Na principal potência metafísica da Terra, com um abraço armilar
Por outras palavras, esta mistura do português sonhador, à procura do paraíso, com a nostalgia das nações índias, dos afro-descendentes e dos muitos e variados povos das outras partes do mundo, gerou esta complexidade crescente, cada vez mais metafísica. Uma entidade espiritual que, começando por ser o mero mundo que o português criou, se tornou, felizmente, uma criatura liberta do criador que foi e continua a dar novos mundos ao mundo, cumprindo seu destino como comunidade nacional ao serviço do universal, como sítio de passagem para a super-nação futura.
E eu, português antigo, refeito nestas paragens como português à solta, conforme a definição de brasileiro dada por Manuel Bandeira, me revigoro de cosmopolis, sendo quem sempre fui, mas procurando diluir-me em todos os outros, de acordo com o conselho de mestre Gilberto Freyre.
Daí que não comente a citação que o papa Bento XVI fez de um imperador bizantino sobre Maomé e as religiões que usaram da violência. Todas a fizeram, a começar pelo próprio cristianismo. Contra outras religiões concorrentes e contra os heterodoxos domésticos.
Sem assumir o tradicional anticongreganismo, feito á imagem e semelhança do próprio congreganismo que dizem combater, prefiro mergulhar nas raízes do nosso pluralismo de crenças, como o mundo ocidental devia ser, para poder ser digno do abraço armilar. Tenho medo das sextas-feiras, dias trezes, quando os poderes instalados decidem decapitar pretensos eixos do mal, esquecendo-se que eles podem disseminar-se e persistir.
Como heterodoxo lusitano, passível de condenação por heresia, é com uma cumplicidade de afectos plurissecular que assisto a este cadinho de explosões metafísicas que é o Brasil. Até em plena campanha eleitoral se vislumbra o processo, na maneira como é tratada a questão da própria bio-energia, longe desses ecologismos importados do mundo anglo-americano.
Apenas espero que o Brasil sonho tornar-se na principal potência espiritual do mundo. Porque assim o nosso compatriota comum, o Padre António Vieira pode voltar a ter razão.
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