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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

14.6.08

O situacionismo prestes a trocar o mundo da realidade virtual das cruzadas contra as heresias, pelas notícias reais, vindas da Irlanda


Tentando interpretar as razões do "não" irlandês, andei pelo "Youtube" e consegui detectar a causa, notando esta intervenção de um militante do "Sinnfein", bem como a réplica que o situacionismo lhe deu. Passei, em seguida, para um velho lutador contra o sistema soviético, e decidi continuar a resistir. No intervalo, encontro um velho companheiro de trabalho, numa das esquinas da vida. Comecei a labutar com ele, praticamente na mesma semana, na mesmíssima carreira da função pública e em idêntica universidade. Eu lá fiz o "cursus honorum", degrau a degrau, enquanto ele decidiu gerir as amizades e viajou nos aviões da cunha até à burocracia europeia, apenas aterrando há pouco tempo nestes restos de pátria madrasta, mas ornado de reforma antecipada e com muito mais salário para não fazer nada do que aquele que recebe um catedático lusitano no activo. Está à espera de entrar num desses cartórios de tráfico de influências e consultadoria, como o fizeram os respectivos patrocinadores que dizem mal de Medina Carreira. E eu a ter que aturar os gestores de administração escolar, os doutorados em educacionês e os controladores das verbas a que chamam investigação científica que só publicam os "papers" dos amigalhaços, censurando jovens geniais que não se submetam aos ditadores do carreirismo.


Daí não estranhar a primeira conferência de imprensa que nos deu a Drª Manuela Ferreira Leite, onde foi usada a mesma máscara do choque tecnológico com que o primeiro-ministro costuma viajar pelo mundo virtual do porreiro pá. Ela, que esteve caladinha durante o "happenning" dos camionistas, talvez por causa do Patinha Antão, veio, agora, pedir a declaração de estado de emergência europeísta, recordando-nos que foi ministra de Barroso e assessora de Cavaco, quando este era bom aluno da versão bismarckiana e habsburga da comissão europeia. Por outras palavras, o PSD interrompeu a sua breve travessia do deserto para se assumir como porta-voz da secção portuguesa dessa multinacional chamada PPE, usando um discurso que, certamente, não foi inspirado pelo "blogue do não" de José Pacheco Pereira nem pelo poema de Alegre ao manuelinho de évora, contra os ministros do reino, por vontade estranha.


Ao mostrar-se formal continuadora das posições de Luís Filipe Menezes durante o cerimonial do Mar da Palha, também repetiu o discurso de Pedro Santana Lopes sobre a matéria, e talvez tenha anunciado o futuro deste sistema de Bloco Central: um governo de salvação pública, em coligação com o PS de José Sócrates, com a eventual junção de esforços do PS e do PSD numa candidatura presidencial comum, que bem pode passar pela recandidatura de Cavaco ou pela reforma dourada de Durão. Os portugueses do "não", longe dos partidos, dos patronais que fazem actas de reunião com o Mário Lino, dos sindicalistas do sistema e da própria Santa Madre, percebem o "vira o disco e toca o mesmo". Julgo que tudo poderia ser resolvido se o enferrujado Bloco Central lusitano se oferecesse para uma campanha de dinamização cultural, ou de cruzada, contra as trevas dos dissidentes e heréticos irlandeses, controlados pelo IRA. Por mim, sugiro que para lá fossem remetidos todos os militantes do novo nacional-porreirismo, como o Sócrates e a Manela, vestidos pela síntese de Isabel Meireles e Teresa de Sousa, com uns pareceres dos Professores Fausto de Quadros e Diogo Freitas do Amaral, iguais aos que eles deram ao Casino do Estoril. E como eles gostam de homilias, também poderíamos traduzir em gaélico as prédicas dominicais do sempre católico Marcelo Rebelo de Sousa e os acrescentos de segunda-feira do antigo comissário António Vitorino, esse que tem fama de agnóstico, mas que já está ungido com uma recente entrada como professor da universidade católica. Sugiro o Vitalino Canas para porta-voz, que sempre reconheceu que a coisa não foi supresa e lá vê mais um mercado para a sua provedoria do trabalho temporário...


Por mim, prefiro seguir a explicação templária do "não" da Irlanda: nunca deviam ter acabado o diabólico referendo numa sexta-feira, dia treze. Foi no ano de 1307, numa sexta-feira, dia 13 de Outubro, que Filipe, o Belo, nos mandou prender, acusando-nos de heresia e de outros vícios anti-situacionistas. Setecentos anos depois, as tradições situacionistas continuam e tudo se resolveria com mais um auto de fé, fazendo tostar na praça pública todos os que divulgam os videos de Medina Carreira e de Bukovski, contra os amanhãs que cantam desta burocracia bruxelense, onde os mais assanhados dos defensores do falso quinto império são capitaneados pelos filhos da inquisição, pelos fascistas mal reciclados e pelos maoístas e estalinistas deficientemente convertidos à democracia pluralista e ao Estado de Direito, mas que agora são os primeiros dos torquemadas contra os doidinhos como eu, que continuam a clamar por revolta no largo das alterações.
PS: Deixo, como inspiração, a imagem de Sócrates, prestes a viajar com o VR1280, na VI Cruzada de luta contra os infiéis anti-europeístas, esquecidos das pregações dominicanas do PPE e do PSE, contra os cátaros...