a Sobre o tempo que passa: junho 2007

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

30.6.07

If you suspect it, report it


Para uma correcta identificação dos genes pluralistas que marcam o discurso do senhor ministro da saúde, basta reparar na sua primeira grande experiência governamental. De facto, se o Partido Socialista continuar a ser marcado por estes revivalismos gonçalvistas, nada melhor do que irmos outra vez para a Alameda, com o Edmundo Pedro, o Manuel Alegre e o Mário Soares. Ou então, recordarmos que a Maria da Fonte e o Padre Casimiro eram de bem perto de Vieira do Minho.

As minhas tendências patuleias, da secção malhada e liberdadeira, começam fazer-me um homem revoltado. Apenas espero que o Partido Socialista profundo continue a escolher o lado da liberdade e não receba lições de democracia de ex-governantes gonçalvistas, mal reciclados para o Estado de Direito.

Porque não é com estes discursos que se resolve uma questão de empregomania do rotativismo, nestes bailados da velha ditadura da incompetência. O "slogan" da Scotland Yard não pode aqui ser traduzido em calão pelo se suspeitares da falta de lealdade a ex-gonçalvistas governamentais cá em baixo, bufa para cima...

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29.6.07

Estas tortuosas cedências ao estadão salazarento e aos epifenómenos das vigilâncias revolucionárias


O PS sempre foi um partido das liberdades. Quase todos os PSs meus amigos têm aquela coerência de viverem como pensam. Os crescentes sinais de micro-autoritarismo subestatal que envolvem certos invocadores do carimbo PS provam que, para muitos "boys", na prática, a teoria é outra, por causa dos "jobs".

O cartaz jocoso, ácido em ironia para uns serviços públicos de saúde, afixado por um funcionário da CDU, levou ao afastamento do director, acusado de falta de lealdade. Não são precisos mais comentários. Até porque críticas à direita ou piadas vicentinas também levaram Balbino e Charrua ao espectáculo a que todos assistem.

Apenas estranho muitos dos silêncios públicos de muitos deputados e hierarcas do PS que, em privado, se têm indignado com estes sinais de crispação. A história dos macacos cegos, surdos e mudos não pode desculpar-se com sondagens. Todos vamos vendo, ouvindo e lendo, já ninguém pode ignorar. A não ser que se fiem no desencanto das maiorias silenciosamente cobardes, coisa que não se compreendem quando alguns desses micro-autoritários subestatais não passam de arrivistas, oriundos do estalinismo que só tardiamente se encostaram ao PS antitotalitário.


Se os subsolo ideológico de justificação do poder que marca alguns destes desvarios do regime de chefes de repartição pegar de estaca não tarda que se exija a identificação de todos os blogueiros de cada serviço público, bem como a listagem de dos funcionários que militam em partidos e associações cívicas que criticam o governo e o situacionismo.

Aliás, também seria útil que todos os programas de ensino fossem submetidos à mãozinha censória e, a nível do ensino, em cada aula deveria existir um vigilante que fizesse um adequado relatório a ser remetido para uma adequada central de registo dos não formatados pelo conceito de modernidade vigente.


Por mim, garanto que já fui sujeito a estes condicionamentos de forma não larvar. Para não falar no favoritismo dos chefes que praticam o regime do governo dos espertos, de acordo com a caracterização de Hannah Arendt fez da administração otomana. Isto é, com a elefantíase legislativa e regulamentar, a lei vigente é distorcida em favoritismo para os amigos e seguidores, mesmo que o chefe seja PS e os apoiantes da extrema-direita, e madrasta perseguidora para os que se opõem ou não vão a gabinte de sua excelência meter cunha ou dobrar a coluna em salamaleques.

Se o PS se deixar enredar nestas tortuosas cedências ao estadão salazarento, com alguns epifenómenos de vigilância revolucionária, os afastamentos regulamentares e disciplinares tornar-se-ão numa vaga de saneamentos e na consequente ditadura da incompetência. Os sinais são crescentes e não basta que alguns socialistas proclamem que estão de consciência tranquila e não recebem lições de democracia de ninguém.

Posso dar exemplos históricos de muitos partidos socialistas de outras eras que se deixaram enredar tanto em colaboracionismos com o totalitarismo nazi, como com o totalitarismo soviético. Felizmente, sempre houve partes sãs dos mesmos partidos socialistas que assumiram a dissidência e logo encabeçaram as resistências. É destes que reza a história da liberdade...

PS: Acabei de ver e ouvir a conferência de imprensa de um ministro da saúde sobre o caso Vieira do Minho. Palavras para quê? É mais um artista português que não usou pasta medicinal de Estado de Direito. O pior é que apareceu um tipo com coragem previamente, o médico causador do "fait divers", que até confirmou que a ex-directora chegou a levantar o adequado auto face ao incidente. Palavras para quê? O excelente ministro pós-licenciado na Escola Nacional de Saúde Pública até foi presidente do Instituto Nacional de Administração. Isto é, além de nos tratar da saúde também já foi responsável pela alta formação dos "jobs" para os nossos "boys". Por isso é que arranjou esta desculpa para o recrutamento do sucessor da tal "coitada", cujo adjectivo ministerialmente emitiu do alto do seu microfone. Seria melhor que lesse Montesquieu, a fim de poder distinguir negócios públicos de negócios domésticos. Não quero ministros com este tipo de discurso, próximo da origem etimológica da palavra Corte. A democracia merece mais. E o PS outro tanto. Arrependa-se, senhor "servus ministerialis"! Porque se este for o paradigma, o que farão os muitos subservidores
e os subservientes que querem agradar aos donos do poder?

28.6.07

A turbulência noticiosa deste quotidiano decadentista


Depois do deserto de Mário Lino, eis que a Ordem dos Economistas se tornou na montra das gafarias governamentais: agora foi a vez de Correia de Campos sugerir que a Associação Nacional das Farmácias deveria entregar os desperdícios de medicamentos aos... pobres. Ao menos, no tempo de el-rei D. Dinis, a rainha, que era aragonesa e depois foi santa, sempre lhes dava rosas e eu pensava que, com tanto socialismo e tanta social-democracia, já não havia pobres, ou melhor, já não havia ministros que sugerissem caridadezinha a confederações patronais, instrumentalizando os ditos do alto de um palanque discursivo, como se eles fossem alienígenas. Aliás, tal só pode acontecer no mesmo país em que alguns dos patrões mais ricos do país assumem na comunicação social o monopólio do carimbo do liberal, só porque recrutam um ou dois intelectuais que costumam prestar serviço no lóbi que o grupo de Paulo Portas mobiliza.

E lá acordo para a turbulência noticiosa deste quotidiano decadentista, depois de um dia de ontem onde estive mobilizado tanto pela comissão científica do senado da minha UTL, como, de tarde, tive de aturar um deserto onde os ilustres monopolistas da representação disseram que os situacionistas eram caravana, para insinuar que os opositores ladravam e que o caminho em que todos estávamos já era um deserto, onde, aliás, os camelos não ladram. E tudo acabou no final da tarde, onde fui fazer a gravação de um programa televisivo sobre os lóbis, em companhia de J. Martins Lampreia.


Só depois fui informado sobre o caso Saldanha Sanches, esse querido colega académico, a quem aqui deixo o meu testemunho de amiga solidariedade e de universitário reconhecimento pela elevação cultural e a coragem que tem dado provas como animal cívico e paradigma de professor, tanto em aulas como nas sucessivas provas públicas de prestação de serviço à comunidade. Apenas recordo as não raras conversas de bar na faculdade onde fui aprendendo com ele uma perspectiva do mundo e da vida que me levou a muitas leituras, numa atitude de diálogo universitário que publicamente agradeço.


Por mim, sem genealógica cobertura de qualquer ascendente devorista, resta-me também o direito àquela sátira anti-situacionista, isto é, plebeiamente violentista, anticlerical, antifidalgota e antibancária, restos de alguns genes daqueles meus avoengos que tanto andaram pela revolta do grelo como pelos confrontos com os GNRs de Salazar nos finais dos anos trinta, e que levaram alguns deles a também a malhar com os ossos, durante anos, nos cárceres do "ancien régime". Julgo que Saldanha Sanches tem um destino a que não pode renunciar, desse ter tempo para ganhar o tempo e o poder perder numa actividade de muitos escritos só aparentemente inúteis, feitos de muitas divagações e especulações, nessas viagens que andam sempre na procura de um tempo que não é o "time is money", o tal tempo da teoria que é o exacto contrário do tempo do "nec-otium".


Nada estou a dizer sobre a soberania de um júri, ou com qualquer "inside information", embora já todos saibam, no universo dos jornais e dos fiscalistas, quem foram os três do sim e os maioritários do não. Estou apenas a referir que as provas em causa se realizaram de acordo com uma certa legislação pré-abrileira, ofensivamente anticonstitucional quanto ao modelo de votação, e durante a "vacatio legis" de uma nova lei que eliminou tal anacronismo. Estou apenas a dizer que o silêncio dos claustros unversitários deveria estar fechado aos ruídos da conjuntura, embora devesse estar aberto ao sereno escrutínio dos valores universitários que se esgotam no serviço público.

Apenas digo ao José Luís Saldanha Sanches, com quem, mesmo aqui, tenho publicamente discordado, até nas recentes disputas cívicas, que a vida continua e que não há fins da história. Todos precisamos dessa voz académica e cívica.

26.6.07

Breve contributo para a necessária limpeza das memórias


Depois de ler mais uns nacos de prosa de um recente José Agostinho de Macedo e a solicitação de um ilustre órgão de comunicação paroquial, junto remeto a lista de um conjunto de cerca de duas centenas e meia de portugueses dos últimos dois séculos que não figuraram no recente inventário pidesco de uma colorida revista semanal de circulação nacional. Pedimos desculpa por nela figurarem dezenas e dezenas de ministros, chefes de governo, oficiais das forças armadas, deputados e outros, de escritores a bispos, de professores a poetas, passando por médicos ou filósofos, entre os quais um abominável prémio Nobel.

