a Sobre o tempo que passa: Qu’est-ce que le Tiers-Etat, aujourd’hui ?

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

8.2.07

Qu’est-ce que le Tiers-Etat, aujourd’hui ?



Imagem picada em Rui Perdigão

O segundo inquérito social europeu é um bom revelador da nossa situação política. Porque 96,7% dos portugueses dizem pertencer à religião católica (Taxa na Europa: 54,4 por cento); 38,9% dos portugueses dizem não ter "nenhum interesse pela política" (Taxa na Europa: 17,9 por cento); 21,6% dos portugueses atribuem um 6 (escala de 1 a 10) "ao seu grau de satisfação com a vida em geral" (Taxa na Europa: 9,5 por cento). Apenas comento, como Roger-Gérard Schwartzenberg: l'homme ordinaire, c'est le bonheur du conformisme...

O teórico do Estado-Espectáculo, continua, aliás, bem radical. E muitíssimo bem. No seu mais recente ensaio sobre a Maldémocratie (Paris, Fayard, 2006) denuncia uma elite soudée qui occupe tous les postes stratégiques, considerada uma caste fermée, réduite en nombre, qui monopolise le pouvoir dans tous les secteurs e se assemelha à aristocratie d’Ancien Régime crispée sur ses privilèges. Daí o grito de revolta: Qu’est-ce que le Tiers-Etat, aujourd’hui ? Un peuple gouverné de haut et de loin, qui se sent étranger au système en place. Porque les trois côtés du triangle du pouvoir qui joint aujourd’hui haute administration, politique et milieux d’affaires, pour diriger le pays, à l’écart des urnes et des hémicycles.

Por cá, as coisas são iguais em natureza, mas diversas pela suvidade dos pequeninos. Andamos ainda à espera de uma qualquer ministra Simone Veil e iludimo-nos com as reformas importadas aos pacotes, como a célebre bolonhesa, onde muitos já fazem cálculos de passagens administrativas, com antigos licenciados, com suficientes unidades de crédito para o segundo ciclo, tentando obter o equivalente ao segundo grau dos novos mestrados, antes que antigos mestres, fazendo contas idênticas, passem a doutorados, coisa que pode valer a muitos estabelecimentos de ensino superior, com taxas adequadas para concessão de equivalências ou fabricação de mestrados com a simples apresentação de uma tese, fora do contexto. Porque ou há moralidade, ou comem todos...

O engodo das promoções automáticas sempre foi o efeito esperado das revoluções e das reformas lusitanas e, muito especialmente, do socialismo de consumo. Para bem do défice orçamental, esperemos que floresçam estes mestrados e doutorados decretinos! Também foi assim na Primeira República, num processo de que beneficiou um tal António de Oliveira Salazar, esse magno português e ilustre lente que nunca chegou a doutorar-se, a não ser honoris causa, aliás, por Oxford. Amen!