Inovar não é reformar...
O que não faria mal se apenas fossem punidos os que prometem não aumentar os impostos e depois os fazem disparar... Infelizmente, porque todos os protagonistas da situação e da oposição já demonstraram que na prática as promessas são para não cumprir, assistimos a uma crescente quebra da confiança pública nas instituições democráticas, dado que começa a fazer-se uma distinção entre a moral privada e familiar e a moral do Estado, dado que nesta última começa a ser regra os fins justificarem os meios, nesse maquiavelismo de segunda categoria, a que muitos chamam "moral de responsabilidade", quando não passa da tal falsa "razão de Estado", a que, em português antigo, demos o nome de "arte de furtar".
Ontem, à Eduarda Maio, comentei um pouco estes meandros e acabei por me lembrar, durante o discurso, da clássica frase de Edmund Burke, para quem "inovar não é reformar". Porque Sócrates, tal como os seus antecessores do PSD e do PS, apenas encenam inovações, mas sem reformas. Apenas publicam manuais da chamada reforma do Estado, palavras e mais palavras, esquemas e mais esquemas, muitos nomes e pouca parra, não assentes numa cultura reformista e sobretudo nos exemplos morais. Só há reforma quando quem a dinamiza constitui um paradigma que, pelo prestígio e pela autoridade, é seguido por causa daquele imperativo categórico, onde os cumpridores da regra a aplicam porque aquele que a determina constitui um exemplo de conduta, da qual se pode extrair uma máxima universal.
Destes politiqueiros que nos enxameiam, apenas aplicaremos o anti-Kant da moral do sapateiro de Braga: tanto não há moralidade, como nem comem todos. E só comeremos todos quando o responsável político der o exemplo de ser o primeiro dos servidores e não o primeiro a servir-se. E hoje qualquer funcionareco sabe que o respectivo subchefe apenas mantém a decadência dos anteriores micro-autoritarismos sub-estatais, com o seu cortejo de subsistema de medo e de clientelismo.
Quem tiver dúvidas que vá a uma qualquer universidade pública, para assistir aos últimos capítulos da liquidação do eterno conceito da academia de Platão. A universidade portuguesa que, apesar de tudo, conseguiu resistir ao livro único do pombalismo, à ofensiva do autoritarismo salazarento e aos desvarios do PREC, está agora a ser sujeita aos desmandos de um patrão público que se prepara para tratar da coisa como se esta fosse objecto do capitalismo ou do burocratismo estadualista. E os pretensos tratadores zoológicos nem sequer reparam que a Universidade já existe antes do Mercado e antes do Estado e que não mudou de alma nos próprios países que são o exemplo do melhor capitalismo e do melhor estatismo.
Basta dar um salto à república imperial vigente, para compreendermos que o elemento estrutural que deu aos norte-americanos o respectivo "soft power" assenta na circunstância pluralista de aguentarem e fomentarem o conceito de liberdade universitária. Aqui, em vez de homens livres e do respectivo exemplo, apenas temos burocratas e partidocratas que assaltam a hierarquia da falsa autonomia universitária para que a meritocracia não seja possível.
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