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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

13.12.08

Nesses caminhos de aborígenes, cheios de muitos sinais sagrados e a casa das corujas onde nasceu quem somos, para sempre


Aqui, diante do Ataúro, com a tribal descendência em vagamundo, com um em Delaware, outra em São Miguel e a terceira, entre Paris, Madrid e uma plataforma petrolífera do Mar do Norte, e para ajudar os pequenos agentes pidescos que nos procuram identificar com estrelas amarelas e ainda nos põem como descendentes do capitão da polícia de choque, apenas confirmo que os nossos avoengos, do patronímico, vieram todos dos moinhos da Ribeira e da Barroca, lá dos campos de Cernache e Vila Pouca, talvez oriundos da ilha do mar interior donde todos partimos, aqui vos deixo, gente da família, um primeiro inventário de nossa plebeia labuta à procura do abraço armilar. Porque poucos sabem dos trilhos que nos levavam às terras das Rodas ou do Cimo do Olival, nesses carreiros feitos com pés descalços, onde conhecíamos as árvores quase pelo nome e sabíamos das curvas da ribeira e dos silvados, quando minha avó me lavava às cavalitas, nesses caminhos de aborígenes, cheios de muitos sinais sagrados, onde se guardam os espíritos dos antepassados, entre alminhas, cruzeiros, eiras, moinhos e a casa das corujas onde nasceu quem somos, para sempre, porque sempre havemos de regressar, mesmo sem querermos e sem que a semente tivesse vivido em árvore que me desse a sombra eterna lá diante do Olho Marinho. Apenas quero ser do pó eterno, que o fogo atiça, e cinza a cinza que me espalhem no Atlântico que Mateus Álvares olhou em sonho, como o gavião com que me metaforizo. No dia 19, em Mafra, as gentes da Ericeira vão lançar em livro um pedaço de uma das minhas profecias, a propósito de 1808. Mesmo aqui, por lá serei, também.

PS: consta que o dantas, ex-ministro e tudo, continua como cadáver adiado, procriando condecorados saneamentos, através daquilo que, no direito não público, se chama assédio laboral, contra todos(as) (os)(as) mal-amad(os)(as), dissidentes e quejandos(as). Consta também que há revolucionários(as) sindicalistas que se compraram e que, à boa maneira do ti estaline, passaram para agentes torquemadas, queimando os gulagueiros, em assassinatos de carácter, em troca de uns degraus acima na engrenagem macacal. O dantas gosta de dizer que foi, ou esteve para ser, ministro da educação, com um pé no regime do pretérito e do presente, ou outro pé no outro, o do presente ou o do futuro. Com um pé no primeiro pê do bloco central e outro pé no outro pê. Com um adjunto num dos lados da barricada, cheirando a cultura, e outro, no sofá da banca, cheirando a tecnocrata. Porque só em Portugal, onde não há corrupção, é que os banqueiros não são terroristas, mas simples bancários com as pretensões do poetastro. Para que se confirme, do devorismo, o dito de proudhon sobre a propriedade ser um roubo, onde quem não mama não mama. Dizem que nos vamos ver livres do mais velho dos dantas ainda antes do fim do ano. Como se o dantas não se tivesse frutificado pela parasitagem que não lhe foi dada pela árvore do paraíso, mas pelo bichinho que devora as bagas ainda verdes e pedófilas e, depois, as expele além da tripa como carnes flácidas de velha espatifada. Ele, dantas, não se importava que o coiso mudasse de política, desde que o coiso lhe desse outro ministério, como pediu. Aliás, o dantas chegou a convidar o coiso para padrinho de casório, mas já o dito, em dita, estava a dar o badagaio. Agora, vingou-se em chateza, tentando dar aos outros o epitáfio dele próprio. Amen.  Que o dantas enfie a carapuça e que o Júlio Dantas me perdoe. Nada é com ele.