O princípio do fim do pós-cavaquismo
Depois de tanta bebedeira de politiqueirismo fulanista, não apetece agora gastar o que resta de meu latim, contabilizando as hipóteses dos Telmo, Menedes e Menezes, desta direita que resta e que anda à procura de autor, enquanto vai preferindo os órfãos e as viúvas dos presentes ausentes-presentes, trocando o necessário investimento no longo prazo pelo lucro imediato do eleitoralismo autárquico e presidencial.
Alguns desses actores secundários ainda não perceberam que terminou, para todo o não-PS, o ciclo pós-cavaquista da política portuguesa, onde será pouco provável o regresso ao "statu quo ante". No PSD terminaram as três tentativas dos imediatos delfins, isto é, de Nogueira, Durão e Santana, não faltando sequer a frustrada experiência de Marcelo. No que foi CDS, encerrado o requentado regresso de Diogo, parece também ter terminado o modelo de PP, experimentados que foram os estilos de Manuel Monteiro, ainda de matriz rural, e de Paulo Portas, de inequívoca procedência urbanóide e até capitaleira, sempre com Adriano a gerir as bençãos do processo de encruzilhada, em discreta concorrência com Diogo, mas com ambos a disputarem a suprema encomendação de Mário, assim erigido à categoria de supremo emissor dos certificados de democraticidade para uma certa direita complexada pelas suspeitas à classe alta dos estoris e às manigâncias do "ancien régime".
Qualquer um dos dois potenciais líderes dos principais alvarás de direita deste sistema não conseguirá passar a pé enxuto o Rubicão da transição, mesmo que não percam as presidenciais ou que se aguentem nas autárquicas, se o PS conseguir uma governação que, com engenho e arte, comprima o desencanto das massas.
Com Portas na gestão da barcaça, nunca certa direita se embriagou tanto em arrogante propagandismo e em ministerial favoritismo, ocupando as parangonas do Estado-Espectáculo, marcando o "agenda setting" e controlando profissionalmente os "soundbytes". E os comícios foram gigantescos e entusiasticamente cenografados, enquanto as operações do "divide et impera" manipularam prrincipescamente os interstícios comunicativos.
Só que o povo percebeu como estava a ser tramado e não temeu. Indeferiu liminarmente esta moluscular oferta. Porque a personalização do poder se revelou um fracasso e as "marcas" oferecidas, enquanto modas, passaram de moda. A atracção pela mediacracia e a ilusão populista levaram ao olvido de algumas importantes propostas.
Como me dizia, ironicamente, alguém do Bloco de Esquerda, há três direitas que saíram derrotadas: a direita que teme o povo; a direita que teme os pretensos agentes de Deus; e a direita teimosa. Quem também perdeu foi o Portugal mais profundo e esquecido, o dos habitantes das aldeias e das vilas, chamados pagãos e vilãos pela onda unidimensionalizadora de uma ilusória civilização urbanóide que pretende eliminar as nossas memórias e valores de resistência e colonizar-nos de acordo com a doutrina de um pensamento único que quer aprisionar o homem livre.
Os capitaleiros que geram sempre legiões de mentecaptos e os louvaminheiros de lideranças personalizadas ainda por aí circulam em glosas e comentários. E até é possível que centrais ocultas se dispersem pelas engrenagens e influenciem o todo de forma eficaz, impedidno o reconhecimento de alguns símbolos regeneradores.
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