a Sobre o tempo que passa: Pedimos desculpa por esta interrupção, o programa do mais do mesmo, afinal, pode continuar dentro de momentos...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

30.9.07

Pedimos desculpa por esta interrupção, o programa do mais do mesmo, afinal, pode continuar dentro de momentos...



As eleições directas do PSD suscitaram imensos prognósticos depois do apito final dos que não gostam de correr o risco de voltar a repetir os comentários que fizeram antes da mudança. Por mim, corri o risco de aceitar o desafio de vários órgãos da comunicação social e posso repetir à saciedade o que disse antes da mudança. O que comentei para os jornais Meia Hora, Diário de Notícias e Expresso está disponível, bem como o balanço final que fiz no sábado, para a SIC-Notícias, na revista de imprensa.






Disse ao DN: "As directas têm pelo menos a vantagem de permitir uma fotografia exacta do partido. Dessa fotografia ficará a perceber-se que o PSD ficou reduzido a uma federação de caciques e notáveis locais. As bases são uma federação de bolsas de caciques. O partido esvaziou-se em boa parte da sua função. E num partido que não tem função todos ralham e ninguém tem razão. Os principais culpados são os senadores do PSD que lavaram as mãos como Pilatos."






O diagnóstico é feito por José Adelino Maltez. Este professor catedrático de Ciência Política e observador atento da vida interna dos partidos, considera que, apesar da crise, não existe o perigo de uma cisão nos sociais-democratas: "Pode haver ameaças, mas não passa disso. Santana Lopes também andou a ameaçar e não avançou. Porque nenhum deles existe fora do contexto, fora do aparelhismo, nenhum deles existe sem estar naquele sítio.






"A situação interna não é animadora. Mas, segundo Adelino Maltez, o PSD "sempre se habituou" a viver em crise. Na sua opinião, não existem dois partidos dentro deste partido. "Há é uns que se puseram em bicos de pés e uma imensa maioria que se pôs de pé atrás. Quem for agora o líder, será sempre de transição."Há grandes diferenças entre Mendes e Menezes? "Luís Filipe Menezes é um populista com uma agência de comunicação profissionalizada, que lhe faz o discurso. Marques Mendes é um populista artesanal. Ambos são claramente populistas, mas estão ainda na fase pré-populista, que é a demagogia. O populismo implica um actor aceite pelas massas, com um mínimo de carisma. Implica uma certa atracção e uma relação directa com o eleitorado", sublinha Maltez.






Já ao Expresso, salientei: A Democracia exige espaços de diálogo, de consensos, mas em Portugal não temos uma tradição de institucionalização de conflitos... cá é tudo ou nada, numa lógica de amigo/inimigo". Consequência: destes conflitos resultam sucessivas dissidências, os partidos empobrecem, as lideranças enfraquecem, as segundas linhas desaparecem... Antes disto, o PSD estava uma pasmaceira, agora, exteriorizou uma crise que estava latente. Não sabemos no que isto vai dar, mas o PSD vai voltar a discutir política.






Para os que não conhecem estes processos comentaristas, resta dizer que as frases publicadas são retiradas de conversas telefónicas com os jornalistas em causa, os quais seleccionam, quase sempre bem, o que consideram mais relevante. Outro é o processo de intervenção directa na televisão, onde o próprio não o consegue resumir. Sirvo-me da reportagem blogueira que fez o meu amigo e companheiro Rui Matos, mas sempre acrescento o paralelo que fiz com o modelo espanhol, onde o filósofo Savater procura constituir um novo partido com dissidentes do PSOE e do PP e movimentos da sociedade civil, contra o nacionalismo e o clericalismo, enquanto, por cá, um professor de marketing semeia um partido-laboratório pela internet.






Reparo agora que neste país dito de doidos, neste pobre país, o nosso, onde o PS e o PSD são duas faces da mesma moeda do Bloco Central, surgiu agora um actor à procura de guião, coisa que um dos principais representantes do situacionismo, Soares, já qualificou como uma desgraça, esquecendo-se do apoio que deu ao monteirismo, só porque estamos perante alguma coisa que vai além do Tino de Rans, de Fátima Felgueiras, de Valentim Loureiro, de Alberto João Jardim ou de Isaltino de Morais e que constitui uma consequência da chegada ao poder de Paula Teixeira da Cruz. O que significa que pode começar a derrocada deste modelo de fidalgotes e gerontes, misturados nas curiosas comissões de honra, com que os senadores e notáveis tentam controlar ou proibir as directas, reservando a crítica para as graçolas do Gato Fedorento ou dos bonecos do Contra-Informação e não confundindo os silêncios sobre a Birmânia com os apoios a Hugo Chávez. Pedimos desculpa por esta interrupção, o programa do mais do mesmo, afinal, pode continuar dentro de momentos...






PS: Deixo imagem que o Rui Matos me enviou...