Viva o Joe Berardo que, ao menos, tem coração benfiquista e gosta de artes plásticas...
Depois das intervenções televisivas de ontem do senhor Presidente da República, do senhor Ministro da Presidência e do senhor Presidente da Comissão Europeia, fiquei mais descansado, considerando alarme falso a notícia segundo a qual o consumo de antidepressivos aumentou 68% no espaço de cinco anos. Cavaco Silva observou que a CIP recrutou para o respectivo estudo sobre Alcochete a Universidade de Aveiro e o Instituto Superior Técnico e concluiu: «Acho que é para isso que também existem as universidades: quando existe um assunto de interesse nacional, compete às universidades dar o seu contributo para esclarecer os portugueses».
Por mim, fiquei esclarecidíssimo. E à espera que Van Zeller encomende novo estudo sobre o diploma de Gago quanto à reforma do ensino superior, nem que seja à empresa de consultadoria do Professor Ernâni Lopes, que é colega do senhor Presidente da República na Universidade concordatária. Aliás, já envidei todos os meus esforços junto de Joe Berardo para que este deixe de ser sócio da Universidade Atlântica, mesmo quando a dita nomeou Marques Mendes como supremo mandador da coisa, e passe para curador da minha universidade pública, depois da entrevista que ontem concedeu ao Diário Económico, onde proclamou: a equipa do Benfica é um lar de terceira idade. O Rui Costa diz que gosta muito do Benfica, então por que é que não jogou lá com 25 anos?
Apenas espero que a Associação Comercial do Porto, no seu estudo sobre a Universidade Velha Mais Um, alerte para os perigos da gerontocracia curadorenta que nos ameaça, à velha maneira do extinto sistema das anteriores avaliações das universidades, onde o grosso da coluna misturava comendadores presidenciais, comissões de honra e tipos que nem sequer sabiam quantas vezes é que já tinham feito setenta anos, como Salazar dizia de um certo arcebispo, em confidências a um seu ex-jovem ministro que, entretanto, se esqueceu da anedota que foi contando, quando ela o atingiu em pleno.
Vale-nos que a fina flor parlamentar do PS foi para Tomar reflectir, talvez para recobrar inspiração templária e transmudar os tiques situacionistas e gerontocráticos que o marcam, para um grande fôlego reformista do sistema político, muito especialmente depois das eleições francesas e do anúncio do contraciclo europeu, que tanto entusiasma Paulo Portas e o arranque dos sobreiros nas herdades do BES.
Espero que, nos corredores, não tenham contado anedotas sobre Margarida Moreira, a licenciatura do Primeiro-Ministro, a influência dos ataques terroristas sobre o tratado constitucional europeu e o aeroporto da Ota, naquilo que, algo depreciativamente, o gémeo polaco qualificou como retórica.
Espero também que, na próxima reunião europeia, José Sócrates seja munido de um adequado consultor teológico que lhe transporte a pasta da hermenêutica, à semelhança do que faz Marques de Almeida ao seu antigo chefe da Lusíada, arrependido que está de ter ido à base aérea onde Marcello Caetano recebeu Nixon e Pompidou, para outro chá das cinco.
Entretanto, o sistema da nossa administração da justiça lá condenou a prisão efectiva um conhecido autarca, ultimamente eleito pelo Movimento do Partido da Terra, assim se demonstrando que mesmo as boas intenções em forma de partido se transformaram em alvará, para uso de despedidos políticos, assim enquistando os partidos sistémicos existentes que logo proclamam o situacionismo como um mal menor.
No que têm alguma razão, porque mesmo em Itália, onde houve um terramoto no subsistema partidário e no esquema eleitoral, tudo continuou quase como dantes, quanto à forma de selecção de elites, mesmo com Papa no terreno, memórias vaticanas da P2 e ligações mafiosas a fascistas, socialistas, sociais-democratas e democratas-cristãos. Pelo menos, os velhos fascistas neofascistas passaram a pós-fascistas ministeriais, tal como os comunistas estalinistas passaram a democráticos da "sinistra" e também à respeitabilidade ministerial, à boa maneira do Peppone e do Don Camilo.
Por mim, que não sou muito adepto dos preconceitos analíticos de Robert Michels, esse alemão italianizado que acabou fascista, depois de se fartar do SPD dos começos do século XX, apenas reparo que as novas fábricas de publicização das novas oligarquias de notáveis já não tratam de partidos ideológicos ou de partidos classistas, mas de mais de meio século de sistemas partidocráticos "catch all" da era pós-ideológica, com a Ségolène a divorciar-se do Hollande e Sarkosy a livrar-se do Juppé, sem que a luso-descendente da UMP tenha destronado Valls, segundo as reportagens dos analistas das revistas cor de rosa que as nossas televisões põem como correspondentes nos elíseos campos das crises magrebianas.
