialistas. Portugal nem é tão Liberal como o socialismo espanhol. Porque é que nós gostamos de estar em contra ciclo? Porque é que até em termos de coragem, raros são os intelectuais que não têm medo de dizer: "Eu sou mesmo Liberal"?
O Diabo - Mas houve liberais a construir o Estado que hoje conhecemos!
Adelino Maltez - Quem construiu este Estado, da parte moderna que ele tem, foi um homem chamado Mouzinho da Silveira. Ele, pela primeira vez, fez impostos directos para o Estado. Em segundo lugar, aquilo que temos hoje de Estado Social, não nasceu da Revolução Soviética, nem da Revolução Fascista. Nasceu do Beveridge Report, em 1942, feito por um Liberal - chamado William Beveridge. Quando eu vejo trotskistas, estalinistas, pinsilguistas, a dizer "temos que salvar o Estado Social"... Mas eles não o fizeram, eles destruíram-no. Portanto, alguma coisa está mal neste processo.
O Diabo - Neste cenário de eleições que se avizinha, não há nenhuma proposta Liberal em cima da mesa. Ou há?
Adelino Maltez - Nem a de Passos Coelho.
O Diabo - Ele dizia que era liberal...
Adelino Maltez - Ele liberalizava. Andava à procura de um novo programa Social Democrata. Paulo Portas faz parte de um partido do qual fiz parte em quanto existiram liberais. Hoje o seu discurso é o choradinho do Papa Leão X, porque isso dá votos. Está no centro católico português do tempo de Salazar. Não passa disso. Assumiu não ser Liberal e até critica o PSD por não se preocupar com a questão social do século XIX.
O Diabo - Se a situação é esta nos grandes partidos, nos pequenos partidos - e o senhor passou por um com Manuel Monteiro...
Adelino Maltez - Eu passei por duas experiências partidárias no pós 25 de Abril. Uma com Lucas Pires outra com o PND quando ainda foi à Internacional Liberal. Mas também o PND abandonou e foi para o choradinho democrata cristão.
O Diabo - Porque é que não funciona, então, o discurso liberal?
Adelino Maltez - Não funciona porque não há coragem e qualquer palerma sabe que isto não dá votos. Portanto, não dando votos eles partem para a ideologia que dá votos.
O Diabo - A lógica eleitoral em Portugal é uma lógica de mercado?
Adelino Maltez - É uma lógica de mercado sem concorrência. É como as empresas de regime, não é uma lógica de liberdade. É uma lógica repleta de preconceitos e de fantasmas. O problema está em percebermos que as eleições estão fortemente condicionadas pelos aparelhos. E há logo uma ideia em Portugal que ser Liberal é estar a favor dos banqueiros. Porque é que eu não hei-de criticar os banqueiros? Os únicos países onde se prendem banqueiros é em países liberais. Ser Liberal é ser pelo Carrapatoso e pelas empresas onde não há concorrência. Mas porque é que eu não hei-de criticar a falta de concorrência nos sectores onde os empresários vão à televisão e andam a fazer programas para partidos políticos? Porque é que o Liberal é aquele que necessariamente não critica os corruptos? Tem graça, eu já fundei duas vezes a organização de luta contra a corrupção, em Portugal. Todas as estatísticas desmentem os preconceitos, e, portanto, nós estamos com um pezinho no Norte de África. Mas enganámos-nos, porque isto agora faz parte da jangada de pedra que saiu de Espanha que arrisca naufragar no Atlântico, a caminho dessas ilusões. Há aqui um grande preconceito.
O Diabo - Portugal não acompanhou a Europa?
Adelino Maltez - Portugal saiu completamente fora do modelo Europeu, no plano das atitudes da cultura política. Nós estamos em contra ciclo. Estamos a pedir dinheiro a quem tem uma perspectiva completamente diferente da nossa. Até porque os resultados dessa perspectiva tiveram frutos. Mesmo em países de leste Europeu. Portugal é o único país da União Europeia que está a ir ao fundo. Porque adoramos música celestial e comícios à maneira de Matosinhos. Faz-me lembrar o Marcelo Caetano, uma semana antes do 25 de Abril, a ser aplaudido de pé no Estádio José de Alvalade.
O Diabo - Ao recordar D. João III, ele também titularizou dívida...
Adelino Maltez Nós não estamos como nesse tempo. Porque de vez em quando refundamos-nos. Ao longo da história fomos-nos refundando... A última vez foi em 1974. Portugal só existe porque foi sendo refundado. E é chegado o tempo de nos refundarmos.
O Diabo - Como?
Adelino Maltez - Isso cada um tem a sua proposta. Temos dois caminhos. Ou regeneramos estes partidos por dentro e os partidos, eles próprios, são parte da mudança ou eles vão continuar no desastre e depois chegamos a uma incógnita. Eu sou de uma geração onde não nos mexíamos por causa de dois medos. O medo dos comunistas, por um lado, e o da tropa que fez um golpe de Estado. Estes dois medos faziam com que a sociedade portuguesa não entrasse neste egoísmo. Desaparecidos estes dois medos só resta, hoje, um: ter medo de mim próprio e da minha atitude. E isso é muito difícil de educar. Nós ainda não nos reeducámos o suficiente para funcionar sem estes dois controlos. Mantemos do anterior sistema uma coisa que Orwell chamava de colectivismo de seita. E isso tinha dois nomes: católicos e comunistas. Não tenho nada contra os comunistas ou os católicos. Muitos patifes na sociedade portuguesa vão à missa ou ao comício do PCP. São tipos que não tem o mínimo de ética comunista ou moralidade cristã e que não ama o próximo como a si mesmo, e fazem aos outros o que não gostariam que fizessem a si, mas que vão à missinha. O que é que nós fazemos? Isto é um centro de lavagem pior que a do dinheiro. Eu até já vi Sócrates a benzer-se. Este colectivismo moral de seita, num país como o nosso que tem quatro séculos de meio de inquisição, 50 anos de ditadura, não repara que vivemos numa sociedade pós totalitária ou pós autoritária. Eliminados os mecanismos exteriores de repressão, permanece o subsistema de medo.
O Diabo - Mas os países ex-União Soviética passaram pelo mesmo e conseguiram regenerar-se.
Adelino Maltez - Através dos checos. Nomeadamente aquele ambiente de vigésima quinta hora. Nunca houve tanta paz como no tempo de Salazar. Já não havia a PIDE todos os dias a prender e a bater. Mas havia medinho. A malta não se manifestava porque tinha medo. Neste momento não há PIDE. Há uns espiões que tentam copiar isso mas não chega. Mas, pior que isso, há um micro-autoritarismo. Não há Sócrates mas há socratinhos. Tal como não havia Cavacos mas havia cavaquinhos. Aliás, agora esses cavaquinhos e socratinhos, em muitos micro subsistemas estatais - como nas escolas - têm esse poder. E o que é que eles fazem? "Ah o menino porta-se mal? Não tem subsídio". Têm que perceber que se têm de calar a boca porque quem manda é o chefe e o chefe é o único que lhes garante uma carreirinha sem sobressaltos e umas viagenzinhas ao estrangeiro.