Qualquer informação sobre o paradeiro dos próprios ou dos seus não desculpáveis descendentes deve imediatamente ser comunicada ao Grupo de Vigilância do Eles Andam por Aí, a fim de os mesmos serem banidos dos nomes das ruas e das instituições que os homenageiam, bem como de eventuais estátuas e outros sinais desse passado terrível que conduziu à recente crise patriótica. Desde já se informa que foi desencadeada multitudinária petição a apresentar ao Parlamento Europeu, denunciando tanto as heresias como o terrorismo carbonário que nos sustentam:



Águas, João Estêvão / Aguiar, António Augusto de / Almeida, António José de / Almeida, Artur Duarte da Luz de / Almeida, Celestino Germano Pais de / Almeida, José Alexandre de Campos / Alves, César Justino de Lima / Amado, Luís Ernâni Dias / Andrada Machado e Silva, António Carlos Ribeiro de / Andrada Machado e Silva, José Bonifácio de / Andrade, Gomes Freire de / Antas, 1º conde 1838 , 1º visconde 1836 e 1º barão 1835 das. Francisco Xavier da Silva Pereira / Araújo, José Maria Xavier de / Arnaut, António / Atouguia, António Aluísio Jervis de 1º Visconde de Atouguia desde 1853. / Ávila, António José de 1º Conde de Ávila, desde 1864. Marquês de Ávila e Bolama desde 31 de Maio de 1870. Duque de Ávila desde 14 de Maio de 1878. / Ávila, Joaquim Tomás Lobo de 1º Conde de Valbom, desde 1875 / Avilez Juzarte de Sousa Tavares de Campos, Jorge 1º Conde de Avilez desde 1838 / Azevedo, Américo Olavo Correia de / Azevedo, Aníbal Lúcio de / Azevedo, António de Araújo (1º Conde da Barca desde 1815) / Bandeira, Sá da. Barão em 1833. Visconde em 1834. Marquês de Sá da Bandeira desde 1864. Bernardo Sá Nogueira de Figueiredo / Barbosa, João Tamagnini de Sousa / Barbosa, José / Barradas, Fernando Luís Pereira de Sousa / Barreiros, Joaquim António Velez 1º Barão, desde 1847, e 1ºVisconde, desde 1854, de Nossa Senhora da Luz / Barreto, António Xavier Correia / Barreto,D. Nuno de Moura / Barros, João de / Basto, Eduardo Alberto Lima / Bastos, João Pereira / Bayard, Ildefonso Leopoldo / Bissaia Barreto Rosa, Fernando Baeta / Bombarda, Miguel Augusto / Bonfim, 1º Conde do. José Lúcio Travassos Valdez / Borges, António França / Borges, José Ferreira / Braamcamp de Almeida Castelo Branco, Anselmo José (Braamcamp Senior) / Braamcamp, Anselmo José / Braga, Alexandre / Branco, António Roberto de Oliveira Lopes / Branco, Camilo Botelho Castelo 1º Visconde de Correia Botelho Desde 1885 / Brandão, António Emílio Correia de Sá / Breyner, Pedro de Melo / Cabeçadas, José Mendes / Cabral, António Bernardo da Costa 1º Conde / 1845 e 1º Marquês de Tomar 1878 / Cabral, João Gualberto Pina / Cabral, João Rebelo da Costa / Cabral, José Bernardo da Silva Costa Conde de Cabral em 1867 / Cabral, Leonel Tavares / Cabreira, Tomás António da Guarda / Caldeira Castelo Branco, Manuel António Velez / Camacho, Manuel Brito / Câmara, Manuel de Sousa da / Camoesas, João José da Conceição / Campos e Almeida, José Alexandre Caetano de / Campos, Francisco António de / Cardoso, Alfredo Ernesto de Sá / Cardoso, Francisco António Gonçalves / Carlos, Adelino da Palma / Carmo, Bento Pereira do / Carmona, António Óscar de Fragoso / Carneiro, Manuel Borges / Carvalho, Antão Fernandes de / Carvalho, António Germano Ribeiro de / Carvalho, António Pires de / Carvalho, Joaquim da Costa / Carvalho, Joaquim Martins de / Carvalho, José da Silva / Carvalho, José Liberato Freire de / Carvalho, Manuel António de 1º Barão de Chanceleiros / Castelo Branco, Euletério Francisco de / Castilho, António Feliciano de / Castro, Álvaro Xavier de / Castro, Alberto Osório de / Castro, António Manuel Lopes Vieira de Abade de S. Clemente de Basto / Castro, Bernardo José de Abrantes e / Castro, Filipe Ferreira Araújo e / Castro, José Augusto Soares Ribeiro de / Castro, José Joaquim Gomes de Visconde / Chagas, João Pinheiro / Coelho, Francisco Duarte / Coelho, Manuel Maria / Coimbra, Leonardo José / Correia, Francisco Gonçalves Velhinho / Cortesão, Jaime Zuzarte / Costa, Afonso Augusto da / Costa, Francisco José Fernandes / Coutinho, Carlos Viegas Gago / Coutinho, José Joaquim de Almeida Moura / Curson, António Augusto / Dantas, Miguel Martins / Dias, Miguel António / Dinis, Júlio / Enes Júnior, António José / Estevão Coelho de Magalhães, José / Falcão, Joaquim José / Faro, José Portugal e. Ver Lumiares, Conde de / Felgueiras, João Baptista / Féria, Ramon Machado de la / Ferrão, Francisco António Fernandes da Silva. / Ferraz, Flórido Rodrigues Pereira 1º Visconde de Castelões desde 1851 / Ferreira, António Aurélio da Costa / Ferreira, António Vicente / Ferreira, José Dias / Fonseca Magalhães, Rodrigo da / Fonseca, Tomás da / Freire, Agostinho José / Freitas, José Joaquim Rodrigues de / Galhardo, Herculano Jorge / Gama, D. Alexandre de Saldanha da 1º Conde de Porto Santo desde 1823 / Garcia, António Alberto Torres / Garcia, José Elias / Gomes, António Paiva / Gomes, Ricardo Pais / Gouveia, D. António Aires Bispo de Betsaida / Graínha, Manuel Borges / Granjo, António Joaquim . / Guedes, João Teixeira de Queirós Vaz / Guerra, António Guerreiro Mimoso / Guerreiro, Emídio / Guimarães Júnior, Isidoro Francisco Visconde da Praia Grande de Macau desde/ Herculano de Carvalho Araújo, Alexandre / Lacerda, José Joaquim de Almeida e Araújo Correia de / Lança, Armando Pereira de Castro Agatão / Leal Junior, José da Silva Mendes / Leão, António José da Silva 1º Barão de Almofala Desde 1847. / Leite Pereira da Silva, Duarte / Lemos, Francisco Correia de / Lemos, Manuel Gaspar de. / Lima, João Evangelista Campos / Lima, Sebastião Magalhães / Lopes, Francisco Pina Esteves. / Loulé, 1º Marquês de Desde 1799- 8º Conde de Vale dos Reis. Agostinho Domingos José de Mendonça Rolim de Moura Barreto / Lumiares, 4º Conde. José Manuel Inácio da Cunha e Meneses da Gama e Vasconcelos Carneiro de Sousa Portugal e Faro / Macieira Júnior, António Caetano / Maciel, Miguel Baptista / Magalhães, Félix Pereira / Magalhães, João Evangelista Pinto de / Magalhães, Joaquim António de / Magalhães, José Alfredo Mendes / Maia, José Carlos da / Marcos, Padre. Ver Preto, Marcos Pinto Soares Vaz. / Margiochi, Francisco Simões / Marques, A. H. de Oliveira / Martins, D. António Alves / Martins, Francisco José da Rocha / Matos, José Mendes Ribeiro Norton de / Medeiros, Manuel Goulart de / Melo, António Maria Fontes Pereira de / Melo, José Pinheiro de / Melo, Marcelino Máximo de Azevedo e. Visconde da Oliveira. / Melo, Martinho Nobre de / Meneses, João Catanho de / Meneses, João Duarte de / Miranda, Manuel Gonçalves de / Molelos, 1º Barão desde 1815 e 1ºVisconde desde 1826 de. Francisco de Paula Vieira da Silva e Tovar1774-1852 / Moniz, António Caetano de Abreu Freire Egas / Monteiro, Manuel. Joaquim Rodrigues / Morais, José António. Mantas / Nemésio, Vitorino / Neves, José Alberto Pereira de Azevedo / Nobre, Augusto Pereira / Nunes, Jorge Vasconcelos / Olavo Correia de Azevedo, Américo / Oliveira, 1º Visconde da desde 1842 Marcelino Máximo de Azevedo e Melo / Oliveira, António Dias de / Oliveira, Francisco de Paula de 2º Barão de Almeida Desde 1845 / Oliveira, Joaquim José de / Pais, Sidónio Bernardino Cardoso da Silva / Paiva Manso, 1º Visconde de desde 1869 Levi Maria Jordão de Paiva Manso / Paiva, Vicente Ferrer de Neto / Pamplona Corte Real, Brigadeiro Manuel Inácio Martins / Parati, 2º Conde de. D. João Inácio Francisco Paula de Noronha / Pascoaes, Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos / Passos, José da Silva (Passos José) / Passos, José Gerardo Ferreira / Passos, Manuel da Silva (Passos Manuel) / Pato, Álvaro António Bulhão / Pedro IV, D. / Peniche, Conde de / Pereira, D. Francisco Xavier da Silva. Ver Antas. / Pereira, Domingos Leite / Pereira, Frederico Guilherme da Silva / Pestana Júnior, Manuel Gregório / Pinto, Agostinho Albano da Silveira / Pinto, Alberto Moura / Portela, Raúl Lelo / Póvoas, Álvaro Xavier da Fonseca Coutinho e / Praia Grande de Macau, Visconde da / Queirós e Almeida, José Joaquim de / Queirós, Tomé José de Barros / Quintela, Manuel Inácio da Costa / Ramos, Francisco Luís / Ramos, João de Deus / Rego, Jaime Daniel Leote do / Relvas, José Maria Mascarenhas / Ribeiro, Hélder Armando Santos / Ribeiro, José de Freitas / Ricardo, João Luís / Rocha, Albino Vieira da / Rocha, Ernesto Maria Vieira da / Rodrigues, Manuel Maria Sarmento / Saldanha, Conde desde 1827 , Marquês desde 1834 e Duque desde 1862 de. João Carlos Gregório Domingos Vicente Francisco de Saldanha Oliveira e Daun/ 1790-1876 / Sampaio, António Rodrigues / Sanches Machado da Rosa, Júlio Gomes da Silva / Santos, António Maria de Azevedo Machado / Santos, José Cortês dos / São Luís, Frei Francisco de nome beneditino dado a Francisco Justiniano Saraiva,Também conhecido como o Cardeal Saraiva / Sepúlveda, Bernardo Correia de Castro e / Serra, Abade José Francisco Correia da / Severino, Bartolomeu de Sousa / Silva, António Maria da / Silva, Eduardo Ferreira dos Santos / Silva, Fernando Augusto Pereira / Silva, Inocêncio Francisco da / Silva, Frei Patrício da / Silveira, Alberto Carlos da / Silveira, José Xavier Mouzinho da / Simas, Frederico António Ferreira de / Soares, João Lopes / Soares, Joaquim Pedro Celestino / Sobral, Hermano José Braamcamp de Almeida Castelo Branco 2º Barão, 1º Visconde desde 1838 e 1º Conde desde 1844 do Sobral / Sotto Mayor, João da Cunha / Sousa Júnior, António Joaquim / Sousa, Jaime Júlio Velho Cabral Botelho de / Sousa, Manuel de Castro Pereira de Mesquita Pimentel Cardoso e / Tomás, Manuel Fernandes / Torres Novas, Conde de. Ver Vasconcelos Correia / Valbom (Ávila, Joaquim Tomás Lobo d’) / Valdez, José Lúcio Travassos. Ver Bonfim. / Vargas, José Marcelino de Sá / Vasconcelos, António Barreto Ferraz de 1º Visconde da Granja Desde 1847 / Vasconcelos, Matias de Carvalho e / Veiga, Augusto Manuel Alves da / Xavier Dias da Silva, Cândido José / Xavier, António Maria Eurico Alberto Fiel

Um pouco de Locke, contra a nova procissão dos Senhores dos Paços e do conselho de ministros da guerra junqueiro, para quem me chama parvo


Alguns dos meus companheiros de blogosfera ainda parecem mobilizados pela corrida lisbonense, dita eleições autárquicas, discutindo os acompanhantes de Costa, as trocas de siglas de Negrão, as contabilidades portucalenses de Portas ou os efectivos registos de interesses dos grupos de pressão diante do futuro Senhor dos Paços.