À maneira de Daniel Bell, direi que mesmo os nossos maiores partidos, se são grandes demais face à "falta de autonomia da nossa sociedade civil" no contexto de um Estado pombalista, acabam por ser pequenos demais para este ambiente de compressão dos factores nacionais de poder, num tempo de globalização e de união europeia, com os nossos PS, CDS e PSD, feitos secções domésticas de grandes multinacionais partidárias, com discursos de Marques Mendes enternecidos com Sócrates, para uso da opinião dominante da faceta habsburga e bismarckiana do PPE.
Se uma empresa de consultadoria politológica, paga pela CIP, elaborasse um estudo sobre a reforma partidocrática deste Portugal dos Pequeninos, a montanha pariria mais um ratinho, até porque é patente a nossa pobreza em recursos científicos na área, dado que nem sequer temos um banco de dados equivalente ao que possui o LNEC para engenharias e engenhocas.
Ainda vivemos nas sombras das quase ciências ocultas e das traduções em calão, no inventário dos grupos de pressão, da "pantouflage" e das próprias causas da corrupção, sem adequados estudos sobre os políticos profissionais, estatais, autárquicos e regionais, fiando-nos na mera experiência e nas intuições dos estimados animais políticos que nos têm regido.
Daí que, em qualquer curva de uma crise aeroportuária, tudo se espatife em torno de teorias das bruxarias conspiratórias, onde não falta o recurso imaginativo às maçonarias e à confederação das seitas catolaicas, agora actualizado pelo volume de negócios de algumas sociedades de advogados e de certos gabinetes de arquitectura, tudo pintalgado com comissões de honra e o espectáculo dos mandatários eleitorais, com Maria José Nogueira Pinto a mostrar inclinação pela calçada do Quebra Costas, talvez mais por causa do arquitecto Salgado que a apoiou e menos pelo grão-mandatário, que também a apoiou, ao contrário do Telmo, do Carmona e do Monteiro, cansados das histórias do Walt Disney e da Enid Blyton, bem melhores do que os "ghostwriters" da Carolina Salgado que cheiram ao desarticulado de certos romances de direito processual penalizado, nosso.
Daí que tudo acabe com um discurso de Jaime Gama a criticar o PS e o PSD por não terem apresentado propostas de alteração da lei eleitoral, ou com Durão Barroso a reconhecer que as coisas não correram bem no Iraque, para que deliremos com a imagem de António Costa, feito Santantoninho com o Zé Sócras vestido de Menino Jesus, sem palha de Abrantes nem bafo da vaquinha, para que ninguém vote a inclusão da Portela mais um no agendamento potestativo, sem que se possa votar na Fatinha, no Isaltino ou no major, para atingirmos o clímax do quanto melhor, pior...
Por outras palavras, também eu achei, durante muito tempo, que era para isso que também existiamm as universidades: quando existe um assunto de interesse nacional, compete às universidades dar o seu contributo para esclarecer os portugueses. O problema continua a estar em quem tem poder para ditar quem são os notáveis e quem são os credíveis, livres do "agenda setting" das "modas que passam de moda". A resposta, dos tempos que passam, diz que são aqueles que são pagos pela vigente União dos Interesses Económicos, a que apenas podemos dar o nome de direita dos interesses.
As universidades preferem entrar no jogo desta pequena loucura doméstica que afectou a partidocracia: andam à procura dos notáveis que negociarão com o governo, na qualidade de curadores, donde sairão os reitores e os profissionais da gestão, à boa maneira neofeudal, num país onde, por falta de autonomia da sociedade civil, tudo ficará sob alçada dos tradicionais donos do poder e da consequente subsidiocracia e avençologia.
Viva o Joe Berardo que, ao menos, tem coração benfiquista e gosta de artes plásticas! Ainda por cima é madeirense e diz mal do Jardim Gonçalves, por causa do BCP, e do Belmiro de Azevedo, por causa da PT, assim demonstrando o pluralismo realista da anti-unicidade dos patrões, que outros dizem loucos ou incompetentes, quando se trata de negócios.
Apenas acrescente que importa dar ao papa o que não é de césar, nem da mulher dele, aos negócios o que não é da universidade, para que não se confunda a república com o capital e a pátria com o arranque dos sobreiros, segundo a tal lógica terra a terra do Sancho Pança e do vicentino Juiz da Beira, quando ainda não havia comprimidos azuis para darem aos velhos a ilusão de um regresso à mocidade do tempo que volta para trás...
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