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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

17.7.08

Esta mentalidade de conspiração de avós e netos, onde os netos até podem ser os avós, porque a idade é um estado de espírito ...


Depois de mais um lote imenso de testes e de duas ou três teses e relatórios, lá voltei a passar os pés pela escola, para participar numa arguição de um doutoramento de uma jovem especialista em wahaabismo. Ao menos, na chamada banca, ainda podemos ser homens livres, sobretudo quando reconhecemos a passagem do testemunho para uma nova geração, num sítio onde a influência da casta dos gestores e directores, apenas consegue vingar propostas de certos júris, os tais que, num país da nossa dimensão deveriam ser efectivamente nacionais, para que se tornassem realmente públicos, sem a privatização da cunha, da pressão e do interesse. Eu, pelo menos, bem gostaria de poder retirar da emigração uma dezena de antigos alunos meus que concluíram os respectivos doutoramentos nas melhores universidades europeias, mas que, por cá, não têm igualdade de oportunidades, a não ser que metam cunha ao partido ou à facção dos senhores directores e das respectivas endogamias, onde os apoiantes acabam sempre por ser mais iguais do que outros e os dissidentes passam para o ostracismo.


Ai do nosso querido país se entra em vigor, a nível da universidade, o modelo de gestão da conspiração de avós e netos que certos gestores do regime lançaram, com elogios públicos, noutras secções estadualizadas da pracificação socrática. Um deles, bastante elogiado, ele que já anda pelos setenta ou oitenta, não sei se com resolução especial do conselho de ministros para o cúmulo remunerativo, tratou de despedir pela reforma todos os que tinham mais de cinquenta, para mostrar como se rejuvenesceu o campo estatístico que passou a ser capítulo do respectivo currículo, assim se livrando dessa cedência ao velho conceito do dever geral de conselho, só porque entende que a majestade não se coaduna com o pré-absolutismo de ser um mero "primus inter pares".


E lá tive que passear entre wahaabitas, lembrando que também houve almóhadas, almorávidas, sufis de Mértola em revolta, Averróis, Avicena, Ibn Khaldun, Maimónides e a cristianização de Aristóteles por São Tomás de Aquino, trazida pelos mesmos mouros, quando o Mediterrâneo ainda era mar interior onde navegavam as ideias das gentes das religiões do mesmo livro. Infelizmente, quando alguns ainda pensam, muito gnosticamente, que vivemos na modernidade do deicídio, esquecemo-nos de ler Roger Garaudy e não reparamos na proposta que, há tempos, Habermas lançou sobre a necessidade de uma nova era pós-secular.


Agradeço às circunstâncias de uma arguição de doutoramento, esta hipótese de poder pensar em público na minha escola, dado que apenas mo permitem nos blogues, ou nos colóquios que outras universidades e a sociedade civil me propiciam, só porque não meti os papéis para o centro de investigação em vigor, especializado na engenharia de financiamentos da FCT e doutamente dirigido pelo senhor director e pela mentalidade de conspiração de avós e netos, onde os netos até podem ser os avós, porque a idade é um estado de espírito, sobretudo em terras onde deveria haver liberdade de espírito e não caçadores de heresias, de que continuam a ser vítimas os herdeiros do arianismo, do priscilianismo, dos sufis de Mértola ou desses eternos cristãos novos, sem limpeza de sangue, entre os quais me incluo.
PS: Para os devidos efeitos, aconselho o meu inquisidor sobre os limites da liberdade de expressão a não confundir a figura acima com Bin Laden ou com a capa de uma revista nova-iorquina sobre o Obama. Mais acrescento que, ontem, quando fui de camisa negra e barba esbranquiçada por aparar, estava mesmo a querer confundir-me com os tais que se detectaram na Europa Ocidental no ano de 1418. Os zíngaros, a que chamamos ciganos, que vieram da Índia, trazidos por Tamerlão. Em 1417 já estão na Moldávia e na Valáquia. Detectam-se na Itália no ano de 1422 e em França, em 1427. Os suecos chamaram-lhes tártaros, os ingleses, gipsies, ou egípcios, tal como os Húngaros; para os holandeses são heidenen, ou idólatras; para os árabes, arami, ou ladrões. Em espanhol, gitanos, ou maliciosos...