a Sobre o tempo que passa: Os pilares da ponte do tédio que vão de nós para o outro

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

16.9.05

Os pilares da ponte do tédio que vão de nós para o outro

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A Ponte que foi Salazar tem os seus acessos assentes num caneiro que corre o risco de ruir, porque as obras urgentes que foram requeridas ainda não se executaram. Preferiu-se esburacar a Rotunda para que futuras gerações continuem a ter que assistir à revolta de outras ribeiras encanadas....

A notícia do dia não são os comentários do Grande-Inquisidor de Marques Mendes, um professor de direito que, depois dos seus afazeres na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e na comissão de fiscalizadora do SIS, anda a instruir processos de disciplinares contra os isaltinados, antes de, finalmente, ser o representante dos laranjas no Tribunal Constitucional, nem o debate televisivo autárquico entre os candidatos do PS e do PSD a Lisboa.

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As águas livres que dantes se encanavam nas alturas, à vista de todos, ameaçam até o garboso desta bela obra, quando os engenheiros não diziam que eram os únicos que sabiam de números, para insultarem filósofos pós-modernos e juristas, esquecendo-se que foi vice de Pedro e ministro de Zé Manel...

Também não parece ser novidade o eventual apoio de Ramalho Eanes a Cavaco Silva, nem a amaeaça de Manuel Alegre continuar a andar por aí. Mais importante do que tudo isso é o risco de derrocada do caneiro de Alcântara, o que poderá pôr em causa pilares da ponte do Tejo, na sua fase de Ponte Salazar, e o próprio Aqueduto das Águas Livres, a que nem a I República, quando o GOL estava no poder, chamou Aqueduto Marquês de Pombal.

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Basta descermos às profundezas que nos sustentam para percebermos que os túneis de outrora asentavam em pedras firmes...

Nestas obras urgentes, sugeridas pelo LNEC, a fim de se evitar qualquer nova queda da Ponte Hintze Ribeiro, não falaram dois professores universitários, também dois ex-ministros de Portugal, que protagonizaram ontem uma dessas pouco pedagógicas cenas de peixarada demagógica, dado que se negou a essência da democracia, isto é, o diálogo com o adversário.


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...embora também seja possível encanar as águas livres de forma mais dinâmica e circular, sem confundir estes caneiros com os tubos de esgoto de uma palaciana casa de banho. A democracia que temos não devia desaguar numa cloaca mental

Se o pós-moderno ex-ministro da cultura, doutor, agregado e catedrático em filosofia, invocou mensalões, agitando "dossiers" que não abriu, já o ex-ministro das obras públicas, engenheiro ainda não catedrático em epistemologia, invocou acusações sobre casas de banho do ministro Carrilho, sem se referir à decisão judicial sobre a matéria que foi favorável ao adversário, que ainda se socorreu da "auctoritas" do respectivo advogado. No fim do debate, Carrilho não estendeu a mão a Carmona e este ripostou, muito ordinariamente: É mesmo ordinário! Por mim, nenhum dos dois teve o nível esperado, dados os insultos, as insinuações e os ataques pessoais, onde só faltou a invocação de bárbaras mulheres do outro...