O Diabo -Tem respeito por algum dos candidatos deste momento, dos conhecidos à Assembleia da República?
Adelino Maltez - Por acaso tenho. Alguns até são meus amigos.
O Diabo - E o que é que lhes diz?
Adelino Maltez - Digo-lhes isto e eles ouvem. Não me queixo, sou o tipo que sou ouvido, e durante muito tempo fui considerado maluco, mas como tenho acertado... O meu conceito liberal é a coisa mais simples do mundo, é igual à terceira força do parlamento europeu. Tem à direita o PPE, à esquerda o Partido Socialista. Mas não é o centrão, é o centro excêntrico, radical. E em Portugal não há. As regras de liberais que não param a actual globalização permitiram que grande parte do mundo fosse cada vez mais rico, a China, o Brasil... E nós não estamos a perceber que hoje o jogo é um jogo global.
O Diabo - É por isso que estamos em crise?
Adelino Maltez - Nós estamos em crise porque o euro está em confronto com uma coligação negativa dos chineses e do dólar. Há placas onde isto toca, e nós fomos mais uma vez a vacina. Como foi no tempo em que o comunismo estava a brincar com os Estados Unidos para "papar" Angola e Moçambique. E os grandes deste mundo ocidental disseram: "Deixa estar que os rapazes são insignificantes, se fosse a Espanha era grande demais, vamos espetar a vacina no dorso deles".
O Diabo - Quem são esses "grandes"? Os mercados?
Adelino Maltez - Também. Por exemplo, todas as agências de rating e todo este sistema puniram-no mais do que aquilo que merecíamos, porque sabem perfeitamente que o sistema partidário português não tem agilidade. E que o Presidente é o Senhor Professor Aníbal Cavaco Silva, que é um homem muito previsível, depois dá sempre tanto a prever que nunca actua. Porquê? Porque não é capaz de dizer a verdade, porque Cavaco Silva, quando foi Primeiro Ministro de Portugal, quis ser bom aluno daquele desenvolvimentismo europeu. Desmantelou a agricultura, desmantelou as pescas, e disse que o nosso futuro agora era uma autoestrada de betão a caminho dos subsídios comunitários. Entrou na monocultura. Naquela altura ele tinha que fazer aquilo, não estou a criticá-lo. Mas nunca num regime de monocultura. Deveria ter manha suficiente para fingir a eles que fazia, mas manter uma reserva estratégica.
JOÃO VASCO ALMEIDA E JOÃO FILIPE PEREIRA (TEXTO) E ANTÓNIO LUÍS COELHO (FOTOS) Adelino Maltez: "Estamos entre socratinhos e cavaquinhos"
Em video e com pormenores que não aparecem neste escrito:
1) http://www.youtube.com/watch?v=pddB0-qECaM&feature=related
2)http://www.youtube.com/watch?v=ztu4aXFPtPA&feature=related
3)http://www.youtube.com/watch?v=K2WA00__oxw&feature=related
Adelino Maltez: "Estamos entre socratinhos e cavaquinhos"
por João Vasco Almeida a 19-04-2011
Adelino Maltez, professor universitário, é arrasador: ou há uma revolução liberar, uma refundação, ou não vamos sair da cepa torta. "O povo adora estar entre medos", diz. Mas apresenta uma solução...
O Diabo - Há massa crítica no País para sairmos do sítio onde nos puseram?
Adelino Maltez - Há gente, há território e há história, claro que há. Nós não somos um Estado exíguo. Mesmo em termos europeus, colocamos-nos na situação de médio Estado. O que há é que, em termos organizativos, quer políticos, quer da própria sociedade civil, nós vivemos numa ditadura de incompetência. Ficamos sempre muito entretidos porque há um bloco central de bonzos, como se dizia na I República, que não são nem carne nem peixe e depois, acompanhando o Bloco Central dos bonzos, há os bobos da corte, há os endireitas e há os canhotos. Por isso é que Portugal é o País mais conservador do sistema partidário de toda a Europa. Nós estamos praticamente incólumes, à excepção daquela extrema Esquerda que deixou de ser mobilizada pelo Mário Soares para dentro do PS e que constituiu o Bloco de Esquerda. Isto é um sistema mais estático, mais reaccionário e mais situacionista de todos os nossos companheiros da Europa. Portanto, naturalmente conduz a uma ditadura sistémica. Uma espécie de partidos, sistema, que vivem num sistema de autoclausura reprodutiva.
O Diabo - Perante isso, a massa crítica de que lhe falava resultou em decisões neste sistema?
R: Essa massa crítica parece-me paleio de uma das coisas que nestes últimos anos mais contribuiu para a desgraça nacional que são os escultores das estratégias. São uma espécie de espiões desempregados lendo livros de há 50 anos. De vez em quando há uma minoria de portugueses com generais...
O Diabo - Isso toca em quem?
Adelino Maltez - Isso toca aos chamados estrategistas. Generais desempregados e aos senhores que andam pelas universidades a dizer que inventaram a ciência da estratégia. Eles é que inventaram uma terminologia tão mortífera que destruiu completamente as nossas Forças Armadas e transformou os nossos espiões em novas PIDE's em auto-gestão de espiões. Os factores humanos e a própria terra que temos está completamente paralisada por meia dúzia de preconceitos ideológicos. Porque é que Portugal é o único país da Europa onde ninguém pode ser Liberal?
O Diabo - Porquê?
Adelino Maltez - Eu não sei porquê. É a terceira força no Parlamento Europeu e em Portugal há uma coisa que une Cavaco Silva, Paulo Portas, Passos Coelho, José Sócrates, Louçã e Jerónimo de Sousa: nenhum deles é liberal. E há outra coisa que também é verdade. Se formos aos países que estão no topo dos países com maior desenvolvimento humano do mundo, são todos produtos da civilização Liberal. Se formos a todo o sistema Europeu, mesmo este da União Europeia, Portugal e Espanha são os únicos socialistas. Portugal nem é tão Liberal como o socialismo espanhol. Porque é que nós gostamos de estar em contra ciclo? Porque é que até em termos de coragem, raros são os intelectuais que não têm medo de dizer: "Eu sou mesmo Liberal"?
O Diabo - Mas houve liberais a construir o Estado que hoje conhecemos!
Adelino Maltez - Quem construiu este Estado, da parte moderna que ele tem, foi um homem chamado Mouzinho da Silveira. Ele, pela primeira vez, fez impostos directos para o Estado. Em segundo lugar, aquilo que temos hoje de Estado Social, não nasceu da Revolução Soviética, nem da Revolução Fascista. Nasceu do Beveridge Report, em 1942, feito por um Liberal - chamado William Beveridge. Quando eu vejo trotskistas, estalinistas, pinsilguistas, a dizer "temos que salvar o Estado Social"... Mas eles não o fizeram, eles destruíram-no. Portanto, alguma coisa está mal neste processo.
