a Sobre o tempo que passa: Não, não vou por aí!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

26.7.07

Não, não vou por aí!


Tenho conhecido, ao longo da vida, tipos de bom e mau carácter, bem como amigos e adversários, de um ou outro teor. Detesto particularmente os que não têm bom e mau carácter porque, antes dos adjectivos, lhes falta o próprio substantivo, especialmente esses cobardes ambulantes que não têm vida, de tanto se submeterem para sobreviverem.

É por isso que as férias que amanhã iniciarei me farão retomar as energias de querer continuar a viver como penso, sem vocação para "homo partidarius", candidato a partidocrata, ministro ou deputado, mas com muitas mágoas por sentir que instituições a que dei um pedaço da minha vida entraram em agonia ou em degenerescência, especialmente quando deixaram que os absolutismos as corrompessem por dentro, desde o absolutismo de um só, pretensamente reaccionário ou vaidosamente iluminado, ao absolutismo de uma maioria conjuntural ou de uma oclocracia a ritmo de serôdia RGA, com sabor a plenário das universidades privadas ameaçadas de encerramento ministerial.


É por esta e por outras que me calo hoje, sobre aquilo que começou a emergir nos jornais tanto sobre uma agonia de pretenso partido como sobre segmentos universitários, coisas sobre as quais aqui tenho reflectido sem mantos diáfanos de hipocrisia, quase quotidianamente. Se a universidade não é o lugar adequado para se estabelecerem falsos tribunais ou palanques para a vindicta, deve ser um claustro da ciência e um dos redutos da liberdade académica contra a ameaça do pensamento único e, se for necessário, da própria resistência libertadora.



Uma universidade ou um partido só poderão reclamar do Estado autonomia se se assumirem como instituições. Porque, em primeiro lugar, são uma ideia de obra, uma criatura que se liberta dos criadores, até porque os cemitérios estão cheios de insubstituíveis. Porque, em segundo lugar, têm o dever de gerar manifestações de comunhão entre os respectivos membros. Porque, em terceiro lugar, exigem o leal cumprimento de regras processuais de um Estado de Direito.


E o Estado de Direito nunca foi o princípio da legalidade do governo dos espertos, dado que, no seu íntimo, é o exacto contrário do absolutismo e do consequente despotismo pretensamente iluminado. Até quem manda está submetido à própria regra que pode fazer. Porque nem tudo o que quem manda diz é lei. Quem manda tem de obedecer a princípios como os da igualdade e da imparcialidade. Aliás, hoje, quem manda nem sequer existe fora de quem o elege, dado ter que ser o representante de todos.

Pode ter a aparência da legalidade dos senhores da guerra, ou de ditaduras castrenses e regulamentares, acumulando a sacristia com a cavalariça, através do regresso ao processo revolucionário em curso, mas não tem legitimidade.

Ai de quem não reconheça que quem detém qualquer parcela de poder pode abusar do poder que lhe foi depositado pela comunidade, exigindo-se a separação de poderes e a cooperação estratégica entre eles. Ai de quem não reconheça que a autoridade, que vem de autor, é superior ao poderio transitório.

Não, não vou por aí! Sei o que são as subversões a partir dos aparelhos de repressão e de distribuição das prebendas e sei que as modas passam de moda e só tem aparência de novo aquilo que se esqueceu. Robespierres em latas de conserva são susceptíveis de apreensão pela ASAE...