a Sobre o tempo que passa: As presidenciais contadas às criancinhas

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

26.7.05

As presidenciais contadas às criancinhas



No fundo da nossa rua, depois de uma íngreme descida, fica um palácio de frades, onde havia um tombo e agora há uma câmara, quase em férias, atrás da qual, num jardim onde havia um galinheiro e puseram uma piscina, se ergue uma casa de muitos fantasmas.



Diante de tal palácio, já longe das respectivas traseiras, num misto de afundação com hossana nas alturas, uma casa de azulejos esconde um sentido de ética republicana e missão universal, onde o respectivo mordomo pretende assumir-se como grão-mestre "honoris causa" da pátria lusitana.



Mais longe, lá para as bandas de além-silves, outro distinto candidato aos agradecimentos pátrios, já assente em não sei quantos volumes de memórias, refazia as energias para poder fazer uma ginasticada viagem até ao pulo dos lobos e sapos vivos.



Entretanto, noutras necessidades, um distinto dramaturgo e biógrafo do fundador da nacionalidade, afundando-se em sucedâneos de piscinas, ia cartesianando os seus "um, dois, três", achando-se logicamente imbatível no seu "esprit geométrique", face ao "esprit de finesse", de coimbrãs e argelinas alegrias.



Nenhum deles reparava que, de insubstituíveis, estão os prazeres bem cheios, mesmo que sejam árduas as presentes necessidades da pátria portuguesa, s.a.r.l.



Por mim, que sempre preferia eleger um rei, se a república quisesse restaurar o reino, caso me fosse dado escolher o mal menor, perguntaria ao vento que passa se as notícias do meu país me falam em ministros do reino por vontade estranha ao bem comum e ao senso comum. E confesso que, do mal, o menos: até apoiaria a candidatura de Manuel Alegre. Prefiro uma república de poetas vivos... e por isso optei por clicar em quem serviu sem procurar servir-se.