O Diabo - Neste cenário de eleições que se avizinha, não há nenhuma proposta Liberal em cima da mesa. Ou há?
Adelino Maltez - Nem a de Passos Coelho.
O Diabo - Ele dizia que era liberal...
Adelino Maltez - Ele liberalizava. Andava à procura de um novo programa Social Democrata. Paulo Portas faz parte de um partido do qual fiz parte em quanto existiram liberais. Hoje o seu discurso é o choradinho do Papa Leão X, porque isso dá votos. Está no centro católico português do tempo de Salazar. Não passa disso. Assumiu não ser Liberal e até critica o PSD por não se preocupar com a questão social do século XIX.
O Diabo - Se a situação é esta nos grandes partidos, nos pequenos partidos - e o senhor passou por um com Manuel Monteiro...
Adelino Maltez - Eu passei por duas experiências partidárias no pós 25 de Abril. Uma com Lucas Pires outra com o PND quando ainda foi à Internacional Liberal. Mas também o PND abandonou e foi para o choradinho democrata cristão.
O Diabo - Porque é que não funciona, então, o discurso liberal?
Adelino Maltez - Não funciona porque não há coragem e qualquer palerma sabe que isto não dá votos. Portanto, não dando votos eles partem para a ideologia que dá votos.
O Diabo - A lógica eleitoral em Portugal é uma lógica de mercado?
Adelino Maltez - É uma lógica de mercado sem concorrência. É como as empresas de regime, não é uma lógica de liberdade. É uma lógica repleta de preconceitos e de fantasmas. O problema está em percebermos que as eleições estão fortemente condicionadas pelos aparelhos. E há logo uma ideia em Portugal que ser Liberal é estar a favor dos banqueiros. Porque é que eu não hei-de criticar os banqueiros? Os únicos países onde se prendem banqueiros é em países liberais. Ser Liberal é ser pelo Carrapatoso e pelas empresas onde não há concorrência. Mas porque é que eu não hei-de criticar a falta de concorrência nos sectores onde os empresários vão à televisão e andam a fazer programas para partidos políticos? Porque é que o Liberal é aquele que necessariamente não critica os corruptos? Tem graça, eu já fundei duas vezes a organização de luta contra a corrupção, em Portugal. Todas as estatísticas desmentem os preconceitos, e, portanto, nós estamos com um pezinho no Norte de África. Mas enganámos-nos, porque isto agora faz parte da jangada de pedra que saiu de Espanha que arrisca naufragar no Atlântico, a caminho dessas ilusões. Há aqui um grande preconceito.
O Diabo - Portugal não acompanhou a Europa?
Adelino Maltez - Portugal saiu completamente fora do modelo Europeu, no plano das atitudes da cultura política. Nós estamos em contra ciclo. Estamos a pedir dinheiro a quem tem uma perspectiva completamente diferente da nossa. Até porque os resultados dessa perspectiva tiveram frutos. Mesmo em países de leste Europeu. Portugal é o único país da União Europeia que está a ir ao fundo. Porque adoramos música celestial e comícios à maneira de Matosinhos. Faz-me lembrar o Marcelo Caetano, uma semana antes do 25 de Abril, a ser aplaudido de pé no Estádio José de Alvalade.
O Diabo - Ao recordar D. João III, ele também titularizou dívida...
Adelino Maltez Nós não estamos como nesse tempo. Porque de vez em quando refundamos-nos. Ao longo da história fomos-nos refundando... A última vez foi em 1974. Portugal só existe porque foi sendo refundado. E é chegado o tempo de nos refundarmos.
O Diabo - Como?
Adelino Maltez - Isso cada um tem a sua proposta. Temos dois caminhos. Ou regeneramos estes partidos por dentro e os partidos, eles próprios, são parte da mudança ou eles vão continuar no desastre e depois chegamos a uma incógnita. Eu sou de uma geração onde não nos mexíamos por causa de dois medos. O medo dos comunistas, por um lado, e o da tropa que fez um golpe de Estado. Estes dois medos faziam com que a sociedade portuguesa não entrasse neste egoísmo. Desaparecidos estes dois medos só resta, hoje, um: ter medo de mim próprio e da minha atitude. E isso é muito difícil de educar. Nós ainda não nos reeducámos o suficiente para funcionar sem estes dois controlos. Mantemos do anterior sistema uma coisa que Orwell chamava de colectivismo de seita. E isso tinha dois nomes: católicos e comunistas. Não tenho nada contra os comunistas ou os católicos. Muitos patifes na sociedade portuguesa vão à missa ou ao comício do PCP. São tipos que não tem o mínimo de ética comunista ou moralidade cristã e que não ama o próximo como a si mesmo, e fazem aos outros o que não gostariam que fizessem a si, mas que vão à missinha. O que é que nós fazemos? Isto é um centro de lavagem pior que a do dinheiro. Eu até já vi Sócrates a benzer-se. Este colectivismo moral de seita, num país como o nosso que tem quatro séculos de meio de inquisição, 50 anos de ditadura, não repara que vivemos numa sociedade pós totalitária ou pós autoritária. Eliminados os mecanismos exteriores de repressão, permanece o subsistema de medo.
O Diabo - Mas os países ex-União Soviética passaram pelo mesmo e conseguiram regenerar-se.
Adelino Maltez - Através dos checos. Nomeadamente aquele ambiente de vigésima quinta hora. Nunca houve tanta paz como no tempo de Salazar. Já não havia a PIDE todos os dias a prender e a bater. Mas havia medinho. A malta não se manifestava porque tinha medo. Neste momento não há PIDE. Há uns espiões que tentam copiar isso mas não chega. Mas, pior que isso, há um micro-autoritarismo. Não há Sócrates mas há socratinhos. Tal como não havia Cavacos mas havia cavaquinhos. Aliás, agora esses cavaquinhos e socratinhos, em muitos micro subsistemas estatais - como nas escolas - têm esse poder. E o que é que eles fazem? "Ah o menino porta-se mal? Não tem subsídio". Têm que perceber que se têm de calar a boca porque quem manda é o chefe e o chefe é o único que lhes garante uma carreirinha sem sobressaltos e umas viagenzinhas ao estrangeiro.
O Diabo -Tem respeito por algum dos candidatos deste momento, dos conhecidos à Assembleia da República?
Adelino Maltez - Por acaso tenho. Alguns até são meus amigos.
O Diabo - E o que é que lhes diz?
Adelino Maltez - Digo-lhes isto e eles ouvem. Não me queixo, sou o tipo que sou ouvido, e durante muito tempo fui considerado maluco, mas como tenho acertado... O meu conceito liberal é a coisa mais simples do mundo, é igual à terceira força do parlamento europeu. Tem à direita o PPE, à esquerda o Partido Socialista. Mas não é o centrão, é o centro excêntrico, radical. E em Portugal não há. As regras de liberais que não param a actual globalização permitiram que grande parte do mundo fosse cada vez mais rico, a China, o Brasil... E nós não estamos a perceber que hoje o jogo é um jogo global.
O Diabo - É por isso que estamos em crise?
