Escrever quem sou
mas sei que tenho de escrever
retomando palavras que concitem
as raízes do meu grito.
Verso a verso, traduzir
esta pressão a mais dentro de mim.
Há secretas forças que suscitam
alguns outros que não sou.
Dia a dia escrever e rescrever
dia a dia peregrinar meu ser,
dia a dia, poemizar quem sou.
Porque ser é escrever
e escritura criatura
escrever quem julgo ser.
Palavra a palavra, procurar meu signo,
palavra a palavra, ficar mais perto
do poema que há-de ser
mas que não sei fazer.
Ser é escrever
e escritura, criatura,
neste escrever quem sou,
neste escrever-me,
descrever-me,
de um poema por fazer
que vou fazendo.
Viver é escrever,
domar quem sou,
lavrar,
no espaço branco
do papel,
as coisas
que apetecem relembrar,
os sons, os ritmos,
neste moldar
da sinfonia que procuro.
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