Reflexão sobre o desencanto...
Mesmo quando passamos para a alta política, reparamos que o ministro encarregado de dar injecções de confiança aos operadores económicos diz, um dia, que a crise acabou para, no dia seguinte, proclamar que quem diz isso padece de infantilismo, enquanto os impostos aumentam e as SCUTs passam a pagar portagem, porque todos leram os lábios de Sócrates antes de ter sido eleito salvador da pátria. Vale-nos que o CDS zela pela moralidade lusitana e aí está como última trincheira do direito à vida e adversário dos interesses da Clínica dos Arcos. Não me convence. Continuarei a votar como no último referendo, a favor da despenalização da interrupção voluntária da gravidez, secundando, neste caso, a proposta do PS.
Apenas confirmo que também as pátrias tendem a perder a energia colectiva, quando se deixam enredar no desleixo e entran naquele vazio de pensamento e de entusiasmo que nos levam à frustração. É o que acontece aqui e agora, nesta brevidade das coisas prometidas, quando quem sou se dispersa e se revolta.
É nestes momentos de cinzento que podemos voltar a ser. Basta repararmos que, por vezes, nos chega a tal escrita automática onde as próprias palavras se não pensam, naquilo a que alguns chamam inspiração, quando, no máximo mais profundo de quem somos, sentimos que somos todos os que antes de nós sentiram esta serena revolta de resistirmos.
Há sempre vozes de um todo que falam dentro de cada um. Essa força que nos excede e nos compele, mas de quem somos parcela, nessa antiquíssima corrente de viver o pensamento, quando, por dentro, cada um não é apenas um eu, mas todos quanto por nós dentro nos fazem ser todos os outros.
Não há desencanto que desfaça a força de um colectivo que resista. Falta apenas a palavra sucinta que nos incite, o verbo de quem somos o princípio, a raiz da força que nos faça levantar.
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