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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

14.10.04

Falange Demagógica promove distúrbios em Coimbra



A cerimónia de abertura solene das aulas na Universidade de Coimbra foi interrompida, ao final da manhã de ontem, por cerca de 20 estudantes, a maior parte dos quais afecta à Falange Demagógica. O gesto motivou o abandono da Sala dos Capelos por parte do reitor, Manuel Arriaga, que foi seguido pelos restantes professores e convidados. Foi então que um dos alunos empunhou um funil e proferiu palavras de ordem como: "Afonso Costa é um aldrabão" ou "Morte ao Afonso".

O reitor já tinha proferido o seu discurso de uma hora, a que se seguiu a intervenção do presidente da Associação Académica de Coimbra, Manuel Gonçalves Cerejeira. Depois, sem que nada o fizesse esperar, um grupo de cerca de 20 alunos apoderou-se do funil da tribuna. O reitor ainda ouviu duas intervenções de alunos que falaram em nome do "Conselho das Reais Repúblicas".


Ao aperceber-se, após os dois discursos, de que as intervenções iriam continuar, Arriaga decidiu então abandonar a Sala dos Capelos. Ouviram-se ainda algumas frases de alguns desses alunos e da única aluna inscrita, mais ou menos filosóficas, irrompendo depois a tal intervenção de funil, atacando o presidente do ministério.

Com palmas de alunos que se encontravam ao fundo da sala e a vozearia de desaprovação de funcionários e professores, gerou-se a debandada geral da Sala dos Capelos. Na confusão, um professor achou até uma borla com a cor de Direito e perguntou ao antigo reitor Alexandre Seabra se o peculiar chapéu lhe pertencia, ao que este respondeu negativamente.

Durante a tarde, outro professor, Marnoco e Sousa, antigo ministro da monarquia e que foi convidado para uma pasta recentemente, pelo próprio Afonso Costa, afirmou que não se recorda de um semelhante acto se ter verificado na história da Universidade de Coimbra. Quanto ao sucedido, o catedrático considera que "o direito à crítica já tinha sido amplamente exercido na sessão, através de um excelente discurso do reitor". Em relação ao boicote, não tem "a menor dúvida de que foi ilegítimo".

Já fora da Sala dos Capelos, alguns membros do grupo contestatário consideraram que a acção se inscreve na perspectiva de "acções de desobediência civil", aprovadas na Assembleia Magna da anterior madrugada.


Qualquer semelhança entre o texto emitido e as presentes circunstâncias não é apenas coincidência. A história constitui, na verdade, o género literário mais próximo da ficção.