Ontem, Berardo desancou no Mega, por causa de algumas bandeiras que não foram haste acima, hoje, o último da lista do Costa, que não Rui, apresentou a demissão fundacional. Que São Belmiro de Canavezes lhes valha, porque São Jardim, o madeirense, foi para cavaleiro da Soberana Ordem de Malta dos condes de Albuquerque, a fim de termos, finalmente, uma visita papal ao Funchal, tendo em vista a inauguração do novo túnel do Curral das Freiras...

Outros excitam-se entretidamente sobre o conceito de tratado constitucional e o futuro da Europa, da chancelera e dos gémeos, para não falar nos que reduzem a macropolítica doméstica às teorias das conspirações de assessores e chefes de gabinete, onde Sampaio acaba reduzido à dimensão de Santana, só porque os dois também foram Senhores dos mesmos Paços, enquanto Sócrates, blogueado, continua amarrado aos seus fantasmas covilhanenses, quando ainda usava cabelo encaracolado e ganhava fama de duro com a co-incineração e os debates televisivos com Boaventura Sousa Santos que não escreve "simplex" no Causa Nossa...

Seria melhor notarmos que o poder, incluindo o poder supremo da governação, é uma simples rede de poderes, um gigante assente nos muitos pés de barro dos micropoderes, incluindo o da falsa autonomia da sociedade civil, donde veio tanto o clandestino financiamento partidário como o formidável arquipélago das cunhas em que assenta a nossa poliarquia, incapaz de compreender o que é uma sociedade aberta, pluralista e competitiva.

Logo, quem ascende ao vértice de tal pirâmide neofeudal, por mais celestial que seja a mística discursiva que instrumentaliza, pode cair na primeira casca de banana que lhe estendam nos seus Passos Perdidos, sejam encontros imediatos de primeiro grau, sejam degraus mal calculados pela engenharia civil e a política do ambiente, donde se possam estatelar na alcatifa do corredor, mesmo que seja de fundo.

Porque o senhor é parvo/ Parvo é o senhor/ Senhor dos Passos/ Paços do Concelho/ Conselho de Ministros/ Ministro da Guerra/ Guerra Junqueiro/ Junqueira Alcântara ...


Com tantas habitações para construir e com tanto betão de fundos da coesão para lançar, é natural que um regime feito de patos-bravos e donos de mercearias se tenha modernizado pelo consumo e não pela produção, ao mesmo tempo que se enreda na mesma teia que destruiu o rotativismo da monarquia liberal, onde o acordo de credores internacionais de 1902, conseguido por Carrilho, nos proibiu o acesso durante cinquenta anos ao mercado internacional de capitais e nos obrigou ao pagamento durante noventa e nove anos dos desvarios dos concessionários, que permitiram os luxos de palácios como o de Burnay, à Junqueira, ou o do Foz, aos Restauradores. A história faz sempre prescrever os crimes de corrupção, para que Proudhon possa continuar a dizer que a propriedade é um roubo...

Porque foram os neodevoristas das obras públicas do fontismo que assassinaram o rei e esgotaram a esperança da I República, obrigando os três ramos do partido da tropa a ter que pedir uma aliança entre a cavalariça e a sacristia, chamada 28 de Maio, onde, apesar de Jesus Cristo não saber nada de finanças, acabou por ser um catolaico a mandar nisto, por causa do acordo de 1902.

Daí que queira estar atento ao novo discurso dos neo-sacristas diante dos velhos três ramos, antes de ler o artigo do meu amigo sintrense sobre a Portela mais dois, até porque também havia um heliporto lá para os lados da actual Expo, para gáudio dos autarcas de Loures, tal como a Porcalhota também foi aerodinâmica nos tempos da I República, para orgulho dos gestores dos terrenos do ex-campo de aviação da actual Amadora...


Com efeito, qualquer mudança pós-revolucionária, num país, onde, para citar Afonso Costa, há muitos pés descalços e poucas botas, gera regimes de "animal farm" onde todos são iguais, mas há sempre alguns que, vivendo no intervalo do pau ir e vir e folgarem as costas, se tornam mais iguais do que outros. Eles são os eternos devoristas que transformam aquilo que, segundo Locke, deveria ser um depósito de poder ("trust") naquele tipo de fundações, onde o instituidor povo deixou de ser o beneficiário institucional.


Voltando a Locke, apenas podemos superar a presente crise se perspectivarmos o poder político à imagem e semelhança da figura privatística do depósito (trusteeship), entendendo-o como mera delegação parcial dos poderes dos indivíduos em certos homens, através do consentimento que tanto pode ser expresso como tácito, por mera adesão, aceitação ou aquiescência.

Onde o poder governamental, por seu lado, deve ser entendido como mero poder-dever, como uma missão, um encargo que o povo confia aos que o representam e onde os governantes são vistos como membros do corpo político, pelo que os membros do povo não têm obrigação contratual face ao governo.

Só desta forma se ultrapassa o dualismo do pactum subjectionis, dado que o poder governante não se transforma num soberano exterior à sociedade. Acresce que, para Locke, a força, por si só, não legitima o direito, dado considerar que o direito precede o Estado e que o povo é superior aos governantes.

Aliás, o poder legislativo (legislature), apesar de ser um supream power não é um poder absoluto, estando limitado pelo fim para que foi instituído o governo, que é a protecção da vida, da liberdade e da propriedade dos homens: the legislative being only a fiduciary power to act for certain ends, there remains stil in the people a supream power to remove or alter the legislative when they find the legislative act contrary to the trust reposed in them... thus the community perpetually retains a supream power.

Se, por um lado, nega a possibilidade de um poder absoluto por parte dos governantes, quando considera que a comunidade popular mantém sempre a supremacia de destituir o poder constituído, eis que, por outro, também não perspectiva a vontade popular como omnipotente, fazendo-a depender de uma lei natural que identifica com a lei divina: it is a a mistake to think that the supream or legislative power of any commonwealth can do what it will.

O poder político, distingue-se assim do poder paternal e do poder despótico, desse poder arbitrário e absoluto, bem como da conquista, e da usurpação, onde a primeira é entendida como uma usurpação vinda do exterior e a segunda, como uma conquista doméstica, colocando-se em clara oposição à tirania, esse exercício do poder para além do direito.

Que graça!!! /Senhora da Graça/ Senhora da Graça/ Senhor dos Passos/ Senhor dos Passos/ Paços do Concelho/ Paços do Concelho/ Conselho de Ministros/ Conselho de Ministros/ Ministro da Guerra/ Ministro da Guerra/ Guerra Junqueiro/ Guerra Junqueiro/ Junqueiro há no Mar/ Junqueiro há no Mar/ O Mar tem Estrelas/ Estrelas do Mar/ O Mar é na China/ A China é na Ásia.../ Essa tem Graça!!!

PS: O comendador, ao partir tanta porcelana "fake" desta loja dos trezentos, assume-se como o verdadeiro maestro da verdadeira operação furacão, assumindo a necessária loucura competente que tanto importunou a PT, o BCP, o CCB e o SLB, com passagem pela Ota. Ele está para estes restos de pátria, como os gémeos para a madrasta Europa. É um verdadeiro arrancador dos mantos diáfanos de certa fantasia que continuam a tapar as verdades nuas e cruas das circunstâncias. Agora que ele pôs gravata e camisa sem ser preta, se repetir a mobilização das origens humildes contra os sangue azul, pode efectivamente constituir o movimento dos descamisados, cujo lema terá de ser "ou há moralidade, ou comem todos". Continuo em Vale de Lobos, com Ota à vista...

25.6.07

Neste nosso querido socialismo de consumo, onde nacionalizámos os prejuízos e privatizámos os lucros...


Depois do São João e do Santo António e antes do São Pedro, com tantas marchas, sardinha assada e martelinhos de plástico, nada melhor do que passar os olhos, de soslaio, pelas duas dúzias de parangonas da política à portuguesa que enquadram o dia de hoje:

· Menezes critica Mendes por querer referendar Tratado da UE
· Lisboa está no centro mundial das TIC, diz Sócrates
· Baixa-Chiado: Nogueira Pinto admite estudar convite do PS
· Jardim defende mais «poder legislativo» para a Madeira
· BE acusa Rui Rio de «não ser homem de palavra»
· Açores: PSD e PS reúnem-se terça-feira na ilha Terceira
· Severiano defende programas de cooperação entre FA da CPLP
· Tratado da UE: Santana diz ser cedo para falar de referendo
· CML: Independentes dominam lista de Garcia Pereira
· Relações entre EUA e Portugal são «inconcebíveis» sem Açores
· UE: Marques Mendes insiste em referendo para cumprir promessa
· Portugal e Peru assinam acordo bilateral
· Telmo Correia: Câmara deve apoiar instituições de apoio à vida
· Negrão pede demolição de prédios onde foi filmado «Zona J»
· Jerónimo: governo quer usar Presidência da UE como «biombo»
· PSD nega que esteja a criar dificuldades ao avanço do tratado
· A4 traz «solidariedade e justiça» a Bragança, diz Sócrates
· CML: António Costa defende vias encerradas para desporto
· PM: Auto-estrada entre Vila Real e Bragança «é prioridade»
· Assessor de Santana responderá a livro de assessor de Sampaio
· Primeiro-ministro inaugura hoje último troço da A24
· CML: PS, CDU, BE, MPT e Roseta juntos por mais espaços verdes
· PR: resultado Cimeira corresponde ao que Portugal pretendia
· Cavaco visitou EUA para cumprir promessa eleitoral a emigrantes
· Montalegre: PM inaugura obras só possíveis com a adesão à UE.


