a Sobre o tempo que passa: A alegre teoria do oásis, revisitada

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

5.5.08

A alegre teoria do oásis, revisitada


Mais uma semana a caminho do Verão. Neste tempo de vésperas, antes da candidatura de Pedro Santana Lopes, antes de chegarmos ao dia comemorativo da capitulação nazi, antes até de mais um dia da Europa. Acordo com notícias sobre mais um relatório da OCDE, corrigindo a teoria do oásis, com que os governantes do nosso Bloco Central nos conseguem iludir. Reparo agora como as taxas de desemprego têm sido corrigidas com a continuação da nossa emigração, à procura, noutras partidas, de emprego estrutural e de direito à felicidade. Eu próprio o confirmo, com um dos meus filhos, farto de recibos verdes, que procurou noutras paragens a sua realização profissional como trabalhador científico, daquelas ciências que até fazem parte do conceito de ciência do senhor ministro da ciência. Eu próprio reparo como também me apetecia ser emigrante, longe desta decadência de senhores da guerra, fazendo manipulações nas respectivas redes de influência, até no mundo da ciência e da universidade.


Infelizmente, não posso exercer o meu direito à revolta como militante do PSD. Porque, se o fosse, votaria exactamente contra os manipuladores do sistema. Os tais que querem criar uma direita que convenha ao presente situacionismo que, só por acaso, é governamentalmente gerido por um governo formalmente de esquerda. Porque, de tanto comemorativismo sobre o Maio 68 e o Abril 74, alguns não reparam que continuam a triunfar os mesmos donos do poder que manipulavam os salões da sociedade de corte salazarenta. No fim desta primeira década do século XXI, basta um pequeno estudo sobre a rede de influências conseguida por alguns ex-ministros de Salazar e de deputados do marcelismo, para repararmos como tem êxito a mesma tecnologia feudal contra a qual se revoltaram muitos revolucionários de Maio e de Abril.


Condenado, por enquanto, a não poder dar o meu testemunho com pormenores, prometo que, quando a lei mo permitir, irei revelar alguns dos meandros desse assalto clandestino dos mesmos figurões de sempre, através de causas que ainda não são casos, nem causas, mas que usam dos mesmos processos vérmicos de condicionamento inquisitorial e neopidesco, comprimindo a liberdade de expressão e perseguindo sem qualquer disfarce. Por isso, confirmo a parangona de uma ONG britânica: a nossa democracia, em termos de qualidade de participação cívica, é das piores da Europa.