a Sobre o tempo que passa: A montanha deu à luz o esperado rato

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

31.8.05

A montanha deu à luz o esperado rato

Mons parturibat, gemitus immanes ciens,

eratque in terris maxima expectatio.

At ille murem peperit. Hoc scriptum est tibi,

qui, magna cum minaris, extricas nihil


Por outras palavras: uma montanha poética, em jantar de amigos que foram a caminho de Viseu, deu à luz um sonoro rato que, apesar de tudo, foi um belo discurso, embora houvesse prévios e enormes gemidos, enquanto a pátria tinha sido embalada por enormes expectativas de ainda haver política. Mas Manuel Alegre preferiu ser fiel, obediente e reverente à partidocracia que de que é figura excelsa...


A fábula de Fedro, segundo a adaptação castelhana de Samaniego, do século XVIII, tem a seguinte interpretação:


Con varios ademanes horrorosos
los montes de parir dieron señales;
consintieron los hombres temerosos
ver nacer los abortos más fatales.
Después de que con bramidos espantosos
infundieron pavor a los mortales,
estos montes, que al mundo estremecieron,
un ratoncillo fue lo que parieron.
Hay autores que en voces misteriosas,
estilo fanfarrón y campanudo
nos anuncian ideas portentosas;
pero suele a menudo
ser el gran parto de su pensamiento,
después de tanto ruido, sólo viento.


O mesmo Samaniego acrescentava: La montaña que pare un ratoncillo ¿qué otra cosa es sino la crítica de aquellos escritores que se nos presentan con un género de énfasis que hace mucho más ridículo lo huero de sus obras?


A obra poética de Alegre nada tem a ver com a respectiva obra política. Merece a estátua que Carlos da Encarnação lhe quer lançar em Coimbra. Sugerimos que seja inaugurada pelo dr. Aníbal Mário de Soares Cavaco.

Até porque o acordo de bastidores que gera a grande unidade antifascista do engolir sapos vivos não pode ser compensada pela vaga de fundo de um qualquer "tsunami" que desse um pouco de poesia a este cinzentismo prosaico e gerontocrático em que se transformou a política do regresso ao passado.