Lidas e relidas daqui a um mês, a um ano ou a uma década, elas revelarão como nenhum destes ramos da árvore marcou a floresta.

Este é o país onde está prevista a construção de 40 000 000 de habitações, para apenas 10 000 000 de residentes, mas onde ainda temos uma lei das rendas que mantém o essencial da lei excepcional de Bernardino Machado que marcou a entrada da República na Grande Guerra, de 1914-1918. Este é o país onde o socialismo das nacionalizações revolucionárias do 11 de Março de 1975, nunca nacionalizou, ou municipalizou, o direito de superfície dos solos urbanos, como muitos países liberais fizeram. Este é necessariamente o país dos patos bravos e dos apitos dourados e consequente financiamento partidário através dos micropoderes.

Pelo menos, inventámos um socialismo de consumo, onde nacionalizámos os prejuízos e privatizámos os lucros, nesta nossa querida economia mística, bem expressa pelas escutas aos presidentes dos clubes de futebol que os jornais vêm publicando. É por isso que daqui a um pedaço irei à festa-procissão de São Berardo no CCB, onde o Joe vai gozando com o regime e os seus antecessores champas, amorins e belmiros, ao mesmo tempo que anuncia a urgente regeneração do capitalismo popular, como podemos ler em Vita Leggende e Miracoli del Santo Pescinese con la storia della Confraternita.

24.6.07

Os jogos florais da reforma do sistema político e da alteração da lei eleitoral...


Na passada sexta-feira, tive mais uma intervenção comentarista na TSF, a pretexto da chamada reforma do sistema político. Porque, depois do PS ter levantado a bandeira da reforma do parlamento, o PSD, usando a técnica da melhor defesa ser o ataque, decidiu seguir o conselho de Jaime Gama e tratou de lançar mais uma das eternas apostas de reforma do sistema político, dando este nome aos velhos e desgastados projectos de reforma do sistema eleitoral.

Por outras palavras, os partidocratas dominantes continuam a sua antiquada táctica dos jogos florais, fingindo que chamam a sociedade civil a debater o que apenas está dependente de um acordo neofeudal entre os dois partidos-sistema. Basta, aliás, recordar que as próprias revisões constitucionais vieram de acordos de salão entre o PS e o PSD, como o poderão atestar Marcelo Rebelo de Sousa, Fernando Nogueira ou António Vitorino, quando funcionaram como notários do regime.


Trata-se do habitual bailado da oligarquia dona do poder, desse clube fechado, de rigoroso direito de admissão, e seria tolo pedirmos aos que usam e abusam dessa posição dominante para se auto-subverterem, através das habituais reformas vindas de cima para baixo, onde quem está em cima nunca deixará que se gere uma subversão vinda de baixo, ou do lado.

Porque, tal como na União Europeia, também no plano doméstico vigora o princípio da hierarquia das potências, com dois partidos directores, o PS e o PSD, e vários poderes secundários, onde os primários não querem a subida dos secundários e os secundários se unem aos primários, na exclusão dos marginais que se colocam à porta do sistema.


Basta recordar que a lei eleitoral vigente ainda vem de um grupo de trabalho criado pelo I Governo Provisório, da era pré-PREC, assim confirmando como, em Portugal, duram especialmente as reformas emitidas em ditaduras revolucionárias e reformistas.

Como as que foram lançadas pela ditadura das finanças salazarista, com o 28 de Maio; pelo laicismo afonsista do governo provisório da república, em 1910-1911; pela liquidação das alcavalas do "ancien régime" semeadas por Mouzinho da Silveira na regência do Duque de Bragança, ex-rei D. Pedro IV; ou pela arquitectura de Estado do despotismo ministerial do Carvalhão.


Talvez seja melhor notarmos que o actual sistema político, com a sua partidocracia controleira, não passa, hoje, de um simples subsistema, onde a maioria dos factores de poder já não são nacionais. E onde até o próprio poder político está fortemente condicionado pela união dos interesses económicos.

Aliás, tanto a integração europeia como a globalização transformaram o PS e o PSD em meras secções de multinacionais europeias que nem sequer têm autonomia programática, principalmente em matérias de projecto europeu, porque partido integrado, deles, se pisar o risco leva expulsão.


Pior do que isso: face a este concentracionarismo capitaleiro e castífero, a partidocracia nem sequer tem força para fingir que não é dominada pelos grupos de pressão patronais, como é bem patente na saga aeroportuária.

A CIP, que nem sequer vai a votos, como a sua antecessora da I República, até se permite patentear guerras de patrões como os seus colegas nortenhos.

Mesmo velhas heranças da democracia da sociedade civil, como eram os liberais clubes de futebol, acabam por poder ser comprados por singulares capitalistas, através de uma simples OPA.


Isto para não falarmos da reforma do ensino superior, impulsionada pela cláusula geral do espírito de Bolonha, onde corremos o risco de não nacionalizarmos a racionalidade importada, e tendo como ideia matricial o mesmo relatório da OCDE exportado para a Coreia.

Por isso é que não me admiriria que pedissem à secção de engenharia da delegação indiana do MIT para, em nome do salto tecnológico, escrevinharem umas linhas matriciais para a reforma do nosso pronto-a-vestir eleitoral, mesmo que seja um simples plágio do relatório emitido para o reino do Butão.

Até poderiam chegar à conclusão que a melhor solução para Portugal passa pela extinção do governo e da governação, pondo a concurso público internacional a gestão da coisa por uma qualquer firma de consultadoria da Patagónia. Eu até já vi um estudo estratégico-económico de um ilustre cipense pondo a hipótese de encerramento da Ilha do Corvo, tal como poderei ver outro, vindo dos vizinhos de Harvard, confirmando a inviabilidade da autonomia portuguesa, com esta classe política a que chegámos.

Entretanto, seria bem mais aconselhável que os lusitanos que restam tivessem um reforço da autonomia das suas autarquias locais e regionais, entre zonas livres e zonas estipendiárias, que se federariam numa segunda câmara, a instalar no Porto, enquanto se continuariam a realizar eleições directas por sufrágio universal apenas para um parlamento partidocrático de listas nacionais e para um presidente que bem poderia ser um rei eleito.

Julgo que o dinheiro dos portugueses poderia ser melhor gerido, evitando assim a nossa provável expulsão da zona euro, caso se mantenha esta confusão entre o mundo dos negócios, do futebol e da política, com lobistas, que são mais ratos do que lobos do homem, a não terem que se refugiar sob os honrados nomes de advogado e de deputado.

Até não teríamos que levar outros lobísticos dirigentes partidários, a acumularem direcções de clubes de futebol e de associações patronais, com intervalos deputáveis cheios de muita barganha e requerimentos, em nome do realismo económico e ao serviço de quem lhe paga.
Lobi há, oligarquia o põe. Em choco. Com gripe das aves a ameaçar, para que volte a Passarola.

23.6.07

Europa, viva o sim pelo não! Obrigado, Charles de Gaulle...


Todos os povos da Europa entoaram na madrugada de ontem um enorme hino de alívio, porque os seus ilustres representantes cupulares, na cimeira de Bruxelas, conseguiram um desses acordos, onde todos concordaram no que estiveram, estão e estarão em desacordo. E porque durante seis meses, através de José Sócrates, cabe ao Estado português desfazer a teia, eu, como simples cidadão da República, prometo que seguirei a clássica máxima de um patriota, do "my country, right or wrong".

Até considero justos os elogios de bom aluno que já recebeu do professor-presidente.
Contudo, não posso deixar de notar que, noutros traseiros do regime, acontecem paradoxos, como os morosos oito anos que levaram a uma acusação de corrupção sobre o tratamento de águas ambientais na Beira Interior, ou ao pingar diário de mais acusações sobre actuais e passados presidentes de clubes de futebol.

Não vou gastar hoje meu latim neste normal de haver anormais, até porque nas duas viagens ferroviárias que fiz ao Norte li semanários políticos em demasia e fiquei enjoado com tantos solavancos deste pensamento dominante que vai lavando as cabecinhas das chamadas classes A e B, este portuguesmente correcto que usa e abusa dos nossos destinos.


Reparei apenas como em época de exames surgem coloridos anúncios universitários, públicos e privados, com muitas publicidade enganosa de agências especializadas em figurantes e figurões, prometendo futuros radiosos e chouriçadas do costume, assim contribuindo para o engrossar dos proletários intelectuais, gerados por este falso planeamentismo que está a transformar o que deviam ser universidades em hipermercados com muitas caixas registadoras de propinas.

Apenas noto que estou farto dos falsos gestores que transformam venerandas instituições em manobras de péssimo "marketing", onde se usa a técnica daquela terra queimada de qualquer invasor, para o beneficiário, depois, andar a pedir melhor emprego noutras paragens.


Volto à Europa, recordando até que, na noite de sexta-feira, a debati com socialistas do Porto, onde voltei a ser nacionalista, federalista e liberal, sem qualquer choradinho sobre a resistência de um "Welfare State", onde todos podem obter o cartão europeu de utente dos serviços públicos de saúde, fazendo bicha numa qualquer loja de cidadão. Porque, em pleno euro, sem ser por culpa do euro, a minha bolsa minguou e nem sequer me permite ir comprar caramelos a Badajoz.


Ainda bem que chegámos a acordo sobre o que estámos em desacordo, coisa que é bem melhor do que darmos música celestial a gongóricos textos que ninguém quer comunitariamente receber, quando não há suficientes símbolos que transformem a Europa numa comunidade de amor, numa ideia e num valor pelo quais valha a pena morrer como cidadãos.

O erro dos comandantes do convencionalismo foi o de instrumentalizarem os belos símbolos da nossa "nation des nations" numa tecnocratice, especialmente quando começaram a dizer que a participação directa dos povos era menos legítima do que a decisão dos mesmos povos que indirectamente os canalizou como eurocratas. Esses que, no segredo das cimeiras e dos corredores das mesmas, negoceiam nossos destinos, em nome de falsas legitimidades que os levam a considerar-se como superiores à vontade geral de todos e cada um de nós, os homens comuns.


Ainda bem que, na recente cimeira europolaca, triunfou o método da cooperação política, essa herança gaullista do "oui par le non", como tão bem a qualificou Maurice Duverger. Pelo menos, alguns europeístas como eu, sempre podem perder a carga demonizante de herético, com que eram qualificado pelos "yes, minister" dos bismarckianos, habsburgos e napoleónicos, atirando-nos para a nebulosa do anti-europeísmo ou do euro-cepticismo, categorias inventadas pela engenharia inquisitorial da burocracia e dos seus anexos de intelectuários, avençados ou subsidiados para colóquios sobre o futuro da Europa, com muitos censores de serviço, dependentes das gavetas de fundos dos patrocinadores.