Adelino Maltez - Nós estamos em crise porque o euro está em confronto com uma coligação negativa dos chineses e do dólar. Há placas onde isto toca, e nós fomos mais uma vez a vacina. Como foi no tempo em que o comunismo estava a brincar com os Estados Unidos para "papar" Angola e Moçambique. E os grandes deste mundo ocidental disseram: "Deixa estar que os rapazes são insignificantes, se fosse a Espanha era grande demais, vamos espetar a vacina no dorso deles".
O Diabo - Quem são esses "grandes"? Os mercados?
Adelino Maltez - Também. Por exemplo, todas as agências de rating e todo este sistema puniram-no mais do que aquilo que merecíamos, porque sabem perfeitamente que o sistema partidário português não tem agilidade. E que o Presidente é o Senhor Professor Aníbal Cavaco Silva, que é um homem muito previsível, depois dá sempre tanto a prever que nunca actua. Porquê? Porque não é capaz de dizer a verdade, porque Cavaco Silva, quando foi Primeiro Ministro de Portugal, quis ser bom aluno daquele desenvolvimentismo europeu. Desmantelou a agricultura, desmantelou as pescas, e disse que o nosso futuro agora era uma autoestrada de betão a caminho dos subsídios comunitários. Entrou na monocultura. Naquela altura ele tinha que fazer aquilo, não estou a criticá-lo. Mas nunca num regime de monocultura. Deveria ter manha suficiente para fingir a eles que fazia, mas manter uma reserva estratégica.
JOÃO VASCO ALMEIDA E JOÃO FILIPE PEREIRA (TEXTO) E ANTÓNIO LUÍS COELHO (FOTOS) Adelino Maltez: "Estamos entre socratinhos e cavaquinhos"
Em video e com pormenores que não aparecem neste escrito:
1) http://www.youtube.com/watch?v=pddB0-qECaM&feature=related
2)http://www.youtube.com/watch?v=ztu4aXFPtPA&feature=related
3)http://www.youtube.com/watch?v=K2WA00__oxw&feature=related
18.4.11
Do mal, o menos. Vida nova, precisa-se!
Os fraccionários da cidade, os que nem sequer têm dimensão de dissidentes, voltaram a ser os velhos censores da república romana. Não dos que fixam a lista dos cidadãos, mas dos que estabelecem a lista parlamentar da classe política, distrito a distrito, onde metem meia dúzia de independentes, as cerejas que aparecem no bolo do costume. Ontem não foi domingo de ramos, foi domingo de listas!
O problema é que não podemos chegar ao todo directamente, em encontros imediatos de um só ou da parcela que o apoia com a divindade da república. Cada um e cada parte só vê o todo do seu lugar, da sua perspectiva. Daí que o essencial sejam os lugares comuns, através dos quais podemos dialogar.
A multiplicidade pode levar ao uno e é da concórdia dos cânones discordantes que pode nascer a harmonia. Importa, pois, eliminar a atracção absolutista e centralista nas actuais fracções. O que está em baixo é o que vai, depois, reproduzir-se em cima. Logo, o pior não está no dogma, mas antes no temperamento dogmático.
Por outras palavras, o poder não está no parlamento nem nos deputados. Está nos directórios partidários que o definem e os escolhem. Lenine chamava à coisa centralismo partidário. Coisa equivalente ao modelo weberiano da era pré-racionalismo normativo. Os fiéis continuam a ter o primado sobre os competentes. É a chamada legitimidade feudal, face aos fragmentários chefes de bandos.
Até Seguro é parte profunda do aparelho. Pode não ser coincidente com o que ocupa o centro. Mas é aparelho. E ainda bem.
O PS ficou na defensiva. A novidade dos cabeças de listas coincide com o ministerialismo, os respectivos ajudantes e um importante director-geral. A marca de água do situacionismo vigente equivale ao carisma. Com um pequeno toque de Comte, a "révolution d'en haut". A clarificação pode não ser lá muito luminosa, mas quanto mais baço, mais propaganda.
Vamos ser francos: a soma das listas PS, PSD, CDS, PCP e BE, em termos de meritocracia, fica inferior ao simples abaixo assinado dos notáveis, os chamados 47, da democracia antiga. Por outras palavras, mesmo as elites do situacionismo não foram convidadas, ou recusaram. Vou mais pela primeira alternativa.
A partidocracia continua a ter medo de cometer erros. E não foi apenas o reflexo condicionado Nobre. Os partidos já reconheceram a autoclausura reprodutiva. E temem as negas. Por isso se refugiam no conservadorismo do que está. E sabem, experimentalmente falando, que os investimentos se farão mais na aposta dos novos governantes. Parlamento aproxima-se do solar dos barrigas de 1895. Falta uma Segunda Câmara.
Basílio Horta como cabeça de lista do PS, confirma-se. Uma justa homenagem a uma certa alta da primavera marcelista. Uma anterior aposta do PS, tanto através da candidatura autárquica do ministro das corporações Silva Pinto, como pelo recurso a Veiga Simão. Para além da colaboração dada pelo antigo secretário-geral do CDS a Sousa Franco, a antiga e justa amizade com Ferro Rodrigues.
A engenharia das listas dos candidatos ao arco da governação mostra menos renovação do que continuidade. Nobre reconheceu ter causado celeuma e assumiu erros. Para poder comunicar a mensagem alegórica do carro atolado, com muitos treinadores de bancada dando palpites. Permitiu que os críticos laranjas considerassem ultrapassado o equívoco. E reafirmou a identidade de esquerda. Continua no jogo, não foi eliminado.
Sócrates não fez purgas internas. Alegristas, soaristas, guterristas, ferristas e seguros perceberam que Sócrates pode passar, mas o PS tem de continuar. Até no eventual governo gestor das condições que os credores nos impuserem. Apesar de tudo, é boa notícia para a democracia.
Entre o erro plenamente assumido por Fernando Nobre e o erro que podemos cometer na negociação política com os credores, prefiro que não se cometa o segundo. E bem gostaria que o PCP mudasse o discurso silogístico, impondo as suas condições para adesão a um acordo de regime. Nem que seja um acordo quanto aos limites do desacordo.
Apesar de tudo, prefiro o, do mal o menos. Não gostaria que este regime ardesse antes do Verão. Prefiro que ele ainda tente a regeneração a partir de dentro. E que o governo saído das próximas eleições possa refundar o regime. Preferia que fosse através do estilo dos governos provisórios que fundaram a democracia vigente. Às vezes, o povo é sábio e pode ser que as próximas eleições sejam um golpe de Estado sem efusão de sangue, impondo que o partido vencedor recorra a uma aliança nos quadros do arco dito da governação, menos por imposição dos credores e mais por vontade nacional.
Até o PCP deveria entrar no arco constitucional, numa espécie de acordo de regime, onde se fixariam, pelo menos, os limites do desacordo. Estou convencido que o PS, mesmo que o não diga, já entrou em era pós-socrática. Tal como o PSD fugiu da tentação de restaurar uma espécie de cavaquismo sem Cavaco. Os ismos da velha personalização do poder devem dar lugar a uma verdadeira institucionalização do poder. No governo, no parlamento e na presidência. Pode ser o começo da vida nova*.
