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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

28.2.05

A necessária revolução mental...na economia

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As colunas da economia são redondas ou quadradas?

A propósito de uma crítica que aqui fiz aos consultores económicos do centrão dos instalados, recebi de um leitor o seguinte desabafo que aqui vos deixo. Não indico o nome do autor, que desconheço, por não lhe ter pedido autorização prévia, mas se ele ma comunicar, acabarei com o anonimato:

Trabalho por conta própria desde 1994 a prestar serviços de gestão às pequenas e médias empresas, vejo empresas de sucesso que em 2004 continuam a crescer aos 20% ao ano (para exportação), vejo empresas que foram capazes de avançar para produtos de maior valor acrescentado e de um 2003 com as linhas de fabrico às moscas passaram para um 2005 a ter de fazer horas extras na produção para dar conta das encomendas.

O que é que distingue essas empresas das outras? Terem uma estratégia para o negócio!!! Acredita que a maior parte das pequenas empresas industriais não têm actividade comercial... esperam que os clientes apareçam na fábrica para comprar!!! Acredita que a maior parte das pequenas empresas industriais nunca seleccionou clientes-alvo, em torno dos quais desenhe uma proposta de valor? Acredita que a maior parte das pequenas empresas industriais não tem, não desenhou uma estratégia? Acredita que a maior parte das empresas industriais não tem contabilidade analítica e logo não tem noção adequada de quais os produtos que dão margem positiva e quais os produtos que devem ser eliminados pois só dão trabalho e prejuízo?

Acredita que a maior parte das empresas industriais dá aos seus colaboradores a formação que é financiada e não a formação que interessa (o que interessa um curso para operadores de máquinas de injecção de plásticos onde um universitário lhes vai falar da reologia de polímeros e do ponto de transição vítreo)? Acredita que a maior parte dos colaboradores das empresas industriais não quer ter formação (se calhar até têm razão, com um historial de ouvirem teóricos o que seria de esperar? Acredita que a maior parte dos cursos de formação de formadores em Portugal não falam, não abordam a temática da formação de adultos, continuam na pedagogia e desconhecem a andragogia?

Por um lado estou apreensivo face ao futuro, pois são estas pequenas e médias empresas as que podem gerar riqueza distribuída pelo país e criar dinamismo, por outro tenho esperança, porque o pouco que se faça terá logo resultados positivos uma vez que partimos de uma posição tão atrasada.

Mais importante do que aprender inglês, as escolas deveriam educar os alunos para o empreendorismo, um universitário acaba um curso e procura um emprego... porque não equaciona criar um posto de trabalho?

Não pensemos que o tempo que vivemos é único e específico de Portugal, países como a Coreia do Sul e o México estão nas mesmas circunstâncias, países de mão de obra barata que estão a sentir o impacte da China (aliás não é só a China, são mais de 3 mil milhões de pessoas - mais de metade da população mundial - que estavam afastados da cadeia de valor e agoram apareceram muito justamente a exigir o seu lugar) e a receita, é a criação de mais valor acrescentado, para isso as empresas têm de primeiro escolher a quem querem servir, para os conhecer melhor e assim apresentar-lhes um produto mais adequado às suas necessidades.

O problema é que poucos patrões estão dispostos a dar o salto mental necessário para esta mudança de paradigma. Algures nos anos 80 do século passado aconteceu uma coisa que nunca tinha acontecido desde a Revolução Industrial, a oferta, a capacidade de produção superou a procura, a capacidade de adquirir... e isso mudou tudo, o poder deixou de estar na mão do fabricante e passou a estar na carteira do consumidor. A maior parte das empresas em Portugal, e diga-se a verdade, a quase totalidade dos políticos, ainda não compreendeu o alcance desta mudança, tal como o senhor Ernâni Lopes.