Estar aqui sentado
e eu próprio diante de mim mesmo.
Aqui sentado diante da solidão
ouvindo em fundo qualquer música que seja apenas música,
sem dizeres que possam poluir
a palavra certa que procuro descobrir.
Aqui sentado deixando escorrer de mim
as palavras aprisionadas de um poema por fazer
E dedilhando a lira do momento
novas palavras reinventar
até que o poema redivivo possa de novo acontecer.
Aqui sentado, forçando o verso,
aqui sentado a escrever e rescrever
sofrendo o peso do passado.
E sempre a tormenta de peregrinar
sobre meu próprio escrever
procurando na dor da escrita
o prazer de todos os dias escrever.
Estar aqui sentado, forçando o verso,
escrevendo por ter de escrever
quando há tantas coisas que tenho de fazer
quando há tanto poder ser.
Sobretudo essa ilusão de fazer
que me dá razão para viver.
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