*A proposta de vida nova, nascida do grupo dos ditos vencidos da vida. Julgo que eles não deveriam perder desta vez. Uma homenagem a António Cândido e a Joaquim Pedro de Oliveira Martins, os verdadeiros fundadores de uma politologia com tradições portuguesas, também ainda por cumprir.
17.4.11
Protestos de um homem religioso em dia de festa da árvore
Acordei a ver programas religiosos na RTP2. Primeiro, os evangélicos, bons. Depois, o CUPAV dos meus amigos jesuítas, óptimos. Um pouco de espírito faz-nos mais homens. Sobretudo, no dia seguinte a uma tarde de hospital, por causa de um susto que não passou disso mesmo, mas graças a análises e aparelhos, determinou-se que a causa não era do meu já velho susto. E lá volto ao espírito e à luta, mas de ideias.
Gostei de rever um rapaz da minha idade, o Padre Vaz Pinto. Conheci-o, de Cernache, Coimbra, quando eu já não era católico, em conversas com o Padre Felgueiras, o de Timor. Era correspondente do Expresso em Coimbra e "motard", contando-me das experiências que tivera na Polónia e na Cuba dos comunistas. Foi boa a vacina da verdade. Julgo que estamos na mesma. À procura. Infelizmente, ainda não achei, mas continuo a navegar.
E em todos os censos, sou discriminado. Obrigam-me a pôr "sem" nenhuma dessas religiões elencadas pelas porcarias estatísticas que não admitem a pluralidade de pertenças. Não há espaço para heréticos nem para panteístas, mas apenas para os filhos dilectos de vários rebanhos do Senhor e para os que reduzem substantivos a adjectivações. E ainda por cima, as minhas crenças são tipificadamente comungadas por milhões e tão identificadas que algumas vezes até foram punidas por ideologias que começaram a assaltar os Estados em 1917 e 1922, já que o Código de Direito Canónico não se me aplica. Muito menos, as várias bulas proibitivas emitidas por certos teólogos oficiais de outra religião do livro, a começada em 622.
Partem é do preconceito de considerarem os "sem Deus revelado" como "contra Deus", isto é, agnósticos, na versão benigna, ou ateus, na versão maniqueísta, mesmo sem fogueira. É a chamada falsificação estatística, sobretudo para quem é tão a favor de Deus que defende o pluralismo dos divinos, mesmo admitindo, como bom pagão, a superioridade de um deus desconhecido e para quem é tão coincidente com os cristãos que vai por aí acima, raiz a raiz, e chega aos estóicos.
É por isso que me apeteceu responder como "Protestante"... embora a pergunta seja legalmente facultativa. Mas é teologicamente parva.
Isto é, obrigaram-me a mentir para me aproximar da verdade, ao ter de colocar o "sem religião", quando, regiamente, sou "um homem religioso"...
O que pela poesia se transmite: sempre o indizível se disse.
Metade
Oswaldo Montenegro
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.
Oswaldo Montenegro
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.
15.4.11
Havia uma grande corrupção, na verdade, mas muito menos devorismo do que cepticismo
Fixem este nome: António Maria Pereira Carrilho (1835-1903). Foi o inventor da Caixa Geral de Depósitos, enquanto director-geral da contabilidade pública. Um desses burocratas que deixou nome nas ruas de Lisboa e que, depois da bancarrota de 1892, conseguiu o convénio com os credores estrangeiros em 1902. E que durou 99 anos.
O chefe do governo francês, Ribot, em 1892, em discurso no parlamento de Paris, chegou a falar na necessidade de uma "intervenção colectiva de todas as potências interessadas". O último pedaço de empréstimo foi pago em 2001 (sic). Regicídio, republiquicídio e ditadura são a consequência directa dessa agiotagem e dessa incompetência. Só que agora a batalha de Marracuene é o ópio Liga Europa em futebol.
"O maior perigo social, mais do que nas deflagrações do petróleo e nas bombas de dinamite, está na tavolagem dos partidos e na política de arranjos; está no emprego dos expedientes e no abandono dos princípios" (Padre Alves Mendes em 1892, na Igreja dos Congregados, no Porto).
"Pior ainda do que as outras votações simuladas, é a vitória obtida à custa da venalidade das consciências, da corrupção dos eleitores e da falsificação do sufrágio livre, por meio de toda a sorte de indignidades" (Jornal O Século, em 1892, depois da bancarrota).
"É de suicidas o povo de Portugal, talvez ele seja um povo suicida" (Miguel de Unamuno, na imagem, ano de 1893, ano um depois da bancarrota).
"O português é constitucionalmente pessimista" (Miguel de Unamuno, 1894, dois anos depois da bancarrota)
"Não há Portugal sem África" (António Ennes, 1895, três anos depois da bancarrota). "O país já não pode com tantas possessões" (José Bento Ferreira de Almeida, ministro que andou à bofetada no parlamento).
"Não é de hoje: é desde há anos que está travado um duelo entre o País e a oligarquia política" (J. Dias Ferreira, quatro anos depois da bancarrota).
"A minha superioridade consiste em ter apenas uma cara...Vossa Excelência, sendo um político, não tem apenas uma" (Joaquim Mouzinho de Albuquerque sobre José Luciano, em 1897, cinco anos depois da bancarrota).
"No poder têm estado verdadeiras quadrilhas de ladrões" (J. Dias Ferreira em 1897, seis anos depois da bancarrota).
"Em volta do governo está-se planeando uma caterva de negócios" (António Ennes, em 1900, oito anos depois da bancarrota, oito anos antes do regicídio)
"Havia uma grande corrupção, na verdade, mas muito menos devorismo do que cepticismo" (José Agostinho, 1902).
"Os governados não respeitam nem estimam quase nunca os governantes, e ao despotismo de cima, respondem com a má vontade e a rebelião de baixo" (Bernardino Machado, 1903). Por outras palavras, uma década perdida depois da bancarrota, mesmo no ano um do acordo com os credores. O regime só vai cair, sete anos depois, e a tiro.
14.4.11
O Tejo e o Douro dão lições do bel canto. Por Teresa Vieira.
Se os verdadeiros escravos são também aqueles que não reconhecem as correntes ou nem delas têm consciência, então, a violência invisível pode ganhar foro de lei, na estrutura e na conjuntura que cerca o individuo.
Les Justes de Camus, infelizmente sempre actual, constitui também uma ideia que se aplica ao terrorismo em sentido lato do termo, ou quando ele justifica a paz pela morte ou a guerra como único recurso.
Em verdade a questão também passa por todos sermos reféns, até mesmo da não felicidade, se este Portugal continuar a ser, como no verso de O’Neil, a questão que nós temos connosco mesmos, se esta questão, acrescentaríamos, fosse apátrida.
Acredito nas impopulares responsabilidades de nós próprios para connosco face à imagem que projectámos, se atentarmos o quanto elas se atreveram a fazer-nos frente avisando-nos com fundados juízos, que o remédio que tomávamos nos intoxicava a própria razão.
