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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

23.5.05

De Timor ao Minho, a memória viva! 80% dos portugueses são campeões!



De Timor ao Minho, do Rio de Janeiro a Paris, milhões de almas vermelhas demonstraram que a águia não é apenas nostalgia, mas voo mobilizador e universal de uma ampla comunidade de pertenças, da tal comunidade de significações partilhadas da memória viva. Ontem e hoje, o vermelho foi amor, com bandeiras do Benfica, do Brasil, de Angola e até de Itália. E para mim, tudo foi mais simbólico porque a minha Académica também ajudou à festa. E não houve notícias do défice nem análises políticas. O Luís Filipe dos pneus soube ser chefe de equipa e todos os lampiões e homens comuns demonstraram que, perante uma bola, somos todos efectivamente iguais, nesta magia do futebol, onde o Benfica sempre foi paradigmático e onde até não há minorias étnicas nem são necessárias campanhas contra o racismo e a xenofobia. Por isso, transcrevo, para além da capa do "JN", que é do Porto, dois pedaços de reportagem do meu "Calino":

Durante a semana José Couceiro afirmou que os últimos 10 minutos seriam dramáticos, referindo-se à atribuição do campeão nacional. E teve razão. Quando o Porto ainda acreditava que podia chegar ao título, Joeano sentenciou o campeonato ao empatar a partida no Dragão, faltavam dois minutos para os 90. Rapidamente a grande moldura humana desapareceu do estádio, pois o título estava entregue aos encarnados. As consequências já começaram a aparecer, com José Couceiro a revelar na conferência de imprensa após o jogo que foi convidado a continuar mas não aceitou. Depois de uma pesada derrota em casa com o Moreirense, a Académica rectificou esse resultado com uma boa exibição, frente a um Porto que suou para chegar à vantagem, por Ibson, mas que não teve o discernimento necessário para a aguentar, permitindo que Joeano igualasse o desafio perto do final. Não se antevia vida fácil para os conimbricenses, uma vez que, com o Dragão cheio, o Porto ainda sonhava com a revalidação do título nacional. Os nortenhos precisavam de vencer e esperar que o Benfica perdesse no Bessa, isso não aconteceu, mas os dragões também não amealharam os três pontos.



Milhares de carros e de adeptos do Benfica afluíram ontem à noite à Praça da República, em Coimbra, para festejar com bandeiras, cachecóis, cânticos, camisolas e buzinas a conquista do título de campeão nacional. «Somos os maiores. Agora sinto-me português pela primeira vez, 11 anos depois», afirmou João André, um fervoroso adepto de Viseu. Bruno Cação, um jovem de vinte anos, não parava de saltar e para ele, «o Benfica é o melhor do mundo» Com números exagerados, Hugo Ramos, outro adepto vestido com a camisola do “glorioso”, chegou a dizer que 80 por cento dos portugueses são campeões. A Praça da República, logo a seguir à vitória, chegou a entupir, já que o trânsito parou literalmente. «Vai ser toda a noite a festejar. Bem o merecemos, pois foi sofrer até ao fim», acrescentou Mário Isidoro, um “motard” que combinou com amigos e ia a Lisboa para receber os novos “heróis” nacionais. «SLB, SLB, SLB; Glorioso SLB, Glorioso SLB», a cantiga que ecoava de boca em boca, que traduz a loucura, após 11 anos de “jejum”. «Agora sabe melhor, não temos grande equipa, mas o treinador soube gerir», explicou Ramiro Machado, um quarentão que ainda se lembra bem do último título conquistado por Toni, em 1993/94.