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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

2.11.06

Procurar o paraíso, com os pés na terra e os olhos nas estrelas...

















Escolho esta imagem que captei o mês passado como símbolo das presentes circunstâncias. Para além das grades de uma certa sacristia de uma irmandade franciscana, estende-se uma rua antiga, mas não antiquada, de um certo Portugal à solta de onde nos veio a armilar e assim pretendo prestar a minha homenagem ao ritmo liberdadeiro da mais gigantescamente afectiva democracia do mundo, a brasileira, que encerrou um processo eleitoral, onde tanto se escolheu Lula como presidente, como se garantiu o pluralismo federalista de um modelo de poder que manteve a diversidade estadual e municipal, assim homenageando o projecto da república coroada do senhor D. Pedro II, o grande amigo do resistente de Vale de Lobos.

Em contraste com este pedaço de um centro histórico desse imenso Portugal sinto revolta por esta atmosfera de quintal murado que nos continua a amarfanhar, como o expressam as sucessivas declarações dos antigos e actuais titulares do contrato de arrendamento da casa do Padre Cruz, ao largo do Caldas, em Lisboa, para as quais já ninguém tem pachorra. Porque cheira a bafio esse jogo dos que confundem dinamismo com manipulação do "agenda setting" e instrumentalização do clericalismo.


A única maneira de voltarmos a ter saudades de futuro passa por reinterpretarmos as nossas raízes vivas, reparando que outras sementes de nós mesmos se puderam reproduzir em grandeza noutras circunstâncias, quando decepámos as ervas daninhas do inquisitorialismo, do capitaleirismo e do estadualismo absolutista. Esta terra também pode voltar a ser um imenso Portugal. Basta que, pela educação e pelo civismo, cada um seja um efectivo homem livre, desses de antes quebrar que torcer que tratam de procurar o paraíso, com os pés presos na terra e os olhos postos nas estrelas...