Portugal é também um país mimético e os portugueses são porosos e fascinados por tudo o que possa ser um qualquer algures.
Ora o grande perigo reside nesse exacto qualquer algures que de manso nos vai e foi tolhendo a liberdade.
Um país sob tutela ou curatela de outros mandos terá de assumir, que os aspectos traumáticos dessa submissão lhe calham ao nível pessoal e colectivo.
E terá de assumir a maleabilidade com que aceitou e fez jus ao facilitismo de nada incomodar o suficiente que desse para contraditar em tempos anteriores.
Viveram-se anos de uma impostura alegre entre as gentes que comunicavam através de uma ambiguidade política e humanas confrangedoras.
A massa informe de eleitores decepcionados ou arrependidos dispostos a pastorar o voto por algo semelhante ao que repudiaram, criou fortes raízes na governação difusa e tranquilizante, assente na incompetência ou no provar capacidades para adquirir cargos e estatutos à medida.
Depois lá ia chegando a melancolia de quem por esse modo agride a própria frustração.
Mas, até essa melancolia de cavalaria parda, apenas aparecia como os cometas, em horizontes distantes e distorcidos pelas sombras.
E eis que chegados aos tempos das virtudes novas e arrebatadoras, já todos se encontravam dormentes e agrilhoados o suficiente, para lhes não dar alento ou convicção de credibilidade.
Ainda assim há sempre portas na porta do ser. Há sempre jeito de travar as frustrações ingovernáveis.
Surgem mesmo liberdades novas por sob o esmagamento espiritual de uma tristeza que se não identifica com quem nas suas mãos o oiro e o ferro fizeram força.
Assim, nesta questão do Portugal, enquanto questão connosco mesmos, como afirmava O’Neil, nunca será demais alertar que haverá que não recriar com outra tinta a ilusão de que tudo o que a precede não foi verdade.
Como já escreveu Calvino, a coragem é uma coisa que não podemos dar a nós próprios, mas, se acrescentarmos que a vida faz confiança na inteligência, esta saberá que não há virtudes perfeitas e também reconhecerá que, desapaixonados, os povos nunca foram nada, pois reconheceu-se há muito o quanto o intermédio permanente não corrige mundo ou vida.
O Tejo e o Douro dão lições do bel canto enquanto uma luz áurea os distingue de qualquer modo estandardizado do percorrer e do decifrar.
Então e por Sebastião da Gama digo:
Alevanta-te povo!
M. Teresa Bracinha Vieira
Corre Abril no sec.XXI e no ano de 2011
12.4.11
À laia de testamento colectivo
Não passo de uma pequena minoria constituída apenas por mim mesmo e pelos que me honram ae ouvir-me ou ler-me, incluindo os que discordam do que penso ou digo. Mas sinto que, por estes dias, se jogam destinos comunitários de séculos, isto é, das sucessivas refundações do Portugal político, coisas bem superiores a orgulhos individuais ou opções ideológicas de grupos.
Sou dos que sempre discordou politicamente de Cavaco Silva. Apenas me lembra de ter votado PPD com primeiro Sá Carneiro. Nunca fui de esquerda. Não odeio o Partido Socialista, onde tenho dos melhores amigos. Já votei PCP, algumas vezes. E não tenho condições de saúde para poder voltar a ser actor político, mesmo secundário, como sempre fui. Mas não desisto do civismo. Daí persistir como homem revoltado.
Diferentemente de Passos Coelho e de Fernando Nobre, sou um liberal assumido e, se houvesse um partido que como tal pensasse e actuasse, estava condenado a nele me inscrever como soldado. E nem sequer tenho de inventar nada: alinho perfeitamente naquele que é o terceiro maior grupo político europeu, o que não está tão está tão à direita como o PPE, nem tão à esquerda como os socialistas europeus.
Infelizmente, sendo do contra face aos bonzos dominantes do PSD e do PS, não alinho nos endireitas e nos canhotos que os têm perpetuado. E como tal tenho pensado e tenho dito. Especialmente quando os resultados da nossa economia e das nossas finanças conduziram ao presente desastre e os resultados políticos previsíveis ameaçam a cereja do impasse nas próximas eleições.
Os actores políticos portugueses, entre presidentes e ex-presidentes, e partidos, têm tanta culpa quanto os chamados fazedores de opinião e comentadores chamados ao microfone, à escrita e ao écran, entre os quais me incluo. Todos tememos ultrapassar o conservadorismo do que está, porque todos temos medo. Por outras palavras, ainda estamos no dia 24 de Abril de 1974. Estupidamente sós.
Sou dos que sempre discordou politicamente de Cavaco Silva. Apenas me lembra de ter votado PPD com primeiro Sá Carneiro. Nunca fui de esquerda. Não odeio o Partido Socialista, onde tenho dos melhores amigos. Já votei PCP, algumas vezes. E não tenho condições de saúde para poder voltar a ser actor político, mesmo secundário, como sempre fui. Mas não desisto do civismo. Daí persistir como homem revoltado.
Diferentemente de Passos Coelho e de Fernando Nobre, sou um liberal assumido e, se houvesse um partido que como tal pensasse e actuasse, estava condenado a nele me inscrever como soldado. E nem sequer tenho de inventar nada: alinho perfeitamente naquele que é o terceiro maior grupo político europeu, o que não está tão está tão à direita como o PPE, nem tão à esquerda como os socialistas europeus.
Infelizmente, sendo do contra face aos bonzos dominantes do PSD e do PS, não alinho nos endireitas e nos canhotos que os têm perpetuado. E como tal tenho pensado e tenho dito. Especialmente quando os resultados da nossa economia e das nossas finanças conduziram ao presente desastre e os resultados políticos previsíveis ameaçam a cereja do impasse nas próximas eleições.
Os actores políticos portugueses, entre presidentes e ex-presidentes, e partidos, têm tanta culpa quanto os chamados fazedores de opinião e comentadores chamados ao microfone, à escrita e ao écran, entre os quais me incluo. Todos tememos ultrapassar o conservadorismo do que está, porque todos temos medo. Por outras palavras, ainda estamos no dia 24 de Abril de 1974. Estupidamente sós.
10.4.11
Acabou a festa, pá!
Na procissão do senhor, em Matosinhos, foi tudo música celestial. Agora é " PS mais o FMI", há menos de uma semana, o "eu não estou disponível para governar com o FMI".
Ninguém quis ver, ouvir ou ler que, em menos de meio século, fomos, mais uma vez, arrastados, como na guerra e na descolonização, de metrópole e "bom aluno", a um Portugal-Colónia a pedir que nos ordenem de fora.
Enquanto isto, 47 notáveis dos sucessivos situacionismos manifestavam-se numa espécie de golpe do abaixo-assinado, com Cavaco a tentar exportar a imaginação dos tapetes de Arraiolos para Budapeste.
