a Sobre o tempo que passa: Da luta de classes, sem consciência de classe, ao mesquinho da mera energia das invejas igualitaristas

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

22.2.07

Da luta de classes, sem consciência de classe, ao mesquinho da mera energia das invejas igualitaristas



E em dia de começo da santa quaresma, depois do jogo do mourinho mor contra o laico quaresma que deu em empate, seguiu-se nova série de empatas, entre o PGR e a Judite, não PJ, mas de Sousa, com Sintra à vista e dragões em sempre, ficando tudo em não posso dizer, isso está em segredo de justiça, não posso dizer, isso está em segredo de justiça, não posso dizer, isso está em segredo de justiça, não posso dizer, isso está em segredo de justiça, não posso dizer, isso está em segredo de justiça, não posso dizer, isso está em segredo de justiça, não posso dizer, isso está em segredo de justiça, não posso dizer, isso está em segredo de justiça, não posso dizer, isso está em segredo de justiça, não posso dizer, isso está em segredo de justiça, não posso dizer, isso está em segredo de justiça, não posso dizer, isso está em segredo de justiça, ...

Contudo, sempre disse que, contra a hidra, vale a pena ler um relatório da Europa que está na internet, em inglês e tudo, e que nomeou duas procuradoras de muita categoria, uma das quais até nem conhecia, antes dos cinco minutos de entrevista, prévios à nomeação, para além de ter pedido a uma assessora que lesse o livro da Carolina e de nos ter mostrado um amarelado mapa do país de média criminalidade como é o nosso, imagem que nem há lupa se percebia, apesar da lustrosa impressora que o emitiu, ou os dramas das procuradorias diante dos holofotes do Estado-Espectáculo e dos magistrados rendidos ao estrelato mediático, onde a dita do Norte está na cauda de uma ursa, menor e tudo...

Por mim, fui à estante buscar um manual de 1652, com o subtítulo Espelho de Enganos, Teatro de Verdades, Mostrador de Horas Minguadas, Gazua Geral dos Reinos de Portugal. O título, sem nome de autor, é mais claro: Arte de Furtar. Aí se pode ler: os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, este sem temor nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam. Espera-se tradução em inglês com anotações da dupla de procuradoras com muita categoria.





Vale-nos que a senhora vereadora do CDS em Lisboa veio dizer em voz alta o que já andava a dizer em voz meia baixinha há muito tempo: Eu quero dizer a todos os lisboetas que não tenho idade, nem estatuto, nem condição para brincar no quarto de brinquedos do PSD. Se o partido, com os votos dos lisboetas, transformou a câmara num quarto de brinquedos, então não conta comigo para brincar. Contou comigo para trabalhar e desaproveitou todo esse trabalho. Neste momento, eu zanguei-me. Enquanto isto, Paulo Portas que não é o rato Mickey, acrescentou ao drama: obviamente o CDS pode estar melhor e deve ir para melhor e, sobretudo, tem de encontrar um momento de esperança. Por outras palavras, tanto estão todos de esperanças, como nenhum é favorável à IVG antes das dez semanas. Fiat lux! Por outras palavras, não te fies na Virgem e trata mesmo de correr...



Jardim, contudo, em vez de ir para o ashram das Selvagens, em resistência passiva contra o colonialismo cubano, ficou a saber que, ao fim de nove meses, o governo romano de Prodi se demitiu por causa da bondade da política norte-americana face aos seus aliados da Velha Europa, que o sargento dos dez mil do habeas corpus fica mesmo preso e que a respectiva esposa, sem que dela se saiba parte, como Paulo Merêa pôs no Código Varela, continua contumaz e tudo , deixando os protestos populares ao nível da revolta mariafontista do Alto Tâmega contra as tecnocracias de Correia de Campos, o qual não parece querer regressar à presidência do INA. Porque esta vai mais uma vez a leilão de celebridades e má língua, com muitos candidatos em insinuação de cunha, dado que a coisa parece não estar incluída na lista de extinções do PRACE, havendo vários praxistas em espera pelo tacho dourado ainda disponível.



Julgo que um pedacinho de senso comum, com algumas pitadas de juizinho, poderiam, com algum simplex, pôr mesmo tudo em pratos limpos, desde que descobrissem as carecas dos que se disfarçam em capachos e capachinhos. Porque a alta governança deste estadão a que chegámos, onde, em casa de ilustres ferreiros, continuam a ser usados espetos de pau, ao anunciar reformas que não cumpre, vai fazendo entrar em regime de greve de zelo enormes fragmentos de um aparelho de Estado feito de pessoas, que bem poderiam ser mobilizadas pelo bem comum se, de cima, viessem exemplos daquela autoridade que vem de autor e não dos autoritarismos plagiados com encenações de Estado-Espectáculo e música verbal de celestial demagogia.



E nada digo sobre a minha chafarica universitária, que essa está à espera dos decretos que mestre Mariano vai preparando para a sua comteana révolution d'en haut, com muitas promessas de ordem e progresso sobre o fim das idades da teologia e da metafísica e a gloriosa chegada de um D. Sebastião científico, Guerra Junqueiro o dixit a Raul Brandão. O tal bandarriado que não compreendeu Thomas Kuhn e persiste num paradigma dos anos setenta do século passado, quando os maoistas, trotskistas e outros alpistas ainda andavam à procura da revolução perdida, sem assumirem o against method dos inimigos do construtivismo, como é o meu caso, de liberalão empedrenido que vai relendo Fiore e Vico e manda esses falsos gnosticismos para o caixote de lixo da história do pensamento.

Basta notar como ainda se elegem reitores, conselhos directivos e conselhos pedagógicos, um quarto de hora antes de todos estarem mortos, incluindo conselhos de reitores e reitores primazes, onde generais dependem do vanguardismo de sargentos e de muitos soldados unidos que ainda clamam jamais serem vencidos. E tudo isto num sítio onde continua eficaz a memória daquilo que Mário Sottomayor Cardia qualificou como a subversão a partir do aparelho de Estado e que até inventou um PREC feito de generais de aviário, como eram os majores graduados em generais, em benefício do regabofe do oportunismo carreirístico do salve-se quem puder, típico de um ambiente que consegue transformar a luta de classes, sem consciência de classe, nessa grande energia das petites histoires da grande história como é a rasteirinha luta de invejas, categoria que Karl Marx nunca inventariou, mas que a há, a há e até se move e move, enquanto o mundo gira e Jaime Dias roda.

P.S. Já agora, agradeço a qualquer coimbrinha, ainda vivendo na terra dos mestres dos locatários de Belém, se permanece a empresa de camiões que tinha o slogan que citei em último. A sede era em frente aos Bombeiros Voluntários, na Avenida Fernão Magalhães, e este escrevente, quando era puto a caminho da escola primária de São Bartolomeu, vindo da rua fora de portas, aprendeu com ela a procura da globalização alternativa. Espero que o Professor Boaventura a leve para o museu do seu laboratório associado de ciências sociais...