Férias são mesmo férias
Abalo na coabitação, um cisma entre a presidência e o Governo cujo desfecho ninguém consegue antever? "Não é pelo facto de se exercerem os poderes constitucionais que se verificará qualquer inversão estratégica. O que me parece é que o veto reflecte um confronto de concepções do mundo e da vida", afirma Adelino Maltês, assinalando que, pela primeira vez, um Presidente da República "tem um intervencionismo moral". "Infelizmente, é o regresso ao discurso do patriarca", afirma o politólogo, assinalando que enquanto "o agnóstico Mário Soares não defendeu posições laicistas, Cavaco está a ser um Presidente católico".
Como adverte Adelino Maltês, há equilíbrios difíceis de gerir a um ano de todas as eleições: "Se o PS continuar a conciliar, corre o risco de perder para o BE e o PCP, que nas últimas sondagens já somavam 20 por cento das intenções de voto. Se não ceder, também pode ofender o centro, católico". A juntar a isso, deixa uma outra observação, aquilo que designa como "coincidência táctica" entre a posição do Presidente e as declarações de Manuela Ferreira Leite, que manifestou publicamente a sua oposição à nova lei do divórcio. "Há uma ligação com a intervenção presidencial", diz.
No dia 19 Agosto 2008 foi o Discurso directo do Correio da Manhã: “Alberto João Jardim está arrependido”.
Correio da Manhã – Há espaço em Portugal para um partido social federalista como propõe Alberto João Jardim?
Adelino Maltez – Acho que isto traduz um arrependimento do dr. Alberto João Jardim, porque no referendo sobre a criação de regiões no Continente ele foi contra. Agora, arrependeu-se e passou outra vez a ser regionalista para os outros. Até aqui era só regionalista para ele. Quer construir um partido regionalista, federativo, mas os que são regionalistas no Continente não se esquecem disso. É curioso que o dr. João Jardim se diz girondino contra os jacobinos, mas na Revolução Francesa os revolucionários girondinos eram quase todos maçons. Ele quer fazer, portanto, o regresso aos girondinos com a Doutrina Social da Igreja Católica. É interessante esta mistura. O dr. Jardim é um bom político, está bem informado e aproveita esta informação e introduz aqui uma confusão. É tão confuso que tem a dimensão de provocador.
– É uma forma encapotada de recuperar o tempo perdido na corrida à liderança do PSD?
– Para a História, o dr. Alberto João Jardim não vai ficar como apoiante ou adversário da dr.ª Manuela Ferreira Leite. Vai ficar como líder autonomista da Madeira. Neste momento, ele trabalha para a História. Esta hipótese de trabalho, de criação de um movimento, não é pelo Alberto João Jardim que vai lá. Isto é mais um movimento interpartidário do que propriamente um partido. Que existe em todos os partidos.
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