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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

12.2.08

Contra os "grandes interesses" e o "centrão dos interesses", que alimentam as negociatas e, às vezes, as roubalheiras...


Porque estava totalmente mobilizado para tarefas académicas, fechado sobre uma dissertação e sobre o tempo mental em que tinha que viver, não li nem ouvi notícias. Só ontem, no comboio, de regresso a Lisboa é que me deram novas sobre Timor, apercebendo-me como, vivendo no tempo que passa, me posso abstrair de certas circunstâncias e não ouvir, não ver nem ler. Por isso, compreendo algumas afirmações que os jornais de hoje reproduzem. Com João César das Neves, fiquei a saber que o PS tem uma de três escolhas: poder ser " socialista, reformador ou sequer maçon", mas que Sócrates fugiu do esquema e "é só corporativo". Pobres socialistas, nem com Guterres lhe deram alternativa para também poder ser "católico"...


Com o artigo de Mário Soares no DN, debruçado sobre a intervenções de um general e de um bastonário, tudo se me iluminou: a culpa é do sistema neoliberal, que está esgotado, ... Só passarão, quando e se os Estados Unidos, após as próximas eleições presidenciais, mudarem radicalmente de política... O ano 2008 não vai ser fácil. Nem para a Europa nem, consequentemente, para Portugal. Não são de esperar grandes melhorias. Não dependem de nós. Mas o que está na nossa mão é evitar que as desigualdades sociais se agravem e que o Estado se mostre implacável relativamente aos mais desfavorecidos e dê a impressão de ser complacente perante os "grandes interesses" e o "centrão dos interesses", que alimentam as negociatas e, às vezes, as roubalheiras...


Já o general Leandro volta à carga: Há um grupo, uma elite dominante que controla a componente político-partidária e económica que vive noutro País e com rendimentos, benefícios e mordomias que não têm nada a ver com a grande maioria da população... Há novos partidos que estão a tentar organizar-se. Eu já fui contactado por dois. Além de vir a existir o eventual novo partido do doutor Manuel Alegre.


Por isso, recordo comentadores de palavra fácil que se soltaram nas opiniões televisivas das nossas febres de sábado à noite e logo reparo como permanecem os fantasmas de direita e os complexos de esquerda nalguns pretensos intelectuais da burguesia capitaleira. Uma deles até transformou capitães de Abril em alferes do 28 de Maio, indo além da sua chinela de brilhante escritora que, afinal, ao querer levar a sua carta a Garcia, confundiu o Leandro com o Santos, esquecendo-se que este não é apenas o da Junta Autónoma das Estradas, mas também o do quartel da Pontinha.
Outro, de quem não tive tempo para ligar a cara ao nome, comentando as eleições norte-americanas, decidiu insultar Eanes, para elogiar Soares, dizendo que este último era viajado e que o primeiro era um grunho provinciano por ainda falar à maneira de Alcains, talvez sem saber que ele passou grande parte da sua vida activa entre Macau e África, acabando doutorado, sem ser "honoris causa", por Navarra.


Apenas concluo como, trinta e picos anos depois , os eternos clérigos, a partir dos seus novos púlpitos, brincam à demagogia, sem o mínimo de "docta ignorantia", decretando que "todo o mundo" é "o ninguém" das suas próprias opiniões que, afinal, não têm a humildade desse esforço assente na comunhão dos que pensam de forma racional e justa e preferem o conhecimento modesto sobre coisas supremas, em vez do conhecimento supremo sobre banalidades das noites da má língua.
E assim dominam os pretensos antidogmáticos carregados de neodogmatismo e os pretensos tolerantes prenhes de antitolerância e até de racismo social, só porque confundem a luta de classes na teoria com a velha luta de invejas. E quase todos reconhecem que as velhas nações da velha Europa estão dependentes da campanha eleitoral que grassa na república imperial, acreditando no D. Sebastião Obama ou no sucedâneo da Hilária. Por mim, diz-me a história, que, no dia seguinte, pode acontecer novo desembarque frustrado na Baía dos Porcos ou a "tarefa-força" de uma "Blitzkrieg" no neovietname, como diz um guru kissingeriano e talleyrandista que por aí nos lobiza...