22.6.07

Retalhos da vida quotidana de um acoimado, dito utente


O futuro das universidades, depois da ofensiva lançada por Gago no dia de anteontem, foi ontem abalado pela reacção do situacionismo da endogamia vigente, onde o CRUP alargou a sua frente de resistência aos discursos anti-vitalmoreira de Jorge Miranda, Marcelo Rebelo de Sousa e Adriano Moreira. Continuo a repetir o que ontem aqui enunciei. Se me entalarem entre estes dois extremos, prefiro a primeira opção, dado que sempre abre umas janelas donde poderá vir uma ventania regeneradora que, apesar de causar alguns resfriados, afastará certos bafios bolorentos.

Entretanto, continua a saga da campanha autárquica lisbonense, onde Monteiro chama Ginjas ao Manuel do Bexiga, conquistando tanto tempo de antena quanto Paulo Portas, que pôs o seu Bexiga a lexiviar "grafitti" com uma electrónica máquina de sulfatar. Já na cimeira de Bruxelas, depois do teatro, todos foram para o bilateral da hierarquia das potências, com Bismarck e Napoleão III a desconfiarem dos amigos de Peniche, embora seja provável que Sócrates herde um qualquer fumo que não será preto nem branco, mas da cor que tem o cinzento de Barroso.


Cavaco discursou em Wasshington, mas Bush não teve agenda para o receber, que também por lá vigora a hierarquia das potências. Por cá, para além dos discursos de Berardo sobre o futuro banco Benfica, numa espécie de magazine que substitui o habitual espaço dos gatos fedorentos, ficámos a saber que um sacerdote foi preso em plena cerimónia baptismal, enquanto Pinto da Costa continua a ter os efeitos arguidosos, lançados por um certo "best seller" nascido da raiva ex-conjugal.

Por mim, fui acoimado. Estacionei o carro sem recorrer ao parquímetro durante alguns minutos e quando voltei tinha um papelucho amarelo da Dona Emel que, errando na indicação do artigo do Código da Estrada que teria violado, me ameaçava com uma penalização entre 30 e 150 euros, ao mesmo tempo que me mandava fornecer uma série de cerca vinte dados de identificação pessoal.

No papel, eu, cidadão e munícipe, era carinhosamente alcunhado como "utente" e convidavam-me a visitar um "sítio" que cliquei, mas que estava apenas em desactivada construção.

Tive que telefonar e fui recebido por alguém, meio simpático, que se assumiu como especialista em direito rodoviário e me explicou que tanto podia ser autuado por papéis brancos, os dos agentes das firmas subcontratadas pela Emel, que passam multas mais pequeninas, as quais se podem pagar por multibanco imediatamente, como por agentes autuantes da dita Emel, que passam os amarelinhos mais duritos. Porque face a estes, receberemos outro papel acoimante que, se for pago dentro de cinco dias, atingirá apenas os 30 euros.

Fiquei esclarecedíssimo sobre a utilidade da campanha eleitoral autárquica e decidi não votar ou votar no que mais facilitar a destruição criadora deste domínio do senhor ninguém e do seu comunismo burocrático.

Aliás, nada me disseram sobre esta possibilidade legal da Dona Emel poder constituir uma base de dados privativa, dado que, neste regime de
simplex, o autuante, com delegação de poder estatal, apenas deveria ser autorizado a recorrer, de forma limitada, à base de dados específica do Estado sobre a matéria.

Também fiquei esclarecido sobre o cumprimento do princípio da igualdade. Pode haver atrás de mim cinquenta carros em segunda fila e cem em cima do passeio, mas o autuante que usa postais amarelos apenas me pode lixar a mim, porque nessse dia e nessa hora não passou por lá a firma subcontratada que usa papelinhos brancos nem o agente da PSP.


Julgo que seria melhor ao Estado delegar o seu poder autuante, não numa empresa municipal que o pode subdelegar em subfirmas, mas num qualquer cidadão aposentado ou reformado, para que este entregue os fundos obtidos pelos mal estacionados aos administradores dos prédios da rua, para que estes possam cumprir mais um diploma que, invocando Bruxelas, vai controlar a eficiência energética.


Este
leviathan lá vai cantando e rindo e a malta já nem sequer pode protestar. Viva o simplex
desta cidadania com muitas lojecas de enganar os papalvos.

21.6.07

A fotografia do regime


Julgo que esta simples fotografia reflecte a imagem de certa faceta do presente regime. Direi mais: do melhor que o actual regime tem. Sem qualquer ironia. Nela se simbolizam todos os responsáveis pelo futuro das universidades portuguesas.

Todos estes autores e co-autores dos amanhãs que nos vão reformar têm inequívoca autoridade e brilhantismo político e académico. Mesmo aquele que chegará a doutor quando a vida lhe der o intervalo de tempo para aplicar o que tem dentro de si. Quase como fez o seu colega mais à direita, meu antigo professor. Porque o ex-comissário já tem experiência de alta consultadoria universitária, como recordo da sua solene tomada de posse enquanto consultor da privadíssima e pouco cooperativa Universidade Internacional de Veiga Simão e Adriano Moreira, com telejornal, togas e discursos de fazer chorar as pedras da calçada, antes de este último substituir o penúltimo como grão-avaliador e de o mesmo penúltimo substituir o antepenúltimo na pasta da defesa, para que o antepenúltimo fosse para Bruxelas, o penúltimo fosse lixado com a lista dos espiões e o último acabasse por não gostar do Gago, nestas trocas, baldrocas e trapalhadas dos estreitos notáveis a que chegámos, no vira o disco e toca o mesmo, dos jobs for the not-boys, com muito comer e calar, onde tenho muitas saudades do ministro Sottomayor Cardia.

Aliás, não consta da fotografia nenhum dos fundadores do PS. Um veio do PCP. Outro da UEDS. O terceiro da física atómica. E tal como registo que os actuais líderes do PS e do PP vieram da JSD, também reparo como, nos abaixo-do-assinado, circulam fascistas e estalinistas que ainda há dias gaguejavam os seus encontros imediatos de primeiro grau com o espírito de Bolonha. Para que não nos dividamos entre inquisidores e cristãos-novos em disputas sobre limpeza de sangue.

Não fui ontem ao debate público sobre a matéria, onde se anunciou que cerca de metade da minha universidade seria objecto de fundacionamento. Nem irei ao que está anunciado para a cidade do Porto, apesar de estar na mesma cidade, a convite do partido que está no governo, para outro mais transcendente debate sobre a Europa.

Aliás, ontem, tive mais uma discussão do sexo dos anjos naquela pequena Bizâncio de um enorme conselho dito científico que não nota o estreito em que se encolheu, sem reparar na chegada dos jovens turcos à porta da cidade. Há quem prefira continuar agarrado ao lugar do morto, disputando em exaltadas tecnocratices os despedaçados sapatos do defunto...

Como não assinei o abaixo-assinado anti-gago, apenas recordo que tenho dito o que penso sobre a matéria e que até o formalizei em lugar próprio, em sessão formal do Senado da minha universidade, onde cumpri o dever de ser uma das solitárias vozes que não entraram nas divagações teológicas da música celestial do respeitinho pelos micropoderes, fugazmente instalados. Irei lutar para que os restos da UTL que não estão sujeitos ao justo fundacionamento se livrem do afundacionamento.

A universidade não é o preto e o branco do sim e do não. Logo, não serei eu a dizer que a onda instalada no poder é o diabo contra o deus dos abaixo-assinados. O maniqueísmo é o contrário da necessária complexidade que deve marcar a ideia de "universitas scientiarum".

Por mim, apenas quero viver numa pátria onde o ministro do interior não lave as mãos como Pilatos, se o agente da polícia secreta assassinar o chefe da oposição. Prefiro aquele onde o ministro das obras públicas se autopuniu quando caiu a ponte Hintze Ribeiro. Por isso não quero saber quem é o responsável pelas juntas médicas que obrigaram uma professora a morrer no seu posto. Felizmente que temos um ministro da justiça que, quando era ministro das polícias, disse que não era essa a sua polícia. Porque também na altura o presidente da república clamou pelo direito à indignação por causa de um simples agente da autoridade.

Julgo que a culpa não pode continuar a morrer solteira. Por isso, louvo a coragem de Gago e de quem o acompanha. Eles assinaram. Os outros que se assumam livremente, sem a tutela do CRUP e dos anexos avaliadores, especialmente quando caíram nas estreitas teias do lobismo.

Se tudo fosse Maniqueu, preferiria a fotografia do regime. Por isso, continuo a seguir Miguel de Unamuno: Éste es el templo de la inteligencia! ...Vosotros estáis profanando su sagrado recinto. Yo siempre he sido , diga lo que diga el proverbio, un profeta en mi propio país. Venceréis, pero no convenceréis, porque convencer significa persuadir, y para persuadir necesitáis algo que os falta: razón y derecho en la lucha.

Pouco antes, Unamuno dissera "Acabo de oír el grito negrófilo de "¡Viva la muerte!". Esto me suena lo mismo que "¡Muera la vida!". Y yo, que he pasado toda la vida creando paradojas que provocaron el enojo de quienes no las comprendieron, he de deciros, con autoridad en la materia, que esta ridícula paradoja que me parece repelente. Puesto que fue proclamada en homenaje al último orador, entiendo que fue dirigida a él, si bien de una forma excesiva y tortuosa, como testimonio de que el mismo es un símbolo de la muerte. ¡Y otra cosa! El general Millán Astray es un inválido. No es preciso decirlo en un tono mas bajo. Es un inválido de guerra. También lo fue Cervantes. Pero los extremos no sirven como norma. Desgraciadamente hay hoy en día demasiados inválidos, Y pronto habrá más si Dios no nos ayuda. Me duele pensar que el general Millán Astray pueda dictar las normas de psicología de las masas. Un inválido que carezca de la grandeza espiritual de Cervantes, que era un hombre, no un superhombre, viril y completo a pesar de sus mutilaciones, un inválido, como dije, que carezca de esa superioridad de espíritu, suele sentirse aliviado viendo como aumenta el numero de mutilados alrededor de él (...) El general Millán Astray quisiera crear una España nueva, creación negativa sin duda, según su propia imagen. Y por ello desearía una España mutilada..."

Para bom entendedor de paradoxos, meio discurso de Unamuno basta. Não houve sumos sacerdotes no templo. E mesmo este episódio de Salamanca não é unívoco. Porque entre, Unamuno e Astray, apareceu o grito do poeta José Maria Pemán, do viva a inteligência, morram os maus intelectuais. E os três estavam do mesmo lado da barricada, isto é, com o alzamiento franquista. Seria também verdadeiro notar que os grandes pensadores da Agrupación al Servicio de la República, como Gregorio Marañón, Ortega y Gasset ou Pérez de Ayala não tinham sido ouvidos, a tempo, quando denunciaram os desmandos que causaram a espiral violentista da guerra civil e da posterior vindicta franquista, dado que, nos dois extremos, quem venceu em poder não convenceu em autoridade.

