a Sobre o tempo que passa: A revolução do capitalismo popular em regime de bloco central de interesses

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

3.3.07

A revolução do capitalismo popular em regime de bloco central de interesses



Sábado, ao nascer da alva, depois de ler as parangonas e de recordar as novas de ontem. Afinal, as cenas da OPA transformaram a assembleia-geral de uma sociedade anónima, de matriz pública e evolução mística, numa sessão de propaganda do capitalismo popular, dado que a mesma quase parecia uma espécie de Congresso do PP ou de assembleia do Benfica, ao ritmo dos anúncios do Gato, fedorento e milionariamente pago, não fosse a procissão dos agentes do capital, quase todos entre o socialismo democrático e a social-democracia partidocrática, com ilustres sacerdotes da faculdade de direito, assim a confirmando como o efectivo seminário do regime a que chegámos.

Entre líderes partidocráticos em queda e ascensão, reparámos no representante da CGD, no ilustre procurador do Estado/Mário Lino e no grande-chefe dos pequenos accionistas, para além dos habituais figurões, herdeiros do discurso com taxímetro, como acontecia a Francisco Cunha Leal, durante as assembleias da sociedades com interesses coloniais, durante o salazarismo. Achámos também graça às ovações com que foram recebidos pelos trabalhadores cunhalistas o presidente da PT e o capitalista Berardo, porque bem pudemos confirmar como a metamorfose do situacionismo deu este espectáculo da nossa pequenez.



Vale-nos que Paulo Portas continua a cavalgar em toda a sela sobre a animália comunicacional donde brotou, fazendo o exame de admissão com que Judite brindou o respectivo regresso, há muito anunciado para depois do referendo e face ao apagamento de Marques Mendes, cada vez mais posto ao mero nível das piadas de um Correia de Campos.

Infelizmente, a tal OPA acabou por ofuscar tanto a notícia de Portas, como a própria "manif" da CGTP e a reunião do Conselho de Estado sobre as eleições regionais na Madeira. Nem sequer houve protestos pela utilização de símbolos religiosos na procissão dos comunistas sindicalistas, dado que se instrumentalizaram cruzes e até figuras de Jesus Cristo, invocando-se o martírio do povo sob a governação de Sócrates.



O clandestino bloco central dos interesses a que chegámos, entre a vontade de liderança do chamado "centro-direita", invocado por Portas, e o máximo conformismo do "centro-esquerda", assumido por D. Maria Cavaco Silva, leva a que o PSD se fique pelo qualificativo de uma sua vice-presidente, onde também vem outro carimbo, somos "sociais-democratas do centro" e nada temos a ver com as disputas entre o Zé Ribeiro e o Paulinho. Por outras palavras, a direita é coisa que vai ao futuro museu de Santa Comba Dão e obedece em bloco aos ditames de D. José Policarpo, a esquerda passeia-se em "manifs" promovidas pela correia sindical de transmissão do PCP e os restantes não passam de bandos de fascistas à solta.

Por mim, bem gostava de coisas mais simples: acedermos todos às listas de pagamentos resultantes da assembleia-geral da PT de ontem, nomeadamente aos honorários e senhas de presença dos notáveis que nela assinaram o ponto, bem como ao processo prévio de campanha e de anúncios que a precederam. Julgo que com esses dispêndios seria possível manter por um bom par de anos quase todos os serviços de urgências que Correia de Campos quer encerrar.