Mas o comissário do vazio de Europa, Olli Rehn, utilizou, com toda a previsibilidade, a brutal linguagem do ultimatum. Afinal, os catastrofistas e profetas da desgraça eram bem mais suaves do que os cortes a que fomos condenados, piores que os da ditadura das Finanças de 1928.
Por outras palavras, acabou o federalismo sem dor e os palermas da vacina serão apenas súbditos de uma unilateral governação económica da Europa. Acabou a festa, pá! A agit-prop já inventou outra história, alterando o vilão e o enredo.
No DN de hoje
7.4.11
Cenas beckettianas à espera do resgate
1
Almeida Santos, conselheiro de Estado, desmente Bagão Félix, conselheiro de Estado, também desmentido por Carlos César, conselheiro de Estado. Tudo porque Bagão desmentiu José Sócrates. Verdade além dos Pirinéus não coincide com a verdade de três responsáveis do Partido Socialista. Se todos forem falando de acordo com o partido, não há mesmo dignidade para o órgão.
2
Já pisámos o risco do funcionamento regular das instituições. A não ser que o normal seja haver anormais. Glosando Almeida Santos de outras eras: não quero viver num manicómio em autogestão!
3
Seria ridículo que o Presidente pedisse ao PGR para fazer mais um inquérito sobre a fuga de informação. Ainda haveria fuga sobre a fuga... O burlesco seria divertido, caso o fundo não fosse trágico! Dirão os especialistas em "marketing": mais uma vez, Sócrates marcou a agenda!
4
Depois do pronunciamento de Carlos Santos Ferreira, ontem, hoje vai pronunciar-se Ricardo Salgado. Perante Judite de Sousa. Todos os dias, mais uma consulta nos sucessivos divã do regime.
5
Francisco Assis já o admite: "Se porventura a situação se degradar a ponto de termos que encontrar uma solução de ajuda externa é evidente que o deveremos sempre fazer na base de um consenso". Um problema de simples bom senso.
6
O senhor banqueiro Salgado não tem nenhuma legitimidade para invocar a "unidade nacional" ou o "projecto europeu". Tem apenas a obrigação patriótica de cumprir o seu dever como banqueiro. O poder da facção lusa da geofinança está subordinado ao poder político. E ele já demonstrou como não tem legitimidade para aí nos dar sentenças. Nem invocando o estatuto de arrependido.
7
Porque sou liberal, quero a política liberta da pressão do banqueirismo. E é também como liberal que invoco o legado de Mouzinho da Silveira, o principal dos criadores do Estado português contemporâneo. Pelo menos na limpeza das receitas e das despesas. Se continuarmos entre empresas de economia mística, continuaremos a nacionalizar os prejuízos e a privatizar os lucros.
8
O vasquinho, na “Canção de Lisboa”, também dizia: "chapéus, há muitos". Mas só para os "palermas". Não é na 25ª hora que alguns conseguem sacudir a água do capote. Não é dignidade do trabalho que nos agrava o défice. São antes os juros da dívida e as PPPs, as contratadas e as clandestinas. Não estou disposto a continuar a pagar sem a necessária democracia fiscal. Também não quero ser protectorado dos banqueiros dos sucessivos regimes.
9
Esta polémica está a colocar em risco o normal funcionamento das instituições e sugere que se sigam os ex-presidentes da República, que têm tido “uma voz superior a estes partidarismos e a este facciosismo”. Estamos a pisar as raias do funcionamento regular das instituições e a pisá-las, sobretudo, num órgão que devia dar o exemplo”. Citando A. Santos, “isto não pode ser um manicómio em auto-gestão” (JAM, à Renascença).
10
Do Bloco ao Bloqueio: "Nunca houve tantos candidatos a secretário-geral do PS como desta vez: foram quatro e normalmente era um só...Se não quiserem fazer coligações com o PS por ser liderado por José Sócrates, quem bloqueará o país será a oposição. Quem bloquear assumirá as responsabilidades"
11
Finalmente, falou o socialista francês, director do FMI e eventual candidato à presidência em Paris, contra a direita. O camarada de Sócrates é claro: "o problema não é tanto a dívida pública como o de financiamento de bancos e a dívida privada, o que o tornam um caso completamente diferente da Grécia". Os salgados que não nos dêem lições, ao povo, e as PPPs que se amanhem...
12
Como é que eu posso acreditar em banqueiros que, ainda há poucos meses, defendiam o betão pelo betão e tratavam a classe política como meros empregados, enquanto nada diziam de mostrengos que agora são os simples contribuintes a terem que pagar, como no caso de suprapartidos do bloqueio central, bem expressos pelo modelo BPN, onde, à esquerda e à direita, se recrutavam ex-ministros para que a procissão da roubalheira criminosa nos sugasse, repetindo o modelo Alves dos Reis e dos seus impolutos administradores, feitos inocentes inocentes úteis, de acordo com os velhos manuais da psicologia da burla!
13
O problema português não o do esquerdismo ou direitismo, mas dos clássicos burlões cuja lábia nos continua a intrujar! Nem sequer são mafiosos, porque lhes basta a actualização do conto do vigário...
14
Votarei no político que venha ao espaço público declarar: o problema português não é o do esquerdismo ou direitismo, mas dos clássicos burlões cuja lábia nos continua a intrujar! Nem sequer são mafiosos, porque lhes basta a actualização do conto do vigário... Logo, investiguem-me! Aquele que apanhar na minha vida uma só cedência à roubalheira, fique certo que imediatamente me demitirei!
15
Apaziguamento, concórdia, acalmação, união sagrada, ministério nacional, concentração, bloco central, convergência alargada, salvação nacional, salvação pública, coligação. Mas apesar de tanto fim e tanto inferno de boas intenções, agora vai tudo, vou sozinho às eleições e depois do cheque endossado, negócio arrumado.
16
O problema político está na desconstrução da linguagem teológica sobre a unidade na diversidade, entre a santíssima trindade laica e a ira divina da ajuda externa que é coisa bem mais prosaica sobre o paga o que deves ao ritmo de "ultimatum" já sem "heróis do mar"...
17
Não foi por alguns, foi só por ele que ele pensava que era o todo e todos tiveram de suspendar a política e voltar à casa, com oikos despote
18
Como disse ontem Carrilho, propaganda hoje é contar-se uma história simples, fingindo que a realidade é ficção e levá-la até à exaustão, com um herói e um vilão, a salvação e o inferno. Digo eu: vivemos em messianismo de telenovela e o povo pode não querer ser autor e continuar como simples auditor. Por mim, prefiro desconstruir, para que venha a verdade em cada um
19
Os contadores de história ainda mandam, entre PECs e FMIs, ao ritmo dos televangelistas, reinventando o "Gegenreich", o "Anticristo" e a própria antinação, como os derradeiros salvadores deste orgulhosamente sós de má memória. Espero que os socialistas simples não se misturem com este nacionalismo de opereta.
20
Leio mais um comunicado, logo certificado pelo outro, porque antes de o mesmo ser emitido foi negociada a confirmação. Podemos também certificar que um quarto de hora antes do presente situacionismo morrer ele ainda estava bem vivinho com muitos mouros na costa e alguns discursos daquilo que outrora se designou como brigada do reumático.