Estavam em disputa quanto a concepções do mundo e da vida, no âmbito de uma facção em guerra, num tempo dividido entre os do vivam e os do morram, onde, para se dizer viva se tinha de matar. Prefiro que não tenha de haver discursos de Unamuno, evitando que os intelectuais caiam na intelligentzia e que a cultura se volva em kultura. Daí que a universidade deva continuar a ser universidade, porque mesmo entre militantes da mesma ideia se deve começar o discurso da seguinte forma unamuna:

Estáis esperando mis palabras. Me conocéis bien, y sabéis que soy incapaz de permanecer en silencio. No aprendí hacerlo en los setenta y tres años de mi vida. Y ahora no quiero aprenderlo. A veces, quedarse callado equivale a mentir. Porque el silencio puede ser interpretado como aquiescencia.

Tenho a certeza que a justiça continua a ser uma deusa de olhos vendados


Um qualquer cidadão terá apresentado uma qualquer queixa-crime contra outro qualquer cidadão e este, em resposta íntima, acaba de fazer um belo elogio do Estado de Direito que, a seguir transcrevo. Tenho a certeza que a justiça continua a ser uma deusa de olhos vendados cuja espada está ao serviço do todo e não se confunde com a do Leviathan, nem com o báculo que este tem na contramão e faz confundir um opositor com um pecador. O cidadão justamente queixoso é um dos máximos símbolos da democracia portuguesa. Tem o direito de defender os seus direitos e a sua imagem pelo recurso ao sistema de administração da justiça. Mas também vai ser, durante seis meses, o máximo símbolo das democracias europeias.

Nixon também era o máximo símbolo das democracias ocidentais e não consta que tenha sido ele a assaltar o edifício do Watergate. Mas por causa de uns dislates de uns pequenos agentes teve que abandonar o máximo poder mundial em plena Guerra (Fria). Parece que nos USA se gravavam todas as conversas do Presidente em plena Casa Branca. Parece que seríamos todos estúpidos se confundíssemos a árvore com a floresta. Só que uma só árvore, ou um só ramo de uma delas pode apodrecer toda a imagem da própria floresta:


Desta vez, ao contrário de 24 de Outubro de 2004 , não bateram à porta da minha velha casa, em Alcobaça, pelas 7:00, ainda o sol não tinha nascido, dois inspectores da Polícia Judiciária e um procurador-adjunto por causa da suspeita do gravíssimo crime de... desobediência simples (do qual fui absolvido depois em tribunal, veredicto confirmado pela Relação de Coimbra) - não fui acusado de qualquer violação de segredo de justiça. Não pensei que fosse o padeiro - aliás, se à hora do lobo oiço vozes no patim e o batente soa, nunca mais penso que seja o padeiro... Eu não abri a porta estremunhado, um olho aberto, outro fechado, nem divisei três vultos. Não responderam que eram da Polícia Judiciária. Não começaram por entrar - e só se percebe, acreditem, o que é alguém entrar em vossa casa sem pedir licença a primeira vez que se sofre essa humilhação sem poder reagir - e me mostraram o mandado da juíza (que, todavia, não os autorizava a apreender-me correspondência...).

...

Desta vez, não lhes pedi para vestir umas calças, já que não os queria atender em pijama. Não me perguntaram, em tom solene, quantas pessoas estavam em minha casa. Não os avisei que minha mulher ainda descansava no quarto, como quem lhes fazia notar que tivessem a decência de a respeitar.

Desta vez, não os levei ao escritório exíguo onde escrevo. Não lhes abri o computador, com a intenção de lhes mostrar a pasta onde guardo os meus escritos, para mo desligaram imediatamente, que "podia ter uma instrução automática para formatar o disco..." Não lhes indiquei as pastas de arquivo com etiqueta "Política" (de 1 a 7), folhas bem arquivadas pois era por causa de política que vinham buscar a casa onde vivo e que foi de meus avós. Não lhes mostrei os papéis, não me questionaram sobre a sua origem, não me confiscaram os apontamentos manuscritos que tinham contactos de jornalistas nem ignoraram ostensivamente uma folha com o contacto de um assessor de tribunal (a quem tinha pedido legitimamente o link de uma página da internet de uma dado acórdão já público).

Desta vez, os meus dois filhos não apareceram assustados na sala da minha pobre casa, sem que eu lhes pudesse explicar quem eram aquelas pessoas. Só consegui fazê-lo passados dois dias - perante o eco duro da pergunta consecutiva do mais novo, que repetia a cada explicação minha: "mas... pai: tu fizeste algum crime?..." Não é fácil sossegar os olhos francos de uma criança que vê nos polícias - as crianças não sabem o que são procuradores - os homens que prendem os "maus", que o pai não fez crime algum e que a família tinha sido atingida devido a motivos justos e ao serviço cívico da comunidade, com a preocupação fundamental de defesa das crianças da Casa Pia vítimas comprovadas de abusos sexuais. Se a polícia te buscou, algum defeito te achou... As crianças não conhecem o que é a violência e a desvergonha do sistema. Não obstante, devem ter sentido que sofreram alguma violência na sua intimidade porque a minha filha sentiu-se mal na escola no dia seguinte e telefonaram imediatamente a minha mulher para a levar para casa.

Desta vez, não lhes pedi para me ir arranjar que daqui a pouco tinha aulas em Santarém, obtendo a resposta, esclarecedora para a desnecessidade de terem acordado a minha família pelas 7:00 quando o alvo (eu) só saía de casa às 9:00: "o sôtor entra às 10 horas, não é?..." - entrava... Um polícia não surgiu com o meu telemóvel na mão que, depois, não confiscaram - perguntei se era escutado, riram-se...

Desta vez, a minha mulher não surgiu na sala, onde, mesmo assim, apresentou um "bom dia" seco, enquanto se dirigia às crianças para que se arranjassem para a escola. Eu não soube depois que lhe tinham revistado o carro dela sem mandado, já com os filhos lá dentro, quando ela se aprestava para seguir para o trabalho.

Desta vez, na minha curta sala, onde o retrato sóbrio dos meus avós reclamava outro respeito - em vez da boca de um agente para outro "em princípio, aqui não chove..." - entretanto mais apinhada com mais dois inspectores que se tinham reunido aos outros e ao procurador, ninguém me ajudou a redigir o requerimento a pedir cópia dos ficheiros académicos que dois dias depois... indeferiu - só me entregaram a tese de doutoramento (de que lhes expliquei não ter outra cópia) em CD sete meses mais tarde. Não me levaram o computador para só mo devolverem largos meses depois - o programa de tradução Babylon é que nunca mais funcionou. Eu não fui comprar um computador nesse dia - por imprudência, ainda nem sequer encomendei o próximo... Não tive de dar entrevistas para tornar mais complicado abaterem-me sem consequência.

Desta vez, não soube que tinham ido outros dois inspectores à mesma hora (7 horas em ponto, ainda de noite, nesse 27 de Outubro de 2004) a casa de minha mãe, a dois quilómetros do sítio onde eu, casado e com dois filhos, vivo - aliás já não vivia em casa de minha mãe desde que me casei em 1993. Que tocaram à campainha de uma mulher, de 78 anos e paciente cardíaca, mas "recta como o sol" - como dela dizia o meu avô Balbino -, e de uma prima ainda mais idosa, para lhe buscar a casa, com mandado autorizado por uma juíza de instrução - a quem, além de outro, prometo escrever, se cá estiver, no dia em que minha mãe nos deixar - por causa do gravíssimo crime de desobediência simples do filho... A minha mãe não perguntou aos agentes o motivo da busca, tendo acrescentado que, porém, não deveria ser por causa de corrupção ou droga, tendo os polícias, envergonhados, explicado que era "por causa de umas coisas que o seu filho escreveu"... Depois de uma busca pela casa, telefonaram para alguém - provavelmente o procurador que estava em minha casa e dirigia a busca - e levaram um computador velho de 11 anos, um IBM 433 DX, que ela tinha comprado para os filhos antes de eu me casar e que mantinha lá com o fito que os netos nele se entretivessem, o que faziam muito raramente. A minha mãe que no tempo da ditadura teve, porém, gentileza menor: a polícia agora, em 2004, tinha ido pessoalmente revistar-lhe a casa "por causa de umas coisas que o seu filho escreveu" em vez da maçada da notificação, em 1973, para comparecer na GNR junto ao Governo Civil de Leiria devido a ter ousado pôr um ministro em tribunal por este ter sancionado um concurso em que havia sido preterida, se julgava com direito e veio a vencer após recurso.

Desta vez, não me comovi com o texto que minha irmã, melhor do que eu, gritou em 16 de Novembro de 2004 sobre a violência que foi provocada à nossa mãe "por causa de umas coisas que o seu filho escreveu". Um homem não chora.

Desta vez, não consta que tenha sido instaurado o inquérito para demonstrar neutralidade processual e equidistância face ao Horror, para compensar a sistémica vozearia orquestrada queixosa de alegado desfavor.

Desta vez, minha mãe não apareceu em casa a chorar por causa de um interrogatório manhoso - já não bastava a busca!! - relacionado com a apreensão que lhe fizeram tal computador, por funcionário judicial indigitado para o trabalho - "minha-senhora-o-seu-filho-disse-nos-que-o-computador-era-dele..." - "se-o-meu-filho-disse..." - "assine-aqui-por-favor..." Pensava eu que ela tinha ido ao tribunal por causa de uma tentativa de roubo que lhe foi feita por uma mulher, toxicodependente, com uma faca, em que sugeriram que desistisse (minha mãe queria até perdoar à mulher...) e, afinal, era para se livrarem da embrulhada da apreensão do computador de que é proprietária que lhe devolveram nessa altura - o que é, no fim de contas, uma simples tentativa de roubo com faca a uma senhora com 78 anos se comparada com a gravidade de uma desobediência simples do filho?...

Desta vez, não fui procurar alguém, com um carregador Nokia no bolso, à cautela por causa de alguma eventualidade - e só depois me advertiram que aí não deixam usar telemóvel -, com o propósito de obter uma explicação e a esperança de não o encontrar.

Desta vez, não abriram o meu computador sem a minha presença ou do meu advogado, aliás nem reparei em qualquer selo quando por lá o encontrei depois. Um computador com a minha conta bancária e de minha mulher, cartões de crédito, declarações fiscais, passwords, registo de tráfego - além de artigos, trabalhos, lições, exames e notas meus, fotografias da família, escritos de minha mulher, desenhos e jogos das crianças, etc.. Nem vi escarrapachados nos apensos detalhados do processo em cinco volumes grossos, impressos os meus mails, os tais que não estavam autorizados a apreender, e os meus recados do Outlook do tipo da gravidade de mensagens criptológicas como "comprar pneus para o carro".

