Gandhi, Vestefália e CEP, depois da neve e com gelo a ameaçar-nos
Madrugada de segunda-feira, anúncio de dia frio, mas de céu azul, com muitas memórias do dia de ontem, quando caiu neve em Lisboa, coisa que já não acontecia há cinquenta e dois anos. E aqui estou, olhando a agenda. E reparando que anteontem, dia 28, não saudei a criação de mais um movimento cívico em Portugal, o chamado "Poder dos Cidadãos" de Manuel Alegre, que pretende investir um milhão de votos nessa promoção, ao contrário do que fez Basílio Horta, quase com o mesmo espectro, agora posto ao serviço da República na API, fundada por Cadilhe. Porque, no sábado, se tivesse blogado, também recordaria, para além da sisifiana explosão do vaivém norte-americano, em 1986, e da morte de Teófilo Braga, em 1924, a fundação da UEDS, de Lopes Cardoso e António Vitorino, no ano de 1978, nesse ciclo onde uns se foram e outros ficaram. Também, no domingo, nesse dia de neve, se as teclas e a net me tivessem acompanhado, recordaria que, também em 1978, Sousa Franco assumiu a liderança do PPD/PSD e, em 1963, António Alçada Baptista fundou a revista "O Tempo e o Modo".
Hoje, dia trinta do mês primeiro, os registos apenas mandam lembrar que em 1917 partiu para França a primeira brigada do Corpo Expedicionário Português, antes das aparições de Fátima, da revolução bolchevique e do golpe dezembrista de Sidónio. Porque em 1948 foi assassinado Gandhi, o tal exemplo quase único do máximo poder dos sem poder que preferiu a ética da convicção à ética da responsabilidade de uma qualquer chefia de Estado. Porque em 30 de Janeiro de 1648 foi assinado o Tratado de Munster que pôs fim à guerra dos Trinta Anos e permitiu a chamada Paz de Vestefália, de 24 de Outubro do mesmo ano, que deu origem ao actual mapa europeu dos Estados modernos, coisa que não foi subscrita por Portugal, porque a ONU da altura, com o Papa ao serviço de Madrid, nos não reconhecia.
Ao que consta, mandámos às conferências alguns clandestinos diplomatas que andaram escondidos nas tendas da Dinamarca e da Suécia, que eram as coisas mais próximas da nossa conformação como reino medieval, onde a coroa ainda era aberta ao federalismo e o rei não passava de mera alteza, sem conceito de Estado nem soberania, consagrando-se a possibilidade de um trono cercado de instituições republicanas, coisa que um republicano monárquico como eu gostaria de poeticamente restaurar, seguindo os exemplos de Passos Manuel e de Agostinho da Silva, mesmo que tivesse parecer desfavorável dos ilustres presidentes dos estaduais Instituto de Defesa Nacional e Instituto Diplomático, em conferência pública. Coitados, eles não sabem que a poesia é mais verdadeira do que a história!
Curiosamente, ainda há por aí alguns tradutores em calão da dita "political science" e das coloniais "international relations" que continuam a servir como agentes das superpotências que restam e que não reparam nessas circunstâncias de resistência, só porque se escondem nas sacristias do papa ou nos restos de tenda de algum generalato que por aí vai polindo a lata recebida de Washington ou de Madrid. Por mim, deixo que eles continuem a bater palmas ao vencedor, embora eu aconselhasse o vencedor a reparar que, muitas vezes, vencer é ser vencido. Como aconteceu em La Lys, quando, esquecidos da milagre de Tancos, nos íamos transformando em carne para canhão e transformando a honra do CEP em mero exercício dos "carneiros de exportação portuguesa", só porque os pensadores políticos da opinião publicada e do conselho florentino se bushiaram em sucessivos triângulos de dependência.
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