a Sobre o tempo que passa: As andorinhas que não trazem a primavera...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

15.2.08

As andorinhas que não trazem a primavera...


Totalmente mobilizado pela revisão de mais um livro que vai entrar no prelo e com intensos trabalhos académicos, desde arguições ao normal da análise das provas de frequência de caloiros, tem-se ressentido o blogue, mas não a observação das presentes circunstâncias, como transparece dos comentários que me têm sido solicitados pela comunicação social, alertada pela mudança dos planos de "agenda setting" do situacionismo governamental, onde as andorinhas da remodelação fingem que chegou a primavera, depois da ofensiva da propaganda de Menezes que, aliás, começa a ser repetitiva nos seus tiros de pólvora ressequida.


Cada vez mais me convenço que parte significativa do tal eleitorado flutuante que vai votando PS e PSD é capaz de não dar a maioria absoluta a nenhum dos figurantes deste Bloco Central, desta pilotagem automática de uma governação sem governo, típica daqueles países onde a maioria dos factores de poder já não é nacional e onde a independência é crescentemente uma gestão de dependências e de interdependências. A encruzilhada em que tropeçámos, onde a decadência rima com certos recortes de ditadura da incompetência, não vai ser vítima de qualquer implosão social, mas antes de uma qualquer crise importada do ambiente internacional onde nos inserimos, donde também nos virá uma eventual regeneração moral.


Daí que muitos cidadãos estejam mais interessados nos meandros da campanha eleitoral norte-americana do que nos discursos anti-corrupção de Pedro Santana Lopes e de Paulo Portas, assim se confirmando como dependemos dos balanços que acontecem na república imperial, quando deveríamos pensar na dita, mais na perspectiva do interesses mundiais, europeus e portugueses. Por mim, que não sou norte-americano, bem gostaria que deixasse de haver uma superpotência que confunde os respectivos interesses nacionais com os interesses mundiais, com autenticidade ingénua, e que se começasse uma transição não isolacionista.


Por cá, sinto que nos enredamos na falta de sinais de mobilização para o bem comum e não vejo brumas de regeneração, dado que os discursos do bastonário e do general, infelizmente, apenas têm uma dimensão meramente pedagógica. Não são causas são meras consequências, tal como também não têm dimensões terapêuticas, dado que apenas contribuem para uma eventual liga de profilaxia social...