Desta vez, não fui, ainda, a julgamento - mas irei, que não me perdoam a verdade (factos, factos, factos)... - e, portanto, não senti em quem julgava a cólera devida ao grande criminoso que eu era, nem me mandaram calar por ter arriscado a citação do subversivo Padre António Vieira ("se servistes a Pátria..."), nem impedem o meu combativo advogado, Dr. José Maria Martins, de me questionar directamente nem de me fazer certas perguntas inconvenientes, embora no interrogatório me possam exigir que descruze as pernas onde tenha assente algum bloco para escrever. Respeitinho!

20.6.07

Sobre maus cheiros de muitos ratos em decomposição e autoclismos que não limpam


Quem abrir as janelas dos nossos jornais de hoje pode confirmar como a hiper-informação continua a repetir a história do velho, do rapaz e do burro. Justiça é lermos no JN que três membros e alto dirigente do PS são referenciados em conversas telefónicas, no caso dos sobreiros, mas até agora, nenhum foi constituído arguido pelo Ministério Público. Administrador do Grupo Espírito Santo diz que "pressões são legítimas".

Mas, em termos de cheiro, refira-se que u
m rato em decomposição foi encontrado no cachecol de um operador judiciário, no mais simbólico dos palácios da justiça lusitana. O aparelho humano-judicioso de serviço protestou: «A par da existência destes animais, as condições de higiene nas instalações sanitárias, ou melhor, a total ausência das mesmas espelha-se no facto de os sistemas de autoclismo quase não funcionarem, levando a que, a partir das 14:00 horas, estejam praticamente inutilizáveis».

Logo, quem se interessa pelo protesto dos profes contra Gago ou pela reforma do Parlamento? E quem repara no que se passou no Conselho de Estado: basta a parangona onde se diz que a insistência do líder do PSD no referendo à UE foi contrariada no Conselho de Estado. Alegre, Balsemão e Almeida Santos pediram prudência. Cavaco e Durão também são contra. Pior ainda é confirmarmos que q
uem é mais pobre paga cada vez mais pela generalidade dos serviços de saúde do Estado.



O país está feliz. É governado por socialistas e tem uma oposição social-democrata que nunca deixariam que os pobres se lixassem sempre. E tem ilustres conselheiros de Estado, dotados de altíssima prudência, que não querem referendar a Europa, tal como nunca quiseram referendar a destruição da monarquia. O Estado são eles. A Nação é uma volúvel criatura, passível de cair nos excessos da paixão e deve, portanto, ser rigorosamente controlada pelos pequenos grupos que podem fazer pressões legítimas, mesmo que seja nos palacianos conselhos desta sociedade de corte. O povo não passa de uma abstracção que tem de ver os respectivos telejornais.

Aliás, a própria democracia está dependente do critério jornalístico dos grupos privados de comunicação social. A péssima lei eleitoral que permite doze candidaturas à autarquia lisbonense, sem uma segunda volta, por mais deliberações que emitam os árbitros comunicacionais e eleitorais, da ERC à CNE, existe para não ser cumprida, na sua letra e no seu espírito. Os cartões vermelho e amarelo já não expulsam ninguém do jogo e os jogadores que eles deixam ficar nem sequer esboçam um hipócrita protesto. Comem e calam. Tem razão quem vence. Ou quer aproveitar alguns restos de fugaz mediático.

No tempo do velho rotativismo, onde os governos ganhavam sempre as eleições, havia o costume de um poder moderador demitir as canalhocracias instaladas quando estas perdiam o estado de graça, a fim de permitir-se a alternância regeneradora. Sucedeu-lhe um esquema mais violento, dado que quando o partido não sistémico ganhou as eleições, o chefe da fugaz maioria alternativa, o maçon António Granjo, em 1921, acabou assassinado na Noite Sangrenta. Os catolaicos continuaram a dizer que era a maçonaria, certos maçons continuaram a dizer que eram as congregações. Tal como disseram do regicídio do rei liberal em 1908, do presidente maçon em 1918 ou do chefe da oposição em 1965. Obviamente, todos lavaram as mãos como Pilatos e continuaram a servir os vencedores, em nome das prometidas lentilhas que mesmo sem dedos ainda restam os anéis do pequeno vencimento e da magra reforma.


Felizmente, inventámos um regime onde a oposição ganhou imediatamente as eleições. Do PS em 1975 à AD em 1979, para, depois, se seguir Cavaco contra o Bloco Central e Guterres contra o cavaquismo, já depois do tabu que ele ainda não iluminou. Agora, todos sentados nos palácios, todos são rotativos sem poder moderador a emitir o certificado do fim do estado de graça, talvez com medo da ascensão de uns quaisquer gémeos. Porque um parlamento com medo de auto-reformar-se é tão ou mais legítimo quanto a voz directa do povão.

Seria melhor não compararem a Europa à regionalização e à IVG. Seria melhor dizer que as elites instaladas no estadão reduzem a cidadania europeia a uma simples questão diplomática, para uso dos circuitos esotéricos das cimeiras e passos perdidos. Desconfio que eles, os conselheiros de Estado, os presidentes, os governantes e os deputados se tenham transformado e meros donos do poder. Por mim, preferia que eles nos demonstrassem que ainda têm vontade de independência. Não quero gémeos, mas também não quero dar lições aos polacos sobre resistência nacional antitotalitária.

19.6.07

Não me abaixo, tenho assinado, em nome individual

Correm por aí uns abaixo-assinados contra a proposta de Gago sobre o ensino superior. Respeito os primeiros subscritores, um é um antigo professor que me ensinou a ser professor e liberdadeiro, outro é o reitor da minha "alma mater". Infelizmente não me posso abaixar, numa fila onde estão ex-barganheiros e um ou outro entusiasta do sistema, enquanto ele não lhes marcava o fim do doce suplemento de trinta por cento do vencimento, com que os fizeram mudar de compromissos. Felizmente, tenho assinado em nome próprio, mesmo quando estava em minoria e era considerado por um ou outro dos actuais protestantes como um mau exemplo de não colaboração com o situacionismo, deles, os que alinharam na chouriçada dos amanhãs que reformam e dirigem. Não gosto de colaboracionistas. Continuo na resistência construtiva, contra os coveiros das escolas e os especialistas em traição, nomeadamente em saneamentos dos diferentes em pensamento, neste caso da direita contra a esquerda, dizendo que a esquerda teria saneado a direita.

Viva o Joe Berardo que, ao menos, tem coração benfiquista e gosta de artes plásticas...


Depois das intervenções televisivas de ontem do senhor Presidente da República, do senhor Ministro da Presidência e do senhor Presidente da Comissão Europeia, fiquei mais descansado, considerando alarme falso a notícia segundo a qual o consumo de antidepressivos aumentou 68% no espaço de cinco anos. Cavaco Silva observou que a CIP recrutou para o respectivo estudo sobre Alcochete a Universidade de Aveiro e o Instituto Superior Técnico e concluiu: «Acho que é para isso que também existem as universidades: quando existe um assunto de interesse nacional, compete às universidades dar o seu contributo para esclarecer os portugueses».

Por mim, fiquei esclarecidíssimo. E à espera que Van Zeller encomende novo estudo sobre o diploma de Gago quanto à reforma do ensino superior, nem que seja à empresa de consultadoria do Professor Ernâni Lopes, que é colega do senhor Presidente da República na Universidade concordatária.
Aliás, já envidei todos os meus esforços junto de Joe Berardo para que este deixe de ser sócio da Universidade Atlântica, mesmo quando a dita nomeou Marques Mendes como supremo mandador da coisa, e passe para curador da minha universidade pública, depois da entrevista que ontem concedeu ao Diário Económico, onde proclamou: a equipa do Benfica é um lar de terceira idade. O Rui Costa diz que gosta muito do Benfica, então por que é que não jogou lá com 25 anos?

Apenas espero que a Associação Comercial do Porto, no seu estudo sobre a Universidade Velha Mais Um, alerte para os perigos da gerontocracia curadorenta que nos ameaça, à velha maneira do extinto sistema das anteriores avaliações das universidades, onde o grosso da coluna misturava comendadores presidenciais, comissões de honra e tipos que nem sequer sabiam quantas vezes é que já tinham feito setenta anos, como Salazar dizia de um certo arcebispo, em confidências a um seu ex-jovem ministro que, entretanto, se esqueceu da anedota que foi contando, quando ela o atingiu em pleno.


Vale-nos que a fina flor parlamentar do PS foi para Tomar reflectir, talvez para recobrar inspiração templária e transmudar os tiques situacionistas e gerontocráticos que o marcam, para um grande fôlego reformista do sistema político, muito especialmente depois das eleições francesas e do anúncio do contraciclo europeu, que tanto entusiasma Paulo Portas e o arranque dos sobreiros nas herdades do BES.

Espero que, nos corredores, não tenham contado anedotas sobre Margarida Moreira, a licenciatura do Primeiro-Ministro, a influência dos ataques terroristas sobre o tratado constitucional europeu e o aeroporto da Ota, naquilo que, algo depreciativamente, o gémeo polaco qualificou como retórica.

Espero também que, na próxima reunião europeia, José Sócrates seja munido de um adequado consultor teológico que lhe transporte a pasta da hermenêutica, à semelhança do que faz Marques de Almeida ao seu antigo chefe da Lusíada, arrependido que está de ter ido à base aérea onde Marcello Caetano recebeu Nixon e Pompidou, para outro chá das cinco.


Entretanto, o sistema da nossa administração da justiça lá condenou a prisão efectiva um conhecido autarca, ultimamente eleito pelo Movimento do Partido da Terra, assim se demonstrando que mesmo as boas intenções em forma de partido se transformaram em alvará, para uso de despedidos políticos, assim enquistando os partidos sistémicos existentes que logo proclamam o situacionismo como um mal menor.

No que têm alguma razão, porque mesmo em Itália, onde houve um terramoto no subsistema partidário e no esquema eleitoral, tudo continuou quase como dantes, quanto à forma de selecção de elites, mesmo com Papa no terreno, memórias vaticanas da P2 e ligações mafiosas a fascistas, socialistas, sociais-democratas e democratas-cristãos. Pelo menos, os velhos fascistas neofascistas passaram a pós-fascistas ministeriais, tal como os comunistas estalinistas passaram a democráticos da "sinistra" e também à respeitabilidade ministerial, à boa maneira do Peppone e do Don Camilo.


