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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

12.8.08

As dores da Ibéria Oriental (Kartvelos) e o arreganhar da dentuça de uma nova república imperial


As novas falam no conflito quente da nova guerra que deixou de ser fria, lá para as bandas da Geórgia e da Ossétia. Os comentadores de política internacional, especialistas em oleodutos, galpes e venezuelas, vão traduzindo em calão os oficiosos busheiros e europeístas. De pouco lhes interessa que tenha havido um Pharnavaz (302/237 antes de Cristo), o primeiro rei de uma Geórgia, então dita Ibéria caucasiana ou oriental, pelos antigos gregos. Para quê falar num Bagrat III que restaurou a monarquia na mesma Ibéria oriental, ou caucasiana (980-1014)? Que interessa os Ossetas, fugidos das invasões de Alanos e Khazares, colocados sob a tutela dos Tártaros no século XIII, e apenas submetidos á Rússia com Catarina II?


Não sei qual o pretexto das invasões e contra-invasões. Ouvi o João Soares que conhece o terrenos e os meandros políticos das causas e não posso deixar de reparar que nos faz falta uma política europeia para as relações com a Rússia, nesta fase em que Moscovo ensaia o seu regresso ao estatuto de República Imperial, tão república e tão imperial quanto Washington que assim deixa a solidão de única superpotência. As brincadeiras diplomáticas do Kosovo e o desastre da intervenção no Iraque criaram um ambiente propício a estas entradas de leão dos herdeiros do imperial-comunismo de Moscovo, enquanto o outro império, ainda formalmente comunista, nos dá espectáculo de política desportiva.


As nações frustradas, que ficaram séculos sob essa prisão de povos que era a Rússia dos czares e dos estalinistas, precisam de tempo para que possa desabrochar um modelo que não pode seguir retroactivamente as passadas de Jean Bodin e de Tomas Hobbes, refazendo retroactivamente Estados Modernos e Soberanos, de acordo com a velha lei da selva da política internacional, onde os Estados são lobos de outros Estados e não os bons selvagens dos comentários eleitorais da democracia-espectáculo, com que se deliciam os chamados observadores internacionais.