21
Senhor Presidente da Assembleia da República, Senhor Deputado Jaime Gama, terminou o seu tempo. Últimas palavras, depois de anunciar que não seria candidato na próxima legislatura. Ou o criador reconhecendo o que é efectivamente a sua criatura. Bons foram os discursos de Mota Amaral e de Francisco Assis. Jorge Lacão continuou bem abaixo, ao nível da malhação governamentalista.
22
Depois dos banqueiros, parece que chegou a vez de Merkel... Será que querem mesmo procurar novos feitores?
23
Fim do princípio. Depois do sinal de Lacão, Teixeira dos Santos reconhece que se vai pedir ajuda externa. Sócrates faz comunicação ao país às 20 horas.
24
FEEF/FMI, a coligação vencedora, pré-eleitoral.
25
O que eu disse não foi aquilo que vocês ouviram do que eu disse, eu sempre disse tudo aquilo que não me impede de dizer aquilo que me apeteça dizer. Infelizmente, ainda há quem pense que possa dizer alguma palavra em que possamos confiar!
26
O velho partido que nos trouxe o FMI por duas vezes, chegou à conclusão que não há duas sem três. Aliás o director do FMI é um tal de Strauss Kahn, por acaso camarada da Internacional Socialista. Pode ser um argumento que o nosso JSPS use em seu favor...
27
A teoria mais inspiradora que eu conheço tem a ver com o mexilhão, embora esteja momentaneamente suspensa a apanha dos bivalves, para que o mar enrole na areia e dado que as ondas do mar são brancas e no centro são amarelas, prós coitadinhos dos que nasceram e votaram no vira-o-disco-e-toca-o-mesmo
28
Portugal já entrou na era pós-gâmica da história, mas sem trazermos canela nem fazermos cristãos. Ficámo-nos pelo Cabo das Tormentas, levámos nas trombas do Adamastor e corremos o risco de afundamento se passarmos até diante do Bojador...pesada é a pedra desta jangada, com tantos náufragos famintos!
29
Julgo que nunca tivemos muito bom senso. E em vez de ter ou estar era melhor o ser...
30
"Alors, on y va?"..."Allons-y." Diz o Vladimir para o Estragon no "À Espera de Godot". Mas afinal "Ils ne bougent pas." Está tudo no Samuel Beckett. Na peça publicada poucos meses depois de eu ter nascido.
31
Depois desta da TVI, consta que a Prisa e o Miguel Paes Amaral já encetaram contactos com a Manuela Moura Guedes para o imediato regresso à estação, dado que foi essa a condição imposta por Henrique Medina Carreira para a entrevista em que explica como não aceitou o convite de Sócrates para suceder a Teixeira dos Santos.
32
Hoje é o fim do Sócrates II. Mas já houve um Sócrates I e é do povo que depende haver um novo heterónimo, tipo Sócrates III, embora ele possa voltar mesmo com outro nome e com outro partido. Preferia vida nova.
33
Sim, sempre o problema da pecuária...
34
Tenho outra solução: um Portugal feito de "portugueses à solta", em vez de um Estadão em soltura, ou absoluto, sobretudo para gáudio das empresas de regime e a casta bancoburocrática que mantêm estas sucessivas ditaduras da incompetência, dominadas por uma classe política de bonzos, animando jogos florais de endireitas e canhotos...
35
O mal a que chegámos vem da empregomania, do carreirismo cobarde e de órgãos inventados para que se finja o cumprimento de funções.
36
Por outras palavras, os empresários devem apenas ser empresários. Em política, nem sentenças!
37
O "Pingo Doce" anuncia que vai investir em agricultura (Imaginação criadora, para responder a um grupo que foi o principal beneficário deste modelo pós-revolucionário de socialismo de consumo).
38
Não são apenas os investidores que têm direito a ser bem remunerados. Sem dignidade do trablaho não há justiça, palavras que ASS nunca usou.
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Porque a maior fuga que se nota de Portugal não é de capitais. É de gente, de pessoas concretas, à procura de liberdade
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Hoje, alguma coisa de novo começa a mexer esta carcaça de conservadores do que está que nem sequer são conservadores do que deve ser
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Declarações de há minutos de alguém do círculo íntimo: "sempre cumprimos aquilo que prometemos; não pedimos ajuda externa que isso só retrógados anti-europeístas é que não assumem; com efeito, a Europa não é estrangeiros, segundo os tratados e a nossa constituição; e assistência financeira está no âmbito da nossa coerente defesa do Estado Social".
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Sócrates cumpre sempre aquilo que diz: «Eu não estou disponível, da minha parte, para governar com o FMI». A 20 de Março de 2011. Eu não lhe li os lábios. Confirmo a lábia.
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Dizem que a telenovela vai dar os últimos episódios da chamada "Espírito Indomável". Parece que agora o vilão já está definitivamente em fuga. Mas pode haver reviravoltas. Vou ver que amanhã é só futebol, com a assistência financeira dos que vão agora pedir assistência financeira.
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Dizem que Sócrates vai suspender a liderança do PS, assumindo a plenitude do agir patrioticamente. Só volta no dia 1 de Junho, já com a assistência rascunhada. Também consta que Cavaco vai designar um condomínio directivo para a negociação. Para além de Sócrates, Carlos Carvalhas, Manuela Ferreira Leite e Medina Carreira.
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"Um pedido de assistência financeira...que lamento...mas...me empenharei com toda a minha determinação". Não sabia que em Bruxelas havia prego, penhores, ou uma casa de crédito popular, como havia na velha Caixa...
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Depois do Vladimir, fala o Estragon. Para haver diálogo, tem que haver lugares comuns (os "loci" ou "topoi" da velha dialéctica que devia ser sempre o método da democracia). Continuaremos à espera. Preferia fazê-lo por D. Sebastião.
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"As lideranças que vão estar no congresso são as mesmas que querem integrar as próximas listas e estas são feitas por quem anda à volta do líder e de José Sócrates". "Os que estão a aguardar apoio para uma candidatura e que a querem até vão apoiá-lo [Sócrates] nos próximos tempos". Pelo menos até serem conhecidos os resultados das legislativas, nas quais Sócrates será recandidato a primeiro-ministro.
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A única coisa que a classe política dos náufragos discute: qual o meu lugar na lista e quantos é que vamos meter. Porque a coisa está mesmo preta neste tem-te não caias... Telefona ao Relvas, Manel! E não te esqueças de recordar ao Renato Sampaio aquele belo almoço com o Sócrates. E tu, Paulinho, marca lá na agenda a feira da próxima semana...
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Ser da classe política ou independente à espera de um convite é a grande azáfama de cerca de cinco mil portugueses entre os capitaleiros da sociedade de corte e os anjos da província que querem bilhete para uma adequada queda. Tudo em nome da defesa do quadrado de muitas vidinhas de subpolíticos profissionais pouco dados ao conselho antigo: vale mais torceres do que quebrares, tu não sabes fazer mais nada!