Por mim, que não sou muito adepto dos preconceitos analíticos de Robert Michels, esse alemão italianizado que acabou fascista, depois de se fartar do SPD dos começos do século XX, apenas reparo que as novas fábricas de publicização das novas oligarquias de notáveis já não tratam de partidos ideológicos ou de partidos classistas, mas de mais de meio século de sistemas partidocráticos "catch all" da era pós-ideológica, com a Ségolène a divorciar-se do Hollande e Sarkosy a livrar-se do Juppé, sem que a luso-descendente da UMP tenha destronado Valls, segundo as reportagens dos analistas das revistas cor de rosa que as nossas televisões põem como correspondentes nos elíseos campos das crises magrebianas.

À maneira de Daniel Bell, direi que mesmo os nossos maiores partidos, se são grandes demais face à "falta de autonomia da nossa sociedade civil" no contexto de um Estado pombalista, acabam por ser pequenos demais para este ambiente de compressão dos factores nacionais de poder, num tempo de globalização e de união europeia, com os nossos PS, CDS e PSD, feitos secções domésticas de grandes multinacionais partidárias, com discursos de Marques Mendes enternecidos com Sócrates, para uso da opinião dominante da faceta habsburga e bismarckiana do PPE.


Se uma empresa de consultadoria politológica, paga pela CIP, elaborasse um estudo sobre a reforma partidocrática deste Portugal dos Pequeninos, a montanha pariria mais um ratinho, até porque é patente a nossa pobreza em recursos científicos na área, dado que nem sequer temos um banco de dados equivalente ao que possui o LNEC para engenharias e engenhocas.

Ainda vivemos nas sombras das quase ciências ocultas e das traduções em calão, no inventário dos grupos de pressão, da "pantouflage" e das próprias causas da corrupção, sem adequados estudos sobre os políticos profissionais, estatais, autárquicos e regionais, fiando-nos na mera experiência e nas intuições dos estimados animais políticos que nos têm regido.


Daí que, em qualquer curva de uma crise aeroportuária, tudo se espatife em torno de teorias das bruxarias conspiratórias, onde não falta o recurso imaginativo às maçonarias e à confederação das seitas catolaicas, agora actualizado pelo volume de negócios de algumas sociedades de advogados e de certos gabinetes de arquitectura, tudo pintalgado com comissões de honra e o espectáculo dos mandatários eleitorais, com Maria José Nogueira Pinto a mostrar inclinação pela calçada do Quebra Costas, talvez mais por causa do arquitecto Salgado que a apoiou e menos pelo grão-mandatário, que também a apoiou, ao contrário do Telmo, do Carmona e do Monteiro, cansados das histórias do Walt Disney e da Enid Blyton, bem melhores do que os "ghostwriters" da Carolina Salgado que cheiram ao desarticulado de certos romances de direito processual penalizado, nosso.

Daí que tudo acabe com um discurso de Jaime Gama a criticar o PS e o PSD por não terem apresentado propostas de alteração da lei eleitoral, ou com Durão Barroso a reconhecer que as coisas não correram bem no Iraque, para que deliremos com a imagem de António Costa, feito Santantoninho com o Zé Sócras vestido de Menino Jesus, sem palha de Abrantes nem bafo da vaquinha, para que ninguém vote a inclusão da Portela mais um no agendamento potestativo, sem que se possa votar na Fatinha, no Isaltino ou no major, para atingirmos o clímax do quanto melhor, pior...


Por outras palavras, também eu achei, durante muito tempo, que era
para isso que também existiamm as universidades: quando existe um assunto de interesse nacional, compete às universidades dar o seu contributo para esclarecer os portugueses. O problema continua a estar em quem tem poder para ditar quem são os notáveis e quem são os credíveis, livres do "agenda setting" das "modas que passam de moda". A resposta, dos tempos que passam, diz que são aqueles que são pagos pela vigente União dos Interesses Económicos, a que apenas podemos dar o nome de direita dos interesses.

As universidades preferem entrar no jogo desta pequena loucura doméstica que afectou a partidocracia: andam à procura dos notáveis que negociarão com o governo, na qualidade de curadores, donde sairão os reitores e os profissionais da gestão, à boa maneira neofeudal, num país onde, por falta de autonomia da sociedade civil, tudo ficará sob alçada dos tradicionais donos do poder e da consequente subsidiocracia e avençologia.

Viva o Joe Berardo que, ao menos, tem coração benfiquista e gosta de artes plásticas! Ainda por cima é madeirense e diz mal do Jardim Gonçalves, por causa do BCP, e do Belmiro de Azevedo, por causa da PT, assim demonstrando o pluralismo realista da anti-unicidade dos patrões, que outros dizem loucos ou incompetentes, quando se trata de negócios.

Apenas acrescente que importa dar ao papa o que não é de césar, nem da mulher dele, aos negócios o que não é da universidade, para que não se confunda a república com o capital e a pátria com o arranque dos sobreiros, segundo a tal lógica terra a terra do Sancho Pança e do vicentino Juiz da Beira, quando ainda não havia comprimidos azuis para darem aos velhos a ilusão de um regresso à mocidade do tempo que volta para trás...

18.6.07

Neste mundo de homens lúcidos, prefiro manter a lucidez de me saber ingénuo...


Últimos dias da Primavera, antes de subirmos todos ao promontório dos séculos, ao presidirmos, durante seis meses, à União Europeia, através de José Sócrates, repetindo anteriores momentos dessa liturgia do poder dos poderes, já desempenhada por Aníbal Cavaco Silva e António Guterres, ao serviço de uma pátria que já contou com Afonso Costa na Sociedade das Nações e tem hoje Durão Barroso em Bruxelas, enquanto, nas globalices, se destacam Guterres, nos refugiados, Figo em Milão, Mourinho em Londres e Sampaio, na luta contra tuberculose. D. Afonso Henriques, encerrado na pedra tumular de Santa Cruz, por despacho da ministra Isabel, lá repetirá o camoniano grito da ditosa pátria que tais filhos tem.

Só que estas luzes da glória, bem acompanhadas pela transmissão integral dos medalhamentos e penduricalhos do dez de Junho, que ontem atravessou a eternidade das ondas hertzianas, com os golfinhos do Sado ao fundo, apenas cortados pelos sorrisos bate-palmas de Cavaco, Gama, Sócrates, Noronha do Nascimento e Rui Moura Ramos, têm as suas sombras, bem expressas pelo lodaçal que emerge nos meandros das discussões policiescas, futeboleiras e negocistas, onde se misturam as dúvidas da rede pedófila, dos apitos dourados e da pequena corrupção.

Basta passarmos os olhos pelos comentários, maioritariamente anónimos e pseudónimos, que ocupam os blogues judiciários, policiais e advocatícios, onde pseudo-representates de sociedades secretas e discretas, partidos, polícias, magistrados, advogados e consultadorias de obras públicas distribuem inconfidências e teorias da conspiração, segundo um ritmo de loucura crescente. Basta lermos esta entrevista, ou entendermos esta notícia, com o comentário da visada, em directo.


Apenas observo que é cada vez mais ténue a fronteira que separa a liberdade de expressão de pensamento das trevas da mais pura irracionalidade, bastando que um dos muitos milhares de "dossiers" explosivos entre no domínio da investigação jornalística e passe para as primeiras páginas de um diário ou de um semanário de expansão nacional, com a cobertura de um sistema de patrões privados da comunicação social. Por outras palavras, o gigante do estadão, feito de muito barro moldado com restos de lodaçal, tem muitos dos seus pés dependentes de uma denúncia fundamentada.

A velha técnica de navegação política, onde a demagogia populista do poder institucionalizado ainda conseguia ser domada pelos grandes engenheiros sociais do "agenda setting", corre o risco de escorregar numa simples casca de banana e atirar a nau do Estado para o "tabu" ou para o "pantanal", com consequentes fugas de primeiros-ministros, ou de ministros, para outros lugares ao sol.

Por mim, neste mundo de homens lúcidos, prefiro manter a lucidez de me saber ingénuo, isto é, de manter a velha hierarquia de valores, segundo a qual os cães ladram, mas a caravana passa. Os maquiavéis podem ter razão no curto prazo das cabalas, mas perdem-na a médio e a longo prazos, quando o furor das cabalas arrefecer e a protecção dos amigalhaços esmorecer. Isto é, os grandes senhores do neofeudalismo podem episodicamente ascender a donos do poder dos pequenos sistemas, enquanto durarem algumas conjunturas conspiratórias, mas não tardará que a poeira assente, que o lodaçal se torne ressequido e que a política se liberte das teias antipolíticas que a condicionam.

O diploma de licenciatura do senhor primeiro-ministro, os interesses imobiliários dos patos bravos, as golpadas de assalto ao PS e ao PSD, ou a confusão que pretendem lançar os corruptos e pedófilos, que se tentam livrar da mão longa dos que têm sede de justiça, são simples árvores de uma bem maior floresta. O tempo há-de lavar muitas destas confusões de narizes ou figuras de cera e a verdade há-de acabar por vir à tona da água choca que a todos nos vai sujando.

É evidente que, nestas encruzilhadas, é difícil que um qualquer pigmeu possa subir para a cabeça do gigante institucional e ver mais longe a simplicidade do bem comum, segundo a técnica do ovo de Colombo. Mas eu acredito que, em tais momentos, importa que cada um possa continuar a viver como pensa, sem pensar muito como depois irá viver, mesmo que tenha de submeter-se para sobreviver, para, depois, poder continuar a lutar para viver.

Nestas alturas, vale a pena ter autonomia pessoal e recordar a clássica ciência dos actos do homem como indíviduo, a que os gregos chamaram ética, e a que qualquer um, desde que tenha e mantenha regras pessoais, pode aceder, se se considerar o centro do mundo e espremer, gota a gota, os restos de escravo que lhe tentam impingir. Basta que mantenha a revolta que dá liberdade ao homem.

Os sistemas de alienação que nos condicionam podem parecer mais fortes e convidam à desistência, especialmente quando nos lançam na solidão e nos ameaçam com o pelourinho, pelo habitual cerco dos bufos, os telefonemas anónimos, os comentários persecutórios e o habitual desfile dos traidores e dos cobardes. É então que se impõe a coragem de ser minoria, a tal semente da resistência com que poderemos semear a liberdade.

Por mim, que também sofro com a mentira dos pequenos bufos e dos pequenos chefes, assentes em injustos privilégios com que se vão banqueteando, apenas repito que me submeterei para sobreviver, alimentando os filhos e pagando impostos, mas que nunca desistirei de lutar para continuar a viver como penso, mesmo que seja no desejado exílio, que tarda a poder procurar. As cadelas, os cães e os cachorros que ladrem, o norte dos meus princípios há-de furar o bloqueio. Mesmo que não seja comigo, prestes a continuar em Valbom dos Gaviões. A ideia de instituição que sirvo é mais ampla do que esse misto de cadeia e hospital psiquiátrico que mantém o nome da instituição que vossas excelências